16 de nov. de 2009

Milk - A Voz da Igualdade

Milk. EUA, 2009, 128 minutos. Drama.
Indicado a 8 Academy Awards e ganhador nas categorias Melhor Ator (Sean Penn) e Melhor Roteiro Original.
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Gus Vus Sant, cujo trabalho inclui outras boas obras como Elefante, nos apresenta com competência a história de Harvey Milk, o primeiro homossexual a ocupar um cargo público por votação direta. O título original, infelizmente, recebeu o péssimo acréscimo de um subtítulo, como usualmente acontece no Brasil; não sei se isso me desagrada ou agrada, afinal, poderiam ter traduzido e eu talvez assistisse Leite em vez Milk - A Voz da Liberdade. Encabeçado por Sean Penn, o elenco conta com uma variedade um tanto assustadora de atores, que inclui James Franco, de Homem Aranha, que para mim foi uma adorável revelação; Emile Hirsch, de Na Natureza Selvagem; Josh Brolin, de Onde os Fracos Não Têm Vez; até mesmo Lucas Gabreel, o Ryan, de High School Musical, está presente no elenco.

Acredito realmente que o filme funciona como uma ótima cinebiografia, mas, de um modo geral, foi superestimado, já que não há motivos para tantas indicações. Com exceção do ritmo lento a que somos apresentados, o filme não tem muitos erros; eu quase diria que eles quase não são vistos, de tão pequenos que são. Ainda assim, foi recepcionado com mais fervor do que talvez mereça, uma vez que, principalmente no quesito atuação, as duas indicações que recebeu não estão bem embasadas. Sean Penn é um ator com o qual eu simplesmente não consigo me identificar; tenho sempre a impressão de que sua expressão é a mesma em todos os filmes e que sempre ele se interpreta, pois está sempre igual. Milk lhe rendeu seu segundo Oscar, mas acredito que somente consegui gostar levemente do seu personagem graças aos outros que dão suporte a ele e que infelizmente têm destaque ínfimo. Como disse acima, minha surpresa se deve à presença - e logicamente à atuação - de James Franco, cujo personagem é extremamente carismático e nós acabamos gostando mais dele do que do protagonista. Nas cenas iniciais, a interação entre Penn e Franco é tamanha que não pude deixar de crer que eles realmente fossem um casal, porque há todo o clima certo para que possamos depreender que a afinidade entre os seus personagens é imensa. Josh Brolin está no nível de todos os outros coadjuvantes e por isso não compreendi o porquê de sua indicação ao prêmio, já que não há um aspecto muito claro acerca do que o difere de quaisquer outros atores. Sua presença no final marca importância e o ator segue numa atuação estável, sem deixar a desejar, mas ainda assim ele não se destaca suficientemente. O intérprete de Cleve Jones, Emile Hirsch, é bastante convincente como gay; não participa de maneira fantástico da obra, mas está presente nos momentos mais adequados e certamente auxilia para a boa condução da cena.

Algo que a princípio me causou estranheza é o excesso de trejeitos homossexuais em alguns momentos. Não é preconceito de minha parte - apenas uma falta de costume. Nos outros filmes a que já assisti, cujo tema central é a homossexualidade, não vi características tão óbvias que pudesse definir como gay um personagem. Não posso, no entanto, deixar de considerar que em Meninos Não Choram e O Segredo de Brokeback Mountain, por exemplo, os desejos sexuais são encobertos devido à pressão que a sociedade exerce e, embora aqui também haja pressão, Milk e seus companheiros partidários são mais livres para expor-se e isso talvez permita que os trejeitos aflorem com mais facilidade. Ainda levando isso em consideração, achei um pouco caricata a primeira aparição de Cleve, entre outros gays que surgem ao longo da trama. Em compensação, um dos grandes feitos do filme, assim como acontece nos que estão linkados acima, é a capacidade de mostrar cenas que podem afugentar olhos mais conservadores sem que haja vulgaridad; assim, os mesmos olhos que resistiram à cena, acabam cedendo a ela. Um bom exemplo, é a cena inicial, na qual Milk e Scott, personagem de Franco,estão na cama a brincar em relação ao que acabara de acontecer entre os dois - leia-se sexo - e a cena é tão gentil que percebemos o carinho existente entre os dois e não resta a ninguém a possibilidade de recriminá-los.

Eu realmente acho que Milk seja agradável para aqueles que gostem de cinebiografias e que se entretenham com histórias documentadas, como é essa produção. Gus Vus Sant realizou um ótimo trabalho atrás das câmeras, numa direção realmente espetacular. O filme, porém, é meio longo e, como eu disse, o seu ritmo é lento; isso me deu a impressão de já estar a três horas assistindo a algo que parece não querer acabar. Eu realmente não daria a Sean Penn o prêmio por essa atuação, mas, como eu não entendo bem os quesitos da Academia - ou talvez seja apenas implicância minha com o ator -, vou me abster de criticar a decisão que foi tomada.
Luís
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Milk - A Voz da Igualdade, como a grande maioria dos filmes, tem pontos positivos e negativos e se sobressai por ter mais pontos a favor do que contra, mas, depois de assisti-lo, realmente achei um filme sobre valorizado.

Vamos aos prós. A atuação de Sean Penn é muito boa, e com certeza valia a indicação, embora ainda ache que Mickey Rourke foi melhor em O Lutador. Seu personagem, Milk, é um ativista gay que luta por direitos iguais nos EUA dos anos 70. Ainda sobre a atuação, Penn tem todos os trejeitos de um gay afetado, mas mesmo assim esbanja masculinidade na hora de tratar sobre os assuntos que são de interesses para os gays. Josh Brolin como Dan White também está bem, embora esteja mil vezes melhor em Onde os Fracos não tem vez e ainda acho que a indicação de Melhor Ator Coadjuvante deveria ter sido dada ao seu companheiro de cena James Franco, o Scott, e mais conhecido no cinema como o filho do Duende Verde de Homem Aranha. Aliás, Dan e Scott são personagens interessantes nesse longa. Scott está presente na primeira metade do filme, fazendo um belo casal (melhor que muitos casais "normais" do cinema) com Milk e o apóia em sua luta para entrar na política, e quando Milk consegue esse feito, Scott sai de cena rapidamente dando lugar a Dan que mostra mais o lado político, juntamente com Harvey, do enredo.

Outro ponto bom do filme foi à capacidade do diretor de mesclar bem a causa homossexual com a política sem fazer com que o filme se tornasse um apelo a causa gay, mas também não o exagero no quesito política, ou seja, o filme é bem dosado. Há também o figurino que reconstrói com muita clareza a época em que os fatos ocorreram.

Agora, vamos aos contras. Se há um prêmio que Milk - A Voz da Igualdade não merecia, era o de Melhor Roteiro Original e isso fica mais claro quando vemos o seu maior concorrente: o belíssimo "Rio Congelado". O enredo é meio parado e tem aquele tom de documentário que faz os 128 minutos de filme parecem, por vezes, muito mais que isso. Durante o longa, falta um pouco de emotividade, não que não haja, mas há pouco. [SPOILER] Alguns poderão citar a cena em que Milk acha Jack enforcado com aquele bilhete muito macabro, mas poucas vezes vi um personagem tão chato quanto ele e fiquei internamente feliz pela possibilidade de Scott e Milk reatarem [FIM DO SPOILER].

No final, Milk - A Voz da Igualdade se passa como recomendável, pois há boas características no filme, (em especial a atuação de Sean Penn), mas friso novamente que nem tudo são rosas no filme.
Renan

11 opiniões:

Roberto Simões disse...

Acho que em geral não estou de acordo com ambos. MILK é, todo ele, um triunfo sensível, delicado e de muito bom gosto. Gus Van Sant eleva com subtileza e inconfundível mestria este biopic de pura essência a um patamar inegavelmente superior.
As nomeações aos prémios da Academia só revelam que foi estimado pela qualidade que tem. Se ganhasse, por exemplo, o Óscar de Melhor Filme concordaria que tinha sido sobrestimado pela Academia. Mas não ganhou.

Um clássico instantâneo, esteticamente genuino, agistralmente bem feito.

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD - A Estrada do Cinema

Carol Dayane disse...

Eu achava que o filme ia ser mais mas gostei dele. Achei meio lento mesmo, mas tudo é bem feito.
Seann Penn é nota 10! =D

Cristiano Contreiras disse...

Bom, vamos por partes:

- É claro e notório a implicância estranha e veemente de Luis em relação ao Sean Penn, portanto: sempre vai falar mal dele, sempre vai detoná-lo, ainda que sutilmente, rs.

Como pode achar Sean Penn péssimo e dizer que ele tem as mesmas expressões? O cara é um exímio camaleão.

Bom, a atuação dele no filme é o ponto forte, todo o tempo, impressiona mesmo e é admirável. O oscar não foi a toa, mas preciso dizer: eu achei os outros concorrentes mais interessantes, acho que o primeiro Oscar de Penn foi mais coerente, entende?

- James Franco realmente deveria ter sido indicado no lugar de Josh Brolin, com certeza. Vai entender as ironias dos velhinhos-da-Academia...como sempre, não compreendemos ao certo as razões.

- Gosto MUITO, mais MUITO, da dedicação e empenho intenso do Emile Hirsch - quem assistiu Na natureza selvagem pode dizer e sabe do que estou falando, o rapaz vale ouro no quesito interpretativo.

Sim, acho Milk um filme meio superestimado, mas não o condeno tanto, eu, ao contrário da maioria, achei que o filme deveria ter mais dose de drama e romance...sim, achei. A parte política não me agradou tanto assim, sabe. Mas, é um bom filme e tem uma direção precisa de Gus Van Sant. Mas, acho que há certas cenas que deveriam ter uma dose melhor de drama e a montagem do filme, por vezes, cansa.

O que funciona mais é o embasamento do roteiro, a forma como foi concebida e as falas de alguns personagens, apesar de achar complexo demais o personagem de Brolin...havia momentos que ele tornava o filme mais lento, fato.

Outra coisa, em relação à resenha proposta por Luis:

- Você se engana em dizer que o filme peca pelo 'excesso de trejeitos': vá a uma boite gls, em plena noite de SP, e depois me diga se realmente acha que o filme foi caricato. Há gays 'machões' e másculos, como há aqueles mais 'afeminados' e delicados. Você precisa conhecer mais sobre o universo GLS, pelo visto.

Abraço!

Grazii disse...

Renan,
Sou leiga no assunto..O milk existiu de verdade?
Pq é um bom sinal que indica que em algum lugar desse bola gigante chamado planeta o preconceito está acabando..
espero que isso tenha acabado, chega de preconceito, vou assistir o filme,achei interessante..

Fotograma Digital disse...

Não vou falar sobre o Sean Pean ok ? rsrsrs .

Eu gosto do Gus Van Sant porque ele me passa credibilidade em seus assuntos e em especial quando ele fala sobre o mundo gls. Pra quem não sabe o Van Sant é gay e diferente do Almodóvar (a quem eu não gosto mesmo) consegue (pra mim) ser mais verdadeiro em suas representações. Concordo com o Cristiano, gays assim como heterossexuais são de todo jeito. Assim como existem caras machões hetero, existem também no mundo gay (expressão péssima eu sei) assim como "pavões esvoaçantes com caudas de cristal" (em homenagem ... embora não tenha nada a ver ao GRANDE tio Argento).

Fotograma Digital disse...

Argento não disse nada .. a referência veio só na plumas de cristal que o uma parte do título do primeiro filme dele: Pássaro das Plumas de Cristal , que é um título que sempre achei condizente com uma fantasia do Clóvis Bornay num desfile de carnaval. Imagina a cena: "E agora desfilando Clóvis Bornay na fantasia de luxo Masculino: O Pássaro das Plumas de Cristal rsrsrs.

Quanto aos conhecimentod do mundo gls, são totalmente teóricos de minha parte pelo menos rsrs. Meu negócio é a Mulher Melancia e demais congêneres do horti-fruti nacional rsrs.


Mas concordo que a caricatura é incomoda, embora ela exista

Rodrigo Mendes disse...

O filme é bom. Há tempos não fico preocupado com indicações e premiações de Academia.

O Gus Van Sant, como ninguém (o cara é homossexual assumido) faz com maestria, sempre o tema.

O aspecto documental, em partes é marca do Van Sant (até o engraçado remake de Psicose tem imagens assim, assistam e prestem atenção).
Discordo do Cristiano, o filme não tem uma montagem lenta, achei as decisões presisas e corretas e atuações soberbas.

Sean Penn já vestiu tantos personagens, adoro o cara. Admito que Mickey Rourke também é excelente. Por isso desencanei de Oscar.

Nem pensem em filmes "oscarizáveis", contemplem a obra como ele é.

O texto esta bem resenhado,por ambos.

E faço coro ao Cristiano quanto aos trajeitos gay que vc diz. Nada é esteriótipo, a essencia de cada um permite isso. Há gays discretos, afeminados, machões , não assumidos etc..homens e mulheres e o filme não faz nenhuma caricatura exarcebada. É assim o mundo maluco em que vivemos, rs!

Façam uma pesquisa de campo e frequentem pontos gls de SP e veram ao vivo o filme de Van Sant.

Abs!

O Cara da Locadora disse...

É, eu sou daqueles que considera o filme uma obra-prima... Atuações fantásticas (incluvise, aí concordo, a surpreendente atuação de James Franco que poderia ser sua primeira (e única) indicação ao Oscar)... A direção do Gus é sensacional e... Renan, SEM EMOTIVIDADE? rs... Eu chorei o filme inteiro cara, é muito lindo ver aonde os ideais das pessoas podem as levar, eu realmente fiquei emocionado vários momentos... De tirar o chapéu...

Ahn, e eu acho que o Penn mereceu o Oscar, por mais que ache a interpretação do Rourke SENSACIONAL...

Jefferson Góes disse...

Olá. Gostei muita da sua crítica ao filme Milk, embora discorde em alguns pontos (o que é natural). Por exemplo, achei muito boa a atuação de Seann Penn. A respeito desse tema, achei interessante o texto disponível no seguinte sítio sobre a atuação de Seann Penn em Milk

http://www.consciencia.org/neiduclos/SEAN-PENN-EM-MILK/


Mas você fez uma análise muito abrangente da obra, e pode ter certeza que ficarei assíduo do seu blog.

Concordo inteiramente contigo a respeito da cena inicial do filme. Fui muito singela.

Abraço!!!

www.palavrasemgotas.blogspot.com

Jean Douglas disse...

Chegando um pouco atrasado para dar minha opinião, mas antes tarde do que nunca!

Bom... achei o filme muito interessante! A maneira que o abordaram foi de uma grande sutileza, e achei a atuação de Sean muito boa. Ele investe nos trejeitos, acerta no tom de voz e consegue trazer todo o senso de humor de Milk.

James Franco também foi magnífico! Ele conseguiu me surpreender com sua ótima interpretação, já que em outros filmes sua atuação é bem razoável. Sem me prolongar muito... só posso dizer que este é um filme que deve ser apreciado por toda sua grandeza.

Luís disse...

ROBERTO, eu achei um filme legal. Só. Não o achei assim tão bom. Gus Van Sant fez um trabalho bom, mas o resto é supervalorização.

CAROL, eu também achei que o filme ia ser melhor. E achei-o totalmente lento. Discordo a respeito de Sean Penn.

CRISTIANO, se Sean Penn é um camaleão, vive sempre no mesmo ambiente, que, por sinal, não apresenta perigo algum. Nem o primeiro nem o segundo Oscar foram justificáveis. Mikey Rourke era um concorrente mais forte. James Franco devia ter sido indicado; Brolin recebeu a nomeação porque ano passado foi ignorado pela Academia. O desenvolver do filme é lento, o que é pena. E, na minha opinião, tantos trejeitos foram desnecessários e tornou o filme caricato, o que é lamentável!

GRAZI, Milk existiu de verdade! É uma história real. Você acha mesmo que o preconceito está acabando?! (só para que você saiba, duas pessoas escreveram as resenhas)

ALEXANDRE, gosto de Guz Van Sant também. Acho-o talentoso como diretor. Mas também gosto de Almodóvar, em especial o filme Má Educação. Estou aprendendo verdadeiras lições com vocês, hein! Verdadeiros conhecedores do mundo gay. Mas ainda acho que tanto os héteros machões como gays afeminados são desconfortáveis. Argento disse isso?! Melhor não falarmos de Sean Penn mesmo... esse é um caso perdido!
sahisaihJOASJOSAJOASihashias

ALEXANDRE, essa é uma imagem bem bizarra. Qualquer pessoa vestida de Pássaro com Plumas de Cristal seria bizarro! Meus conhecimentos de mundo GLS são teóricos também e concordo absolutamente com você: embora a caricatura exista, é incômoda. Mulher-Melancia é triste, hein! Ela é tão excitante quanto um pão embolorado. Prefiro as plantas às frutas, como a Mulher-Samambaia...

RODRIGO, não acho que o Oscar diga se o filme é bom ou ruim. Mas eu constantemente me deparo com mais obras com qualidade do que indicadas por "motivos políticos". Eu acho o filme lento e totalmente documentado. E eu acho que esses trejeitos incomodam, porque são muito artificais. E não me refiro somente ao filme, mas também à essa característica na vida real. Sabe, eu dispenso a pesquisa de campo. A teoria, por enquanto, é suficiente. =)

O CARA DA LOCADORA, James Franco realmente surpreendeu e, se fosse indicado, possivelmente seria realmente sua primeira e única indicação. Pra mim, é um filme mais ou menos.

JEFFERSON, eu não consigo gostar das atuações de Sean Penn. Acho-o sempre igual. Tomara que você nos visita mais vezes mesmo! :P

JEAN, o meu máximo elogio vai a James Franco! Acho que Milk é um filme deveras supervalorizado, que não tem tudo isso que dizem que tem.

Luís