2 de mai. de 2010

Tapas

Tapas. Espanha, 2005, 84 minutos. Drama.

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Como estou disposto a sair um pouco do circuito hollywoodiano de cinema, comecei a assistir filmes de outros países. Não que eu não os assistia antes, mas agora vejo-os como prioridade, colocando-os à frente dos filmes estadunidenses. Em dois dias seguidos, assisti a dois filmes em outra língua: o mexicano E Sua Mãe Também e esse espanhol. E ambos - o primeiro, porém, em demasia - me promoveram uma adorável surpresa.

Em Tapas, cujo slogan é "você nunca sabe o que virá depois", quatro histórias diferentes são narradas, mas vemos logo que elas se conectam e impõe os personagens de cada uma à interação voluntária ou não. Raquel, uma mulher de meia-idade, relaciona-se com um homem que vive na Argentinsa pela Internet; Conchita, já idosa, vê dificuldades em aceitar os problemas com os quais seu marido, Mariano, vem lidando; Manuel, dono de um bar-lanchonete, se vê abandonado pela esposa, que era tratada como empregada no estabelecimento do marido; César e Opo são dois jovens que levam a vida sem grandes perspectivas. Num determinado ponto, todos de alguma maneira se envolvem, entrelançando os seus problemas ou não.

Acho que o adjetivo que melhor descreve Tapas é despretensioso. Pois, embora o filme tenha densidade e pudesse se tornar um grande drama, José Corbacho e Juan Cruz, os diretores, optaram pelo tom mais sereno e mais tranquilo, e conseguiram mostras de uma maneira bem sutil os problemas com que cada um convive; assim, não somos surpreendidos com grandes choradeiras, nem com momentos hilários, porque tudo no filme é conduzindo de maneira suave e discreta, os contornos dos sentimentos sempre à mostra, mas nunca a irrefreável explosão de emoções. É claro que, como a maioria dos filmes que nos mostram vários acontecimentos ao mesmo tempo, um deles parece meio desinteressante e nesse filme acontece exatamente isso: tudo o que vemos de Manuel poderia ter sido deixado de fora, pois realmente não tem grande conteúdo. Embora eu tenha a impressão de que o cuidado mais especial foi dedicado à narrativa sobre Raquel e seu relacionamento com César, foi o tom cativante da história de Conchita, chamada carinhosamente de Conchi, que me agradou mais: já idosa, com o pouco dinheiro que recebe da Previdência e com um marido morrendo de câncer, Conchi se expõe ao vender drogas ilegalmente aos jovens no bar do Manuel e, quando chega em casa, se depara com as diversas tentativas do marido de pôr fim à própria vida, já que ele não deseja definhar por causa da doença. Assim, a personagem encontra-se num grande dilema que vai contra a moral cristã; não sabe se cede ou não aos pedidos do marido e se deve ou não aplicar-lhe uma dose excessiva de remédios/drogas a fim de terminar logo com aquilo.

É claro que o filme mostra o que eu citei acima com menos densidade e achei que isso pouco - embora suficientemente - explorado. Uma das mais brilhantes capacidade do cinema espanhol, de uma maneira geral, é a habilidade de transformar feiúra em beleza. Já citei exemplos de Volver e de E Sua Mãe Também aqui, então não vou repetir-me; mas em Tapas, quase todos os atores são realmente feios e, ainda assim, vemos tanta simpatia, que nos esquecemos desse desfavorável aspecto. O final me agradou totalmente, não somente porque finalmente entedemos o slogan, como também porque fechou com a mesma sutileza - dando continuidade à linearidade - com a qual se iniciou. A trilha sonora é bastante agradável e dá um toque especial às cenas.

De um modo geral, eu recomendo o filme. Logicamente que não escontrarão grandes cenas, nem grandes dramas ou momentos extremamente hilários, pois o filme é bem despretensioso e nos promove entretenimento, mas, na minha opinião, é esquecível e daqui a uma semana talvez nem me lembre direito do enredo. Todavia, salva uma noite de sexta-feira chuvosa na qual você ficou sozinho em casa sem ter o que fazer.

Luís
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