22 de jan. de 2010

Gula - O Clube dos Anjos


O Clube dos Anjos, 1998, 132 páginas. Coleção Plenos Pecados.

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Esse é o terceiro livro publicado da coleção Plenos Pecados, que é uma série em que reúne obras de autores convidados a escrever sobre os pecados capitais. Coincidentemente, esse também foi o terceiro livro que li, sendo o primeiro sobre a Inveja e o segundo sobre a Luxúria. O que diferente entre esse livro e os dois primeiros da série é o estilo; O Clube dos Anjos é uma narrativa fictícia.

Um grupo de homens tem se reunido nos último 21 anos, uma vez a cada mês, para que pudesse degustar de seus pratos preferidos num jantar organizado pelo responsável do mês. As sensações, no entanto, já não são como eram quando se reuniam durante a juventude; as mulheres foram introduzidas nesses eventos sociais, eles pareciam ter perdido o apetite e já não se davam bem desde que um deles havia morrido. Num dado momento, Lucídio aparece na vida deles: através de Daniel, o narrador, o homem misterioso consegue reunir os dez integrantes do Clude dos Anjos à mesa, presenteando a cada mês com os seus pratos preferidos, um apetite voraz, felicidade. E também com a morte.

Em relação à minha satisfação do livro, eu diria que foi razoável. O livro não se trata de uma coletânea de casos provavelmente verídicos como é narrado por Zuenir Ventura em Inveja ou João Ubaldo Ribeiro em Luxúria. Isso faz com que percamos parte do interesse pela obra, pois nada se encerra de concreto na gula mostrada por Luís Fernando Veríssimo. Não nego que como escritor, ele é bom. Quanto a isso, não posso reclamar. Mas comparado aos outros, torna-se fraco. Não é tão envolvente como “arquivo” de fatos, mas como ficção é bem legal, principalmente ao focar um momento eufórico, de extrema felicidade (para os personagens) com uma punição da qual eles não escapam e nem sequer tentam escapar. Como o próprio autor disse ao lançar o livro, a gula talvez seja o pecado que mais causa problemas às pessoas, competindo apenas com a luxúria, se praticada sem camisinha. São interessantes as diversas relações existentes nos livros, principalmente aquelas que misturam a literatura com a gula; para exemplificar, pode-se ver a situação daqueles homens, todos compulsivos e irracionais, comendo pelo prazer incomparado de sentir-se saciado e as diversas citações durante o livro, sendo mais eficaz ao meu exemplo, a frase “O homem é homem porque quer mais”, de Shakespear.

Digo, porém, que como literatura de suspense, a narrativa fica aquém do esperado. Tudo é tão óbvio que a única coisa que por momentos nos deixa pensativos é o fato de todos os dez homens se entregarem tão deliciosamente à morte sem esboçar qualquer vontade de viver. Não há desenvolvimentos fabulosos nem grandes inesvtigações; a coisa está tão explícita que, curiosamente, foge de qualquer clichê que vimos. Isso não significa que o livro seja muito bom; significa apenas que é um entretenimento interesante, principalmente se você pretende ler todos os livros da série sobre os pecados capitais.

Luís

2 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...

Discordo, livro muito bem argumentado e com verve criativa proposta por Veríssimo - nisso, ele é mestre.

Uma ressalva, não considero os livros Mal Secreto e A casa dos budas ditosos "uma coletânea de casos possivelmente verídicos". O primeiro é claramente um 'romance jornalístico', o próprio Zuenir deixa claro isso. É quase um making off do que seria a ser o próprio livro. Ele brinca com esta contextualização. E o livro de U.Ribeiro é claramente um romance ficcional!

abraço

Releia este livro! O Clube dos anjos é magnífico! :)

Bruno disse...

Clube dos Anjos é talvez um dos grandes roteiros ainda não filmados. Me arrepia pensar numa câmera casando Lucídio ao Daniel, nosso Clube da Luta muito mais interessante que o "original".