30 de jun. de 2010

Um Crime Americano

An American Crime. EUA, 2007, 94 minutos. Drama.
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Baseado na história real que chocou a nação em 1965, o filme reconstrói um dos crimes mais chocantes já cometidos a uma só vítima. Sylvia e Jennie Fae Likens, as duas filhas de um casal que trabalha com um circo, são deixadas para uma longa estadia em Indianápolis, na casa de Gertrude Baniszewski, uma mãe solteira com sete crianças. Tempos difícies, e as necessidades financeiras de Gertrurde obrigam-na a fazer este arranjo antes de perceber como esta obrigação levará sua natureza instável a um ponto de ruptura. (fonte - cineplayers)

O interesse em ver o filme surgiu a partir dos comentários de uma colega minha, que dizia que queria muito vê-lo. Decidi alugá-lo e conferi-lo a fim de saber se era realmente bom e, ao terminar de assistir, cheguei a conclusão de que é um filme mediano do qual o espectador já não se lembra uma semana depois. Filmes baseados em fatos reais costumam chamar a minha atenção, já que os acho muito interessante, principalmente pelo fato de que os diretores costumam buscar outras perspectivas além das convencionais e somos apresentados a uma faceta diferente do personagem que, na vida real, é visto exclusivamente de outra maneira. Para exemplicar, cito Monster, no qual Aileen Wuornos - a primeira serial killer americana - é mostrada como figura humana e não o monstro que comumente vemos nas fotografias. Por esse motivo, pensei que Um Crime Americano se tratava de um filme legal.

O primeiro ponto de desgate é o fato de o roteiro optar pela narrativa em primeira pessoa, sendo que a narradora é a garota que sofria as torturas. Sabe-se que os narradores-personagens não são sempre confiáveis; sua visão é deturpada pelas suas emoções e às vezes pode ocorrer uma modificação da realidade. Isso é extremamente distoante da proposta que nos é apresentada: embora o roteiro queira que nós acreditemos que tudo aquilo que seja verdade, a pessoa que nos conta é exatamente aquela que pode exagerar ou omitir fatos. Logo, isso interfere na credibilidade da suposta "história real". Ao longo da narrativa, quase toda em flashback, somos apresentados aos depoimentos das pessoas envolvidas nas sessões de tortura que Sylvia sofreu. Outro problema do roteiro. Os trechos mostrados dão um ar renovado às longas sequências (às vezes monótonas) que mostram o relacionamento familiar problemático que Gertrude impõe às meninas Likens, no entanto, eles são curtos demais, mostrando momentos picados das respostas dos réus, e isso irrita o espectador, que quer ver uma cena completa se desenvolver no tribunal sem interrupções desnecessárias. Alguns elementos que eu simplesmente detesto são acrescentados na história num determinado ponto: aquelas costumeiras cenas de "sonho", que servem para induzir o espectador a pensar que o que ocorre é real para em seguida mostrar que não é real e o acréscimo de elementos sobrenaturais, que definitivamente não combinam com histórias narradas com tamanha proximidade aos fatos "palpáveis".

As atuações não são as melhores; não são, porém, totalmente ruins. Catherine Keener está muito bem interpretando Gertrude. Seus trejeitos a definem como uma mulher instável e potencialmente perigosa, o seu jeitod e olhar mostra o quão perturubada a personagem é. Os melhores momentos da personagem - e também da interpretação - é quando Gertie está cada vez mais distante da noção de realidade e ignora os fatos que acontecem ao seu redor, dando desculpas absurdas para justificá-los. Uma cena interessante é aquela na qual Gertie permite que várioz vizinhos entrem no porão e espanquem Sylvia enquanto ela caminha pelo local recolhendo roupas para lavá-las, demonstrando-se extremamente indiferente à situação. Ellen Page nos convence como uma adolescente, mas não tive a impressão de que as constantes agressões surtiram algum efeito psicológico nela, uma vez que tudo que a personagem faz é dar uns gritos - qualquer um pode gritar por qualquer coisa. A atriz tem talento, cabi a Tommy O'Haver, o diretor, complementar mais a situação de sua personagem, tornando-a interativa de alguma coisa em vez de mostrá-la unicamente como um saco de pancadas. Todos os outros atores estão relativamente bem, uma vez que seus personagens não requerem grandes técnicas de interpretação.

Um Crime Americano começa bem, se perde um pouco ao longo de sua projeção e, ao final, sabemos que não nos lembraremos muito dele poucos dias depois de vê-lo. O entretenimento não é máximo, mas ajuda a passar o tempo, principalmente se você estiver entendiado. Ainda a favor do filme, há um trilha sonora simplista e contraditoriamente eficiente, que acrescenta um drama ainda maior às cenas que, por si só, não transmitem o tom certo. Entre os prós e os contras, considero que esse seja apenas mais um filme a ser visto esporadicamente por aqueles que frequentam as locadoras de vídeos.

Luís

28 de jun. de 2010

O Cortiço

Aluísio Azevedo, 1890, 208 páginas (Editora Companhia Nacional)

Pertence ao Realismo-Naturalismo, faz parte da lista integrada FUVEST/UNICAMP - 2011.
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Esse é o terceiro livro obrigatório das principais universidades públicas paulistas que postamos e pretendemos comentar mais dois. Primeiro darei as informações do livro em forma de um resumo tentando abranger a estória como um todo para ajudar aos vestibulando com nós, em seguida darei o meu ponto de vista sobre a obra de Aluísio de Azevedo.

O Cortiço foi lançado em 1890 pelo já citado Aluísio de Azevedo e faz parte do Realismo-Naturalismo onde já pelo nome pode-se ter uma base do livro. Naturalismo, pois para o indivíduo sobreviver ele precisa basicamente de três coisas: comida, repouso e pensando na reprodução, sexo. O romance é marcado também pelo determinismo onde o indivíduo pode ser transformado por três fatores: a hereditariedade, o momento e o meio e claramente quem muda os personagens em O Cortiço é o meio em que eles vivem.

Narrador: é narrado em terceira pessoa sendo ele onisciente e seu papel não acaba aí: narrador faz julgamentos das atitudes dos personagens mostrando ao leitor a estória de cada um sendo transformada pelo meio em que vive.

Espaço: o romance se passa em um cortiço do Rio de Janeiro construído pelo Seu João Romão. O cortiço fica ao lado de sua venda e do outro lado do local fica a casa do Seu Miranda. Atrás dele fica a pedreira onde a maioria dos personagens do sexo masculino trabalham. Reparem que tudo fica envolta da estalagem.

Personagens:
● o próprio cortiço é considerado o personagem principal, pois é nele que a maioria das coisas acontecem além de receber características humanas (”Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.”, capítulo III).

João Romão: é o dono da venda e o personagem que mais aparece no livro, além disso é extremamente pão duro e guarda todo o dinheiro que consegue e não tem planos imediatos para mudar de vida. Todo o dinheiro gasto na redondeza volta a sua mão pois é dono do cortiço e de parte da pedreira, ou seja, ele paga o salário para os empregados e esses tem que pagar o aluguel além de comprar em sua venda. Mais pro final do livro ele começa a querer mudar de vida investindo mais no cortiço depois de um incêndio e até quer se casar com Zulmirinha, a filha de seu rival Miranda. Com ele mora a Bertoleza, uma escrava que pensa ter comprado sua alforria, mas que na verdade foi enganada pelo patrão, quando descobre tudo, na última página do livro, se mata. Em vida é o braço direito de João Romão, ajudando a roubar materiais de construção para a edificação do cortiço, fazendo a comida servida no venda, ou seja, “é a última que dorme e a primeira que acorda”.

Miranda e família: Miranda é um português de sucesso que mora ao lado do cortiço e não gosta muito do Seu Romão, principalmente, por ter contruído um cortiço ao lado de seu sobrado. Com a mudança de comportamento do seu vizinho, ele acaba se aproximando mais dele e até cedendo a mão de sua filha em casamento. O resto da família é composta por D. Estela, sua esposa infiel que caracteriza uma burguesia ociosa, Henriquinho um garoto que vem morar em sua casa para estudar medicina já que Miranda devia um favor ao pai do garoto e esse que tem um caso com uma mulher do cortiço, Zulmirinha, a filha e o Botelho, agregado que ajuda João Romão a conquistar a filha do Miranda.

Personagens notáveis:
* Jerônimo e Piedade: são um casal de portugueses que tem uma filha. Jerônimo vem ao cortiço para trabalhar na pedreira como um funcionário exemplar que até ganha mais que os outros. Sua família, inicialmente, é impecável, todos os respeitam e os tomam como exemplo.

* Rita Baiana: é uma mulher que volta ao cortiço de uma longa viagem e volta com seu namorado Firmo. Depois de uma ajuda dela ao Jerônimo, esse fica apaixonado pela Rita e esse evento que acaba em uma briga entre ele e Firmo que por sua vez, termina em um incêndio provocado pela Bruxa. Como vingança, depois de um tempo Jerônimo mata Firmo com ajuda de uns colegas, foge com Rita deixando sua mulher para trás que vira bêbada e começa a ser “deflorada” pelos outros homens do cortiço.

* Pombinha: A flor do cortiço como é chamada, é pura, delicada e inocente, mas sofre com a menstruação que não chega e não pode se casar por não ser mulher com 18 anos. Essa é abusada pela madrinha Leonie e depois de um tempo sua menstruação vem e ela pode se casar. Descobrindo como é a vida de casada, e como são os homens, ela abandona tudo e, mais tarde, vira uma prostituta e filha de Jerônimo vira a nova pombinha do cortiço, tornando assim, um ciclo.

Outros personagens: Leucádia, Machona, Marcina são lavadeiras e ficam por conta delas as fofocas que circulam pelo cortiço, faz parte desse grupo também o Albino, que é considerado uma mulher pelas outras. A primeira, Leucádia, trai o marido Bruno com Henriquinho, pois o jovem promete dar um coelho em troca do sexo, quando o marido descobre essa é expulsa de casa. Ainda temos Domingos, um caixeiro viajante empregado do João Romão que engravida Florinda, filha de uma das moradoras do cortiço. Ele foge da responsabilidade e ela também foge por medo da mãe, que quando descobre bate muito nela.

Depois do primeiro incêndio causado pela Bruxa, o cortiço é atacado mais uma vez pela loucura da mesma mulher, só que dessa vez, ela faz o serviço completo e João Romão já com sua vida social em ascensão decide construir outro cortiço, só que esse é de um nível mais alto e consequentemente os preços também fazendo com que vários dos antigos moradores tivessem que abandona-lo e mudar para o cortiço vizinho que antes abrigava o Firmo, o Cabeça de Gato. Isso nos mostra a mudança do João Romão é pode-se contruir a linha cronológica do livro mediante a sua vida social, no início, os dois pobres, no final, os dois luxuosos e ricos.

O grande problema em se tentar resumir O Cortiço não é o tamanho do livro, pois é relativamente pequeno, mas sim o grande número de personagens que passam pela estória dando a idéia do dinamismo do local, onde várias e várias vidas passam pelo cortiço e cada vida tem uma estória, fazendo o leitor, as vezes, se perder um pouco. Considero-o uma obra clássica, porém muito chata de se ler pela leitura difícil e recomendo apenas para aqueles que terão a obrigação de lê-lo.

Renan

26 de jun. de 2010

Casa de Areia e Névoa

House of Sand and Fog. EUA, 2003, 122 minutos. Drama.
Indicado a 3 Academy Awards, nas categorias Melhor Ator (Ben Kingsley), Melhor Atriz Coadjuvante (Shohreh Aghdashloo) e Melhor Trilha Sonora.
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O Klaus, dono do blog Bit of Everything, elaborou uma lista contendo as melhores atrizes da década na opinião dele e o que me levou a assistir a esse filme foi a presença de Jennifer Connelly; senti a necessidade de vê-lo para saber se era assim tão bom.

Kathy é uma faxineira que fica meio atordoado após o marido tê-la abandonado; sem ler suas correspondências por muito tempo, é pega de surpresa quando o município decide tomar a casa e leiloá-la devido ao atraso dos pagamentos de impostos dos quais Kathy era isenta. Ela tenta reaver sua casa o mais rápido possível, mas logo no dia seguinte um coronel iraniano compra a casa por 1/4 do valor que ela vale e se muda com a sua família. Entre os personagens - não somente Kathy e Behrani - ocorrem situações imprevistas que provocam a instabilidade e os levam a pontos inimagináveis.

Primeiro, quero elogiar o roteiro. A história toda está envolva num erro que dificilmente seria resolvido rapidamente, afinal, todos conhecemos o quão lenta é a burocracia. Um ponto interessante é nos apresentar pessoas desesperadas, mas que, em contradição com os seus atos, estão cobertas de razão. Há cabimento em querer defender com unhas e dentes uma propriedade que é sua e que por erro alheio lhe foi tomada; ao mesmo tempo, é compreensível que, uma vez que se pagou a casa, independentemente de como a casa foi tomada, é um direito do comprador de permanecer nela ou revendê-la por quanto achar necessário. As situações que ilustrei representam basicamente o resumo das situações pelas quais passamn, respectivamente, Kathy e Behrami. A somar a essa já desesperadora situação, surgem ainda os personagens secundários, como o policial Lester, que rapidamente simpatiza com Kathy e troca sua família para ficar ao lado dela e há a família do coronel, que torce para conseguirem enriquecer nos Estados Unidos, a chamada "terra dos sonhos", e fugir do Irã, onde o coronel tem problemas. As complicações envolvem cerca de seis personagens. A casa do título provoca a desarmonia de todas as maneiras possíveis, tornando os seus atuais e ex-moradores completamente miseráveis e fazendo-os revolver o passado, buscando nele forças para continuar. Ouso dizer que o personagem mais importante da trama é a Casa, feita com a fragilidade da areia e com a inconsistência da névoa. Por ela, os personagens tornam-se fracos e instáveis.

Começarei por quem mais me impressinou: Shohreh Aghdashloo. Sua participação é pequena e em muitos momentos a ouvimos falando em outra língua. No entanto, ela marca presença de maneira firme, numa atuação memorável e bela. Penso que ela seja a principal representante do desespero, afinal, não há somente o desespero da casa, como também a pressão familiar e o medo de ser deportada. Shohreh, cuja carreira é meio questionável, está encantadora nesse filme e sua cena final é extremamente comovente. Ben Kingsley, em muitos momentos do filme, se infla do jeito-Sean-Penn-de-ser e se mantém inexpressivo. Do meio para o final, porém, ele decide nos mostrar que é capaz de atuar e fica bem à vontade em seu personagem; o destaque cabe às cenas finais, que são um banho de emoção nos espectadores e de desespero - tantos nos personagens como em nós. Ainda assim, não acho que ele merecia uma indicação. Jennifer Conelly está correta e sua interpretação é bonita, como é usualmente. Sem exageros e sem humildades, sua atuação é regular e sua história cativa o público. Vê-la em cena é um presente e, assim como acontece com Aghdashloo, em cena ela está bela. A respeito de merecer uma indicação, não sei dizer, porque ainda não vi todas as atrizes que concorreram ao prêmio, mas, como comumente a Academia faz escolhas estranhas, é possível que Connelly tenha sido pretendia em função de uma atriz em desempenho menor. Ron Eldard está à sombra de sua parceira, sempre meio oculto pela eficiência dela, mas ainda assim, sua interpretação é significativa e vale a pena.

Casa de Areia e Névoa é um filme que merece ser visto. Há algumas pequenas incoerências na história, como o fato de Kathy ser uma faxineira pobre que contraditoriamente - parece que faz por prazer - nunca trabalha! Não é uma das obras que mais me entreteram, mas eu certamente a vejo como muito produtiva e bonita, pois está cercada de elementos positivos, desde atuação até a fotografia e a trilha sonora, eficaz nos momentos mais densos. Confiram-no.

Luís

25 de jun. de 2010

Obrigado por Fumar

Thank you for Smoking. EUA, 2006, 92 minutos. Comédia.
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Assim como Verônica, assisti a esse filme para servir como complemento para uma coletânea a respeito da mais nova lei em vigor no Brasil: aquela que proíbe as pessoas a fumarem em ambientes públicos. A princípio, pensei em vê-lo somente para tirar uma ou outra ideia do filme e usar em minha redação, mas acabei descobrindo se tratar de uma obra muito interessante, a qual merece ser vista pelas pessoas, porque sua temática, embora requeira certo padrão e rigor, é explorada de maneira muito satisfatória e suave, o que não faz do filme um alienador.

Nick Naylor é um lobista que defende de maneira excepcional a venda do cigarro, justificando-a de todas as maneiras possíveis e, na maioria das vezes, usando argumentos tão bons que acaba deixando os outros sem palavras que possam combater as suas. O Senador Firistirre está numa campanha grande a fim de colocar o símbolo de "veneno" nos maçois de cigarros, para que as pessoas parem de consumi-lo. A grande sacada de Nick é colocar nos cinemas o produto que sua empresa vende: deseja que os astros sejam vistos nas telas fumando. Então, começam os problemas...

Achei realmente difícil definir o gênero desse filme, porque ele não tem o principal objetivo de fazer humor da polêmica sobre ser certo ou errado fumar, logo, não o vejo como uma comédia; em contrapartida, sua abordagem é bem leve, o que me impede de classificá-lo como um drama. Por fim, decidi por "comédia/drama", já que ambos estão presentes, cada um à sua maneira. Já disse que ot ema é polêmico, mas o filme não mostra isso como num grande debate ideológico acerca das opções das pessoas. Seu principal objetivo - a que alcança com muito eficiência - é expor as diversas opiniões e as maneiras como elas são defendidas. Assim, sabemos que Nick não é um vilão por defender a causa do cigarro; apenas concluímos que ele dá o melhor de si a fim de que seu trabalho seja valorizado e, para continuar empregado, é necessário que ele continue convencendo as pessoas a fumarem. Acredito que um dos motivos que fazem do filme uma boa produção é o fato de ele se ater às discussões acerca da atitude do personagem Nick - que é abordada durante toda a projeção. Se fosse algo no estilo documentário, mais voltado para o poder destrutivo do cigarro em si, certamente teríamos uma hora e meia de sonolência, a não ser que o diretor conseguisse fazer algo muito criativo. Falando em criatividade, considerei esse um roteiro muito interessante, embora seja, na verdade, baseado num livro de Christopher Buckley. Então, meus parabéns ao escritor e ao roteirista, que também é o diretor.

O elenco é muito bem composto e todos executam seus papéis com muita eficácia. Com exceção de Nick, todos aparecem pouco, mas dentro da história seus personagens não poderiam tornar-se realmente grandes, ainda que, sempre que aparecem, fazem muito bem e acabam equiparando suas atuações a de Aaron Eckheart - que, para quem não se lembra, é o Duas-Caras de O Cavaleiro das Trevas. Katie Holmes traz um ar mais jovem e descontrai mais ainda o filme; sua participação é pequena, mas é interessante, afinal, seu sorriso é bem cativante. Maria Bello, cujos personagens mais conhecidos são Lil em Show em Bar e Amy Rainy em Janela Secreta - recentemente substituiu Rachel Weizs na terceira parte da trilogia A Múmia -, juntamente com David Koechner realizam as cenas com maior subjetividade: três representantes de produtos considerados perigosos - o cigarro, a bedida e as armas de fogo - reunem para debater sobre o cotidiano. Há uma boa amostra do contraste, nos permitindo ver que, mesmo defendendo um lado tido como ruim, os três ainda são tão comuns a ponto de se sentar em torno de uma mesa para comer e falar sobre o dia-a-dia com muita naturalidade enquanto, como são ditos, muitas pessoas morrem por dia consumindo os produtos que as empresas nas que trabalham vendem.

Por fim, digo que gostei bastante desse filme, que se mostrou uma agradável surpresa. Como se não fosse um ótimo filme dentro de seus padrões, ainda conta com boas cenas que demonstram os ensinamentos passados de pai para filho; Nick ensina uma das maiores verdades que uma pessoa pode saber: não importa se a outra pessoa está certa ou errada, o importante é você fazer com que ela não tenha argumentos para embasar uma resposta. Certamente vale a pena vê-lo, pois garante uma hora e meia de entretenimento culto.

Luís
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24 de jun. de 2010

Paradise Now

Paradise Now. França, Alemanha, Israel e Holanda; 2005, 90 minutos. Drama.
Foi considerado o 18º filme não-estadunidense mais importante da década.
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Paradise Now é um filme realmente interessante, cuja temática foge àquilo a que estamos acostumados a assistir. Já vimos homossexuais, negros, mulheres submissas, adolescentes grávidas, estupros muito realistas, efeitos especiais incríveis. Mas tivemos algum contanto com o mundo onde os homens andam com quilos de bomba em torno do corpo prestes a se explodir e matar inúmeras pessoas, inocentes ou não, ao seu redor?

Não sei quanto a todos vocês, mas eu nunca tinha visto um filme direcionado a esse tema tão delicado, que, dependendo de como for abordado, torna-se algo voltado para o fanatismo, com o intuito de alienar quem assiste. Por outro lado, se a abordagem for fraca, o enredo se assemelha às histórias cujo objetivo é indecifrável e, consequentemente, não conseguimos ter uma boa imagem da produção. Paradise Now, felizmente, não se enquadra em nenhum desses gêneros, firmando-se como uma obra extremanete inteligente, que dá enfoque, principalmente, às relações humanas e às ideologias nas quais os personagens acreditam. Considero que seja um grande desafio para alguém que escreve sobre o filme - como eu estou fazendo - conseguir separar os dois tópicos que citei acima, porque definitivamente o relacionamento entre os personagens está diretamente ligado à maneira como são capazes de encontrar força em suas vontades a ponto de realmente querer seguir em frente, mesmo sabendo que suas atitudes resultarão na perda da vida.

As crenças, muitas vezes, são tidas como imutáveis e impenetráveis, mas nessa produção as interferências externas conseguem reconstruir a todos os momentos as perspectivas dos personagens. Concluí que muito do filme se deve à escolha dos atores, principalmente da coadjuvante Lubna Azabal, intérprete de Suha. Cabe a ela intervir pelos dois amigos que, desde pequenos muito unidos, decidem morrer juntos em nome daqueles tantos que sofreram pela ocupação de Israel no território palestino. Percebemos o quão coadjuvante a personagem é pela sua pequena participação; no entanto, quando está em cena, consegue reestruturar os pensamentos dos outros conforme seu desejo. Eu não digo isso somente porque acredito mais na racionalidade dela do que na deles. Afirmo isso com convição por Paradise Now não é um filme que tenta te fazer escolher entre o lado menos radical e o mais radical; ele se empenha em apresentar ambos os lados da situação de uma maneira muito apartidária e isso faz com que o espectador conheça tudo sem se ocupar em julgar, em torcer o nariz. Não enxergamos insensatez nas atitudes de Khaled e Said, porque conseguimos enxergar a imensa convicção que eles têm em sua maneira de conseguir justiça e que a única maneira de ganhar a causa é se explodindo.

Em uma hora e meia, pode-se perceber a grandiosidade do filme por meio das várias abordagens que consegue nos apresentar: não somente o radicalismo dos jovens, mas também à crítica a estrutura social e econômica da região, na qual - como em todos os lugares - os ricos ficam à margem de toda a marginalidade e crueldade que há. A justiça não acontece de forma igual e numa rápida passagem, isso fica bem definido numa discussão entre Said e Suha, que é filha do homem mais poderoso da região e que, por tal condição, não tem muito conhecimento acerca da complexidade em que vivem os jovens Kalhed e Said, cujas famílias foram vítimas dos mal tratos consequentes da ocupação israelense e cujos pais fizeram o mesmo que eles estavam prestes a fazer.

Eu definitivamente recomendo Paradise Now! Achei curioso o fato de não terem traduzido o título, deixando-o como no original. Eu, particularmente, prefiro a sonoridade do título em inglês do que como soaria se tivesse sido traduzido literalmente. Fiquei bastante contente também que não tenham acrescentado um subtítulo medíocre, cuja finalidade seja explicado o termo que o antecede e, ao mesmo tempo, explicar um pouco do filme. Acredito, porém, que alguns espectadores, muito nacionalistas, talvez, não se interessem pelo nome dessa produção, porque admito que ela revela pouco, mas tem total coerência com o filme todo. Principalmente na cena final, percebemos o quão fundamental é o advérbio de tempo - tempo imediato, aliás - que foi usado: porque o paraíso é agora.

Luís

22 de jun. de 2010

O Pecador


The Sinner. EUA, 2006, 364 páginas (Editora Record). Suspense / Policial.

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Esse livro faz parte da mesma série na qual estão inclusos os títulos Dublê de Corpo e Desaparecidas. Os eventos narrados aqui são anteriores aos que são mostrados nos outros livros. Ainda que a ordem de publicação determine a ordem cronológica, eu comecei a ler na ordem inversa (pois não sabia tratar-se uma série) pelo livro Desaparecidas. Coincidentemente, tenho regressado, vendo a estória exatamente de trás para a frente e não intercalada: no primeiro livro que li - o último a ser publicado - Jane Rizzoli teve a sua filha; no segundo - penúltima publicação - , ela estava grávida; e nesse ela descobriu sua gravidez. Isso certamente não é um problema, já que consigo ordenar os acontecimentos normalmente.

Como imaginava, Jane Rizzoli e a Dr. Maura Isles são as personagens centrais desse livro, que nos apresenta três crimes distintos acontecidos: duas freiras, mortas no convento em que vivem; uma mulher que não pode ser identificada, devido ao corte das mãos, dos pés e da face; e um vice-presidente de uma famosa firma. Detetives diferentes investigam esses crimes, que ocorreram de cenários bem distintos, mas aos poucos, parece surgir uma sutil conexão, relacionando um com o outro. Com se isso ainda não bastasse, mais uma revelação assustadora: Camille, uma das freiras mortas a golpes furiosos contra a cabeça, deu à luz recentemente, contrapondo os seus votos religiosos. As investigações têm início e, aos poucos, inúmeras peças do quebra-cabeça vão se encaixando, construindo uma linha instigante e assustadora, na qual todos podem se tornar vítimas da pessoa misteriosa responsável pelos crimes.

Tal como nos livros anteriores - ou posteriores, se preferirem - Tess Gerritsen mostra sua fluência ao narrar tais situações, que por vezes situam o leitor facilmente no cenário proposto. Lê-la, portanto, é uma viagem bem interessante em meio a cenário muito bemd escritivos, a cenas apavorantes e, principalmente, a uma estrutura narrativa extremamente eficiente quanto a apresentar ao leitor elementos fundamentais para o gênero suspense. Como se não fosse suficientemente interessante o livro, com toda a agilidade de acontecimentos mostrados, impedindo que o leitor se canse, há ainda a inclusão de tramas paralelas, como relacionamentos amorosos, dúvidas quanto ao futuro e a melhor decisão a tomar e, como o próprio título do livro sugere, o que é e o que não é pecado. A narrativa é tão atrativa, principalmente conduzida pelo parto da freira Camille, que quando começamos a lê-lo, não paramos. Eu demorei mais de três semanas para ler Túneis, porém apenas três dias para ler O Pecador.

A autora não perde tempo com temas indiferentes às situações que nos apresenta com o decorrer do livro. Tudo que vimos é, de alguma forma, conectado com o tópico principal do capítulo e colabora para conduzir a um desfecho bastante inteligente, no qual Tess ata todos os pontos descritos na sua narrativa. O momento mais surpreendente, na minha opinião, é uma das últimas constatações de Maura, quando ela analisa uma foto com bastante atenção e constata que os pássaros estão mortos. O leitor que estiver acompanhando atento aos diálogos, compreenderá muito com essa simples informação. As construções dos personagens Maura e Jane continuam impecáveis, detalhando-nos bastante sobre a vida delas e a forma como agem em relação aos mais diversos assuntos, sejam eles pessoais ou profissionais. Resta-me, portato, recomendar esse livro, pois sempre sombra de dúvida vale a pena conferi-lo. A minha única ressalva é: tentem lê-lo na ordem cronológica correta, começando pelos livros que, até a data da publicação dessa crítica, ainda não foram lidos por mim.

Luís
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Em “O Pecador”, Tess Gerritsen traz de volta Jane Rizzoli, a policial que tende a ganhar o afeto do leitor por seu lado, pode se dizer mais masculino (Acho que masculino é a palavra errada, mas não achei outra melhor) e Maura Isles, a médica legista, essa mais fria por fora, mas que nesse romance demontra seu lado mais sentimental, assim como Jane. As duas se unem para desvendar um caso em um convento, onde duas freiras sofreram um ataque, sendo que uma delas morreu (Camille) e a outra ficou seriamente ferida (Irmã Úrsula).

Particularmente acho que há dois fatores óbvios que influenciam nas obras da autora, fazendo que seus livros sejam tão prazerosos de serem lidos, o primeiro são os personagens, pois mesmo tendo a estória principal, claramente os personagens mais importantes são Jane e Maura, não importa se há freiras morrendo em “O Pecador”, ou imigrantes ilegais em “Desaparecidas”, ou um complexo sistema para roubar bebês das mães em “Dublê de Corpo”, a estória sempre será das duas, tanto que temos passagens da vida pessoal delas, como o natal na casa de Jane ou os pensamentos pecaminosos de Maura com o padre. O outro fator é a estória, mais especificamente a capacidade da autora de fazer reviravoltas incriveis em poucas páginas, tornando, por exemplo Camille, personagem que mantemos toda a atenção, em apenas uma estória triste no meio de tudo (Uma das melhores passagens do livro é quando Rizzoli encontra Randall pela segunda vez, e no final diz a enfermeira para por uma foto de Camille, pois acha que ele sente falta da filha)e tornando a Irmã Úrsula, pra quem nem ligamos muito em uma personagem muito importante, e quando o leitor começa a fazer suposições pode se descobrir totalmente enganado. Eu por exemplo apostava no Padre Brophy como culpado, mas o Dr. Sutcliffe não me enganou também. Outro ponto a favor dos livros são os prólogos…nos três livros que li dela, todos os começos são bons (Com mérito maior para “Duble de Corpo”) e fazem com que o leitor se sinta motivado desde o começo da narrativa.

Esse, como os outros livros que li de Tess Gerritsen são muito recomendáveis, nele sobra ação, há uma estória boa com várias ramificaçõe, há romance também (pouco, mas há), e até um pouco de suspense no final com a invasão à casa de Maura no final do livro.

Renan

20 de jun. de 2010

(500) Dias com Ela

(500) Days of Summer. EUA, 2009, 95 minutos. Comédia / Drama / Romance.
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"Só não me sinto à vontade sendo namorada de alguém. Não me sinto à vontade sendo qualquer coisa de alguém. Eu gosto de ser sozinha. Relacionamentos são complicados, pessoas se machucam. Quem precisa disso? Somos jovens, moramos em uma das mais belas cidades do mundo. Vamos nos divertir enquanto podemos e guardar as coisas sérias para mais tarde. Hoje em dia, casamento dá em divórcio. Essa coisa de amor não existe, é uma fantasia."
Summer Finn.

Esse é um daqueles filmes pequenos que, bem estruturado, consegue fazer com que muitos espectadores - mesmo os cinéfilos mais exigentes - acabem gostando do que tem pra mostrar. Desse modo, (500) Dias com Ela ganhou bastante destaque e graças ao boca a boca (muito positivo) se tornou um dos filmes mais comentados ano passado. Vale ressaltar que houve certa estranheza quando o roteiro desse filme não foi nomeado pela Academia como um dos cinco que concorriam na categoria Melhor Roteiro Original.

Do começo ao fim do filme, nós conhecemos a vida de Tom, que se encanta por Summer tão logo que a vê. A princípio, crê que jamais poderia se aproximar dela, que estão em níveis diferentes, mas descobre que ela nutre por ele certo apreço e que esse sentimento se torna maior e surge entre os dois um relacionamento aparentemente estável. Summer vive como quer e não se deixa aborrecer - sempre que algo lhe desinteressa, ela logo parte para outra, como deixa claro numa passagem que Tom lhe diz que está trabalhando há muito tempo naquela empresa e ela lhe diz que não consegue ficar tanto tempo no mesmo lugar. Tom experimenta, então, 500 dias com Summer, sendo que os primeiros são fantasticamente excepcionais, e então começam os problemas (quando ela começa a demonstrar insatisfação) e, já nos últimos dias, o total desespero de Tom.

Antes de mais nada, quero apontar no filme tudo aquilo que me agradou. Decerto, o roteiro é o melhor: pouco a pouco, acompanhamos sem pressa o envolvimento dos personagens centrais e conseguimos enxergar nos dois as suas características principais sem que eles mesmos se ocupem em dizê-las. Tanto Tom quanto Summer são bem estruturados e, cada um à sua maneira, são personagens completos e densos. Na minha opinião, ela tem muito mais destaque que ele, principalmente pelo seu modo de ser, muito mais interessante do que o modo de ser de Tom. Os diálogos do filme são mesmo muito bons, são delicados e sensíveis, parecem se enquadrar muito bem naquilo que o filme propõe. E as cenas são tratadas com carinho, dando aos personagens a dedicação que eles merecem. A fotografia do filme é igualmente boa e eu gostei muitos das tomadas em áreas abertas, como a cena final, onde Tom e Summer conversam num parque. Eu tinha certa antipatia por Zooey Deschanel, mas depois que a vi como Summer, tive por ela um pouco mais de simpatia: ela sorri de modo muito bonito, muito espontâneo, e seus olhos azuis são tão bonitos!

Eu confesso que não encontrei pontos negativos no filme. Mas, mesmo assim, acho que é um filme que não traz nada novo ao gênero e que é rapidamente esquecível, apesar de sua qualidade. Logo depois de vê-lo, eu já me sentia como se o tivesse visto há muito mais tempo, de que modo que nem me lembrava de algumas passagens. Embora eu seja fã da não-linearidade, eu devo dizer que não me agradou a opção por mostrar começo, meio e fim misturados, mas não creio que isso consista num problema grande - apenas me causou um sutil incômodo. A atuação de Joseph Gordon-Levitt também não me cativou totalmente e percebi uma disparidade entre o personagem e o ator: ficou evidente para mim que o personagem é interessante demais para um ator um pouco limitado e isso o colocou aquém da atuação de Zooey Deschanel, mas, assim como a nã-linearidade, não me impediu de gostar do filme.

Acho que (500) Dias com Ela deveria ter sido lembrado pela Academia, principalmente porque o seu roteiro é grandioso dentro do gênero romance. De um modo geral, creio que seja um filme bom para se assistir acompanhado daquela pessoal especial, numa noite fria. É um filme que agrada, porém não mostra nenhuma super novidade. Infelizmente, o título original se perde na tradução e chega a ser triste quando no filme à uma alusão explícita (a garota chamada Autumn) ao segundo sentido da palavra "Summer" no título. Será que podemos mesmo dizer que os 500 Dias com Summer foram mesmo dias ensolarados? Talvez...

Luís

18 de jun. de 2010

A Fraternidade é Vermelha

Rouge. França, 1994, 94 minutos. Drama.
Foi indicado a três Academy Awards, nas categorias Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia.
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Este é o último filme da Trilogia das Cores, embora tenha sido o primeiro a que assisti. Já havia lido críticas boas e outras ruins sobre esse filme; uns alegavam haver poesia na obra, outros alegavam haver monotonia. Eu acho que há os dois, mas na medida certa, de forma que o espectador compreenda toda a situação e possa se aprofundar nas situações que o filme mostra. Acima de tudo, o enredo aborda o lado psicológico da relação entre os dois personagens principais.

Valentine é uma moça ocupada, cuja vida é dividida entre os trabalhos que faz como modelo e as aulas de ballet. Pretende mudar-se para Londres, o namorado está. Numa noite, ao atropelar uma cachorra, ela decide levá-lo ao seu dono (o endereço está escrito na coleira) e acaba conhecendo um juiz excêntrico que ouve as conversas telefônicas de seus vizinhos através de um equipamento que tem em sua casa.

Certamente, a Fraternidade É Vermelha é um daqueles filmes que você tem que rever, para que você possa ter a certeza de que o compreendeu completamente. As histórias se conectam de tal maneira que o espectador fica em dúvida acerca do que é passado, do que é presente e do que é uma história paralela, aparentemente sem conexões com o que vemos entre Valentine e o Juiz. Não pensem, porém, que essa incerteza se dá pelo fato de que o filme tenha um roteiro mal estruturado, que por si não consegue manter a clareza do que está sendo mostrado. Pelo contrário: tudo que vemos é exibido com bastante determinação, ficando muito bem posicionado na obra. Ainda assim, quando concluímos de conferi-lo, temos aquela sensação de que não compreendemos algo e que vamos esperar uma ou duas semanas para revê-lo, a fim de pôr fim às dúvidas. Não há dúvidas de que esse é um marketing interessante, mas eu não acho que as intenções do diretor seja a de transformar sua obra num planfeto, mas sim de poetizá-la o suficiente a ponto de o espectador aspirar a muito mais do que conseguiu na primeira vez que viu o filme.

É importante notar a importância da cor durante a projeção do filme. O vermelho, em suas mais variadas nuances - mas preferencialmente o vermelho vivo e exagerado - está presente o tempo todo, desde pequenos objetos ao fundo, que complementam o cenário, quanto sendo exibido de maneira extremamente chamativa e atraente. É possível também relacionar a cor aos sentimentos dos personagens: em alguns momentos em que Valentine se sente com problemas em relação ao namorado, que está em Londres, o vermelho se mostra esmagador ao redor dela, impondo sua tonalidade viva às emoções fragilizadas da personagem que, pouco a pouco, começa a simpatizar pelo Juiz. O espectador mais atento vai perceber que pouquíssimas vezes a cor aparece quando a personagem está com o Juiz, pois ele não é tão emotivo quanto ela. É como se as características de um anulasse a do outro e, para representar isso, as cores se tornam mais amenas e os personagens - que representam a superficiliade, enquanto a cor representa a profundidade - se tornam o destaque da cena e nossos olhos voltam-se para eles. Me aprofundando um pouco mais, pude perceber que as cores relacionam-se não somente com as emoções de cada personagem, mas também com a ênfase que cada um recebe. Se a fragilidade de Valentine é oprimida pelo vermelho berrante, a frieza do Juiz é demonstrado pelos tons escuros de sua casa, já que na maioria dos cenas os atores estão na penumbra e são parcialmente vistos. Quando o Juiz finalmente decide expor um pouco de si, um acontecimento ocorre e, por fim, há claridade, numa óbvia alusão à exposição de sentimentos que ele está prestes a fazer.

Eu recomendo totalmente esse filme, pois ele consegue mostrar de maneira muito metafórica - o que é um ponto extremamente positivo a seu favor - a relação de duas personagens completamente diferentes, mas que são capazes de nutrir certo apreço uma pela outra. Quando o filme termina, ficamos em choque por três motivos: primeiro quando percebemos a verdadeira relação entre as histórias; segundo quando vemos a linda fotografia a que a cena faz alusão e, terceiro e último, quando nos vem aquela ânsia por saber o que acontecerá a partir daquele momento e como os personagens se reencontrarão.

Esse é um filme francês muito denso, com ótimas interpretações, um roteiro significativamente inteligente, fotografia expecional, dando enfoque à coloração avermelhada e à polissemia de seu significado na obra. Sem contar que o diretor - cujo nome não sei escrever - conduz maravilhosamente toda a drama, semd eixar pontas soltas, sem exagerar naquilo que quer mostrar e sem estragar momentos do filme com um ritmo muito rápido ou muito devagar. Certamente, é um dos melhores filmes a que assisti em setembro.

Luís
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17 de jun. de 2010

Secreções, Excreções e Outros Desatinos

 
Brasil, 2001, 141 páginas (Editora: Companhia das Letras)
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Devido a um comentário casual do professor de literatura do cursinho sobre essa obra, me interessei por lê-la. O próprio título já sugere uma opção de narrativa diferente das inúmeras publicações que vemos anualmente; o tema abordado nesse livro de contos - catorze, no total - são assuntos não tão comuns, por vezes bastante escatológicos, que aqui são explorados abertamente.

Os contos abragem situações ordinárias, como o ato de defecar, mas as tranformam em curiosos momentos, que rendem uma análise sem julgamentos por parte do narrador. Os títulos são bastante sugestivos, instigando a curiosidade do leitor, como o primeiro, nomeado Copromancia. Tal conto fala sobre a maneira como um homem passou a observar as fezes, analisando-as conforme a forma, a coloração, o cheiro e, inclusive, o peso! A partir daí, cria um catálogo com fotos das duas vezes diárias em que vai ao banheiro. Mais ou menos, todos os contos seguem a linha do incomum, embora muitos deles sejam bastante corriqueiros, como o texto Coincidências, no qual a morte é o resultado de vários encontros sucessivos sem motivos aparentes. Desconexos, cada conto nos mostra um tema diferente, revelando elementos constrangedores que acercam a vida dos personagens.

Na minha opinião, a produtividade dessa obra é meio desigual. Dentre todos os contos, considero três bastante eficientes em suas abordagens; outros são mais normais, apresentando pouca diferença de capacidade linguística em relação a outros autores e com temas mais banais, como o assassinato ou reuniões para discussão de problemas pessoais. Outro fator que me incomodou um pouco - não que eu não seja aberto a diferentes formas de escrita - foi a maneira como o autor conduz os diálogos, sem uso de aspas ou travessão, como se estivesse começando um outro parágrafo normal. É claro que após a primeira página já se está acostumado a isso e a leitura flui, mas a estética é estranha. A respeito da estética, também não gostei da capa do livro. A imagem mostrada certamente não interfere no conteúdo das páginas, mas um leitor que desconhece o tópico discutido em Secreções, Excreções e Outros Desatinos passaria os olhos sem perceber o livro, de tão irrisória que sua capa é. Ainda que o leitor conhecesse sobre o que é falado aqui, ele se sentiria mais atraído por algo chamativo, obviamente.

Não o considerei uma obra significativa. É no máximo uma leitura de transição, que é aquela da qual você se utiliza enquanto não encontra um livro realmente interessante para ler. A quantidade de páginas também não permite que o leitor gaste muito tempo a lê-las; eu, por exemplo, o li praticamente em uma noite. Quanto às excreções, secreções e desatinos, os textos que melhores representam isso são Copromancia, O Estuprador - que atingiu o auge da escatologia -, e Mulheres e Homens Apaixonados. As outras narrativas não são tão interessantes, algumas são bastante chatas. Então, como eu disse, acima, leiam-no, mas não dê prioridade a esse livro, que certamente é apenas um passatempo. Ainda que aborde nojentices, é o tipo de lembrança que após uma semana já desapareceu…

Luís

16 de jun. de 2010

Duplex

Duplex, 2003, 89 minutos. Comédia.

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Esse filme já passou na TV e muitas pessoas falaram sobre ele para mim. Disseram que era legal, engraçado, etc. Duplex traz Drew Barrymore e Ben Stiller com casal protagonista, que encontra um apartamento bastante agradável, onde decidem morar. Porém, a inquilina que mora na parte de cima do apartamento não os deixa em paz, atormentando-os de diversas maneiras. À medida que a velha os inferniza, o casal passa a sentir mais vontade de tirá-la de lá.

Eu não posso dizer que gosto de Ben Stiller, porque eu acho que ele definitivamente não é o tipo de ator do qual eu gosto. Acho que ele é muito pra baixo, não consegue incorporar o personagem direito e, por isso, desde sempre vem atuando como ele mesmo. Já Drew é talentosa e gosto dela, embora sua filmogradia tenha qualidade irregular. Em Duplex, no entanto, os dois atores, que também são produtores desse longa, parecem combinar perfeitamente, formando um casal bastante agradável. Pelo menos, eles conseguem nos convencer nos minutos iniciais. Aliás, os primeiros dez minutos são aqueles em que o espectador realmente ri; a não ser que esteja aberto a situações embaraçosas e constrangedoras completamente ausente de humor que começam a surgir ao longo do filme. Com disse, é no início que está o charme da comédia, que é quando o tom cômico acontece através da seriedade, principalmente quando a velha começa a falar sobre datas, deixando o casal perplexo com a sua possível idade.

A partir daí, o exagero começa e as cenas ficam cada vez mais absurdas, incluindo explosões, choques, tiros de arpão, etc. Acredito que se a sutileza tivesse se mantido, seria bem mais engraçado. A atuação dos atores corresponde ao que se espera numa comédia: não há grandes momentos em que podemos vê-los atuando, a maioria das cenas se compõe de cenas que tentam provocar risos e, vez ou outra, arranca um sorriso bobo de quem assiste. O único elemento a quem recomendo atenção especial é na velha, interpretada Eileen Essel, que consegue mostrar muito bem o lado maligno das velhinhas; sempre com aqueles comentários pseudo-maldosos escondidos sob outros comentários, delírios estúpidos, pedidos incabíveis e aquela delicadeza forjada de porta enferrujada. O problema é que ainda conseguimos encontrar certo humor enquanto a velhinha continua sendo uma "velhinha", mas aos poucos, conforme ela começa a agir como se tivesse planejado tudo, vai ficando mais incoerente. O que quero dizer por "planejar tudo" é que começamos a ter a impressão de que tudo é proposital e não ingenuamente como no começo, embora nós saibamos que nenhuma pessoa pode ser tão lerda quanto a velha e que, logo, tudo o que faz é porque quer fazer.

Tenho que fazer um comentário bastante positivo: num momento do filme, quando Alex e Nancy estão prester a consumar o ato do amor - transar, para ser mais claro -, eles colocam para tocar uma música brasileira! Adoro isso... Duplex, para mim, é um filme que começa bem, mas aos poucos perde o interesse do espectador. Porém, não é ruim; no entanto, não posso dizer que o filme me agradou totalmente, pois isso definitivamente não aconteceu. Acho que é um bom filme para uma noite qualquer, sem expectativas; contudo, não é uma obra para se ver duas ou três vezes. Uma basta.

Luís
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14 de jun. de 2010

Mentiras Sinceras

 
Separate Lies. Reino Unido, 2005, 85 minutos. Drama / Romance.
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Esse filme estava há algum tempo em casa. Como estava disposto a por em dia todos os filmes que eu tenho e que ainda não vi, resolvi dispor de preciosa hora e meia para ver Mentiras Sinceras. O título nacional escolhido já nos indica que se trata de uma romance e, obviamente, está de alguma forma relacionado a adultério. Tendo em mente essa perspectiva - de que veria um filme interessante sobre adultério -, eu me deitei e comecei a vê-lo.

Anne e James (Emily Watson e Tom Wilkinson) parecem manter o casamento ideal. Mas isso até que aparece em cena um terceiro personagem, Bill (Rupert Everett), protagonista de um trágico acidente que ameaça desvendar e desatar as vidas de Anne e James para sempre. (fonte - cineplayers) Basicamente é essa a história do filme e eu realmente acredito que uma proposição simples como essa poderia rende um grande filme, mas não é exatamente isso o que acontece.

O filme todo é mostrado com um ritmo bastante lento e por vezes pesaroso. Não há motivo para tamanha lentidão, ainda assim o enredo não se desenvolve, ficando estagnado aos mesmos diálogos e à mesma situação. Após vinte minutos de lenga-lenda, temos a situação que servirá como guia, dando origem a todas as suposições, rompimentos e, principalmente, suspeitas. Foi a partir desse momento que pensei que tudo mudaria, mas, para a minha surpresa, o que deveria ser uma carta na manga - e que deveria ficar guardada até próximo do final - , o ápice acontece com pouco mais de 30 minutos. A minha reação foi de absoluto espanto, uma vez que a tal revelação era a única verdade encoberta. Assim, o que acontece a partir desse momento são várias indas e vindas, numa clara amostra da instabilidade emocional da personagem feminina - que contraditoriamente é bastante segura a respeito dos seus amores.

O eleva a atuação dos atores é o carisma que todos têm. Nenhum tem um grande desempenho, então, como são carismáticos, isso se tornou um ponto a favor de cada um. Emily Watson está aparentemente bem como Anne, a esposa adúltera e assassina. Com alguns truques, a atriz soube personificar razoavelmente bem uma mulher que ama o marido e o mamante e que, ao mesmo tempo, que servir aos dois. Tom Wilkinson vive um personagem semelhante ao que viveu em Entre Quatro Paredes: um homem confuso, que começa a se perguntar a respeito de quais decisões tomar. A interpretação dele é inclusive semelhante àquela do filme que citei; a diferença, no entanto, é que em vez de perder um filho ele perdeu a mulher. Rupert Everett talvez seja o mais fraco dentre os três, mas, mesmo assim, nos apresenta um personagem interessante, que é soberbo e seguro, mas que fraqueja diante de qualquer perigo. Se ao ver o filme vocês perceberem que os personagens não são exatamente assim como citei, levem em consideração que essa é uma análise subjetiva e eu tentei enxergar através das ações dele o máximo possível. No fundo, as atuações são não mesmo grandiosas nem os personagens o são.

O filme segue lento, mostrando pouco, dispersando tanto quanto pode e se perdendo em algumas poucas subtramas. Talvez a má colocação do ápice do filme tenha influenciado no quanto eu gostei dele. Acredito que seja um filme mediano, com aspectos técnicos interessantes e potencial para ser um belo drama. Mas acaba falhando e a obra que vemos é apenas morna - requentada, provavelmente.

Luís
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12 de jun. de 2010

Convite para um Homícidio

A Murder is Announced - Agatha Christie, 1950, 250 páginas. Romance policial.

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Não tenho dúvidas de que algumas pessoas nasceram para a literatura. Agatha Christie, sem sombras de dúvida, nasceu para escrever romances policiais com intrincadas situações que são belamente solucionadas no final pelos seus eficazes personagens Poirot ou Miss Jane Marple, sendo que essa é a participante desse livro. O que você faria se no jornal local fosse noticiado um convite para que todos os moradores do bairro apareçam em sua casa para participarem de um homicídio? É exatamente isso que acontece e, pensando tratar-se de um brincadeira, Letitia Blacklog recebe alguns de seus vizinhos em sua casa para o tal homicídio. O que era para ser uma brincadeira, no entanto, acaba com dois tiros disparados contra a dona da casa e também a morte do assaltante. s tentativas de assassinato, porém, não param…

É nesse rede de suspeitas que os personagens se encontram e se confrontam. A dúvida paira sobre todos e inclusive sobre os mais fortes, que insistem em permanecer calmos e inalterados. Nunca fui fã de Jane Marple, prefiro muito mais as células cinzentas de Poirot. A velhinha simpática, apesar de muito inteligente, parece sumir junto com os oturos personagens e, preconceito ou não, acho que ela não tem o perfil de velhas que se aventuram em crimes. Enfim, apesar disso, esse é um livro muito bom! Principalmente pelas reviravoltas que surgem conforme a estória vai se desenrolando e mais fatos são apresentados. Há a possível tentativa de matar Letty assim como a possibilidade de ela não ter sido o alvo; depois surge o fato de ela estar prestes a receber uma herança e mais tarde surge a história sobre os gêmeos que receberiam a herança caso Letty morresse. O mais vantajoso de ler esse livro é que ele realmente permite que o leitor treine as suas “capacidades detetivescas”, pois todas as informações contidas na história são fundamentais para o resultado final, sem que nada escape ou surjam furos.

O que há de mais esperto no livro é a forma como pequenos detalhes, que às vezes pensamos serem erros, são de grande importância para que cheguemos às conclusões finais de maneira eficaz. É claro que Agatha Christie não é o tipo de literatura a qual adultos se dedicam; eles preferem coisas mais “cultas”, mas eu ainda acho que Agatha é o tipo de autora que deixa o leitor mais inteligente e com uma visão mais ampla dos acontecimentos, de uma maneira geral. Aos que duvidam, sugiro que leiam esse livro. E vão descobrir que não reconhecer uma pessoa assim que a vê, pode ser perigoso. Tanto quanto receber visitas em casa, lubrificar portas, gostar de flores…

Eu recomendo totalmente esse livro para aqueles que gostam de aventuras policiais cheias de suspense e que estão preparados para se surpreender com o final de uma história que começa absurda e termina de maneira bem coerente.

Luís

10 de jun. de 2010

Procura-se Amy

Chasing Amy. EUA, 1997, 113 minutos. Comédia / Drama / Romance.
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Estava passeando pela internet quando me deparei com uma lista interessante falando sobre como é explorada o sofrimentos dos homossexuais nos filmes. Num dos itens listados constava Procura-se Amy e a breve descrição do autor do artigo fez com que eu me interessasse pelo filme - mesmo que Ben Affleck estivesse à frente do elenco. Eu não esperava que o filme fosse grandioso, tampouco esperava que fosse medíocre. E minhas expectatitvas estavam certas: trata-se de um filme divertido, que vale a pena ser visto.

Holden e Banky são amigos há mais de vinte anos. Os dois trabalham juntos na criação de um comic book, dividem o mesmo apartamento e tratam-se definitivamente como melhores amigos, porque de fato o são. Um dia, Holden conhece Alysson, uma roteirista bastante divertida e espontânea que faz com que ele rapidamente se interesse por ela. A situação se complica quando Holden descobre que Alysson é lésbica, mas - como acontece em todas as comédias românticas - o amor e entrosamento fala mais alto, de forma que Holden e Alysson se aproximem e, como consequência, surjam conflitos entre ele e seu melhor amigo.

Muitos podem até achar que esse filme seja pura babaquice ou que seja construído usando como base lugares-comuns. Na minha opinião, trata-se de uma obra interessante, que consegue ampliar a mente dos espectadores mais fechados em relação às relações homossexuais. Boa parte dos diálogos, obviamente aquela que cerca dos personagens Holden e Banky, são focadas nos pensamentos estereotipados mais abundantes, que incluem o conceito de "comer" - concepção muito bem explicada num diálogo acirrado entre Alysson e Banky -, "virgindade" e relacionamentos sexuais "padrões". Acredito que antes de mais nada, esse seja um filme para explicar aos héteros que uma relação sexual pode se consumar sem a participação de um membro do outro sexo e que a intensidade do prazer não tem a ver com o tamanho do pinto, mas sim com a vontade de estar junto com a outra pessoa - seja ela homem ou mulher ou os dois.

Além dos bons diálogos esclarecedores, há também um desenvolvimento legal do personagem Banky, que é bastante coadjuvante e que certamente merecia mais atenção. É difícil saber o que ele sente pelo seu melhor amigo. O personagem parece ser um turbilhão de pensamentos - amigos há tantos anos, desde quando ele passou a ver Holden com outro olhar? E é difícil para o espectador saber com que perspectiva ele enxerga: sua preocupação implica no medo de que Alysson se torne o único foco de atenção do amigo ou sua preocupação jaz no receio de que estejam enterradas as possibilidades de um envolvimento amoroso entre ele e o amigo. A somar, há ainda a proposta reflexiva de que por conviverem juntos há muito tempos, surge certo entrosamento a mais, algo que não se limita à amizade fraternal. Achei realmente uma pena que o filme não trabalhe muito bem esse ângulo e deixe esse pensamento flutuar rapidamente, sem retomá-lo e sem se aprofundar um pouco mais. Os temas pelo quais o filme transita poderiam render análises mais interessantes, sem fazer com que o filme perca o seu tom humorado. [SPOILER] Depois de tudo pelo que os personagens passam, o ápice do filme acontece quando Holden, personagem de Ben Affleck, explica a Alysson e a Banky o que sente pelos dois, beija o amigo e confessa sentir-se um pouco atraído por ele e, de quebra, propõe uma relação a três, a fim de que ele tenha pelo menos um pouco da experiência de Alysson e assim possa entendê-la melhor. O ato não se consuma e tais eventos causam um rompimento aparentemente definitivo entre todos. Na minha opinião - que sou um cultuador admirado da amizade utópica dos filmes -, o momento mais triste é a separação de Holden e Banky: bissexuais ou não, apenas amigos ou algo mais, o sacríficio da amizade supera qualquer envolvimento amoroso incompleto. [FIM DO SPOILER].

Procura-se Amy não é um grande filme e só saberão quem é a Amy do título quando o virem. Ele é apenas mediano, com um roteiro simpático, uma boa trilha sonora, um desenvolvimento satisfatoriamente linear dos personagens. Nem mesmo a pífia e costumeira atuação de Ben Affleck me irritou - consegui inclusive achá-lo charmoso e melhor do que o habitual. Jason Lee, como coadjuvante, supera o ator principal nas cenas em que aparece e isso deve ser considerado ao avaliar o elenco. A atriz faz com que nos desesperemos um pouquinho nas cenas de grande carga emocional, já que ela grita como uma gralha louca e fere os nossos ouvidos. De um modo geral, os elementos cinematográficos compõem um filme legal para se ver sozinho ou acompanhado, numa tarde ou noite qualquer. Trata-se de uma obra não muito marcante, mas que se mostra simpática e que por isso merece ser vista - mesmo que você venha a esquecê-la algum tempo depois.

Luís
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8 de jun. de 2010

O Morro dos Ventos Uivantes

Wuthering Hieghts - Emily Brönte, 1847, 390 páginas. Drama.
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O primeiro que quero dizer, antes de começar a falar sobre a obra é: não se detenham a ler o livro somente por causa da data em que foi publicado. Emily Brönte criou não somente uma obra que representa fielmente características humanas que devem existir desde que Adão e Eva foram expulsos do paraíso, mas foi além, limitando qualquer outra obra romântica escrita depois dessa a simplesmente copiar a grandeza de sentimentos que ela, a autora, foi capaz de descrever em seus personagens. Ler esse livro não é como ler um dos romances que somos obrigados a ler quando estamos no colégio, como Senhora, Iracema, Amor de Perdição…

Se pudesse classificar com poucas palavras esse livro, eu diria que é “uma história de amor excepcionalmente cruel”. A história fala sobre a entrada do órfão Heathcliff na vida dos Earnshaw, o que causou alegria à pequena Catherine e incômodo no irmão dela, Hindley. Cada vez mais próximos, Heathcliff e Catherine descobriram-se apaixonados um pelo outro. Ela, no entanto, começou a passar mais tempo com Edgar Linton e sua irmã, Isabel Linton. Entre indas e vindas e também grandes mudanças comportamentais, Catherine acabou casando-se com Edgar, provocando a ira de Heathcliff, que fugiu disposto a voltar para fazê-los se arrepender. Anos depois, com imensa fortuna, retorna à Tempetuosa, casa em habitava junto com Catherine, que agora mora na Granja da Cruz dos Tordos.O irmão de Catherine, Hindley, tornou-se proprietário da casa depois da morte de seu pai e tão logo que sua esposa morreu, caiu no vício do jogo e dedicou-se a bebida, deixando à deriva seu filho Hareton e tornando a vida de todos que residiam na casa um inferno. Com a volta de Heathcliff, as coisas pioram, já que este “devolve” todas as más gentilezas que Hindley lhe dispusera durante a infância, chegando inclusive a transformar o pobre Hareton Earnshaw num criado. A partir daí, dedica sua vingança a quem realmente quer atingir: Catherine e Edgar Linton.

Não encontro palavras para definir com excelência o que esse livro singifica. Incrível, porém, é pensar que esta é a única obra da inglesa Emily Brönte; escreveu um único livro, que hoje é considerado um clássico da literatura, junto com os livros de Shakespeare! Os seus personagens todos são bem delineados, possuem formas quase humanas, que muitas vezes durante a leitura quase chegam a transpôr às páginas. A caracterização do amor que sentem um personagem pelo outro também é muito boa, ainda que o resultado desse amor não seja bom. Tudo que fazem os personagens, fazem por amor, mas isso chega a ser quase destrutível. Tanto Catherine provoca a dor em Hathcliff como a recíproca também é verdadeira; amam-se mas não se permitem estar juntos: ela por respeito a condição que escolheu (de ser esposa de outro) e ele por obstinação em vingar-se dos dois que supõe tê-lo traído. Ainda que a ame, não lhe poupa o mal capaz de causar; quanto a Edgar Linton, sua vingança é mais cruel e prologada. A autora não limita sua história a três personagens e isso faz com que leiamos um épico: vemos o passar das gerações, vemos os que vieram depois de Heathcliff e Catherine, e ainda acompanhamos a vingança desesperada daquele que foi traído. A passagem do tempo está diretamente associada à perversidade do personagem principal, que num determinado momento já busca destruir a vida de Edgar Linton, Catherine, Hindley, Hareton e Isabel; não obstante, também destrói a vida Linton, seu filho, e Cathy, filha de Catherine.

A história toda é narrada para o Sr. Lockwood pela sra. Ellen Dean, que foi governanta da Tempestuosa quando todos eram crianças e mudou-se com Catherine quando esta se casou para Granja da Cruz dos Tordos. Outro ponto é que a história toda é mostrada pela narrativa de outra personagem que, embora parece dizer somente a verdade, pode aumentar ou diminuir bastante enquanto relata os acontecimentos. Quando o livro começa, é bastante difícil compreender quem é quem com a descrição feita pela autora, mas aos poucos cada personagem ocupa seu lugar no espaço e tempo, permitindo que o leitor não fique perdido ao ler o romance. A edição do que livro que peguei era bastante antiga, provavelmente anterior à decada de 60 e isso fez com que inicialmente eu me espantasse com algumas palavras escrita conforme a grafia regente na época; há no livro, portanto, bastantes mesóclises e também há muitas combinações de pronome. Em vez de complicar, eu achei, no entanto, que realçou as característica do livro, que se passa no final do século XVIII. A noção de tempo na história, às vezes, fica meio perdida, já que ao leitor complica tentar colocar os acontecimentos numa linha cronológica, mas, depois, por meio de algumas frases e comentários de Ellen Dean, podemos situar o acontecimento a um determinado ano ou, pelo menos, saber quanto tempo se passou desde que outro evento aconteceteu.

Se puderem ler esse livro, eu realmente recomendo que o leiam. Não retrata bem somente a sociedade da época, mas limita o espaço geográfico no qual acontecem os eventos, forçando o leitor a estar quase lado a lado com toda a fúria de Heahtcliff, a melancolia de Catherine, o horror de Edgar Linton, as ilusões de Isabel; a proximidade que a autora conseguiu criar é imensa e considerar seu livro como uma obra-prima não é exagero. Acredito que o livro engloba tanto em tão poucas páginas, são tantos sentimentos, tantos acontecimentos, que até me sinto meio vazio depois de lê-lo. Não é à toa que Isabella Swan, da série Crepúsculo, lê tanto esse livro: não há como negar o quão boa essa obra é nem como parar de lê-la. E a obra é tão boa que já recebeu cinco adaptações para as telas de cinema entre os anos de 1939 e 2004.

Luís

6 de jun. de 2010

A Profecia (1976)

The Omen. Estados Unidos, 1976, 110 minutos. Terror. Dirigido por Richard Donner.
Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora e indicado a Melhor Canção Original (Ave Satani).
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A Profecia é um daqueles filme que merecem destaque especial. Lançado há 34 anos, o filme já é adulto, está quase entrando na meia-idade - mas curiosamente permanece recente e intenso, como se tivesse sido lançado ontem. Essa obra, segundo muitos cinéfilos, compete com O Exorcista na categoria "filme mais assustador da década de 70". Eu não ouso compará-los; são obras bastante diferentes, de caracteres distintos e embasadas em estruturas que, embora semelhantes quanto ao gênero, se diferem quanto à maneira como são exibidas. Desse modo, A Profecia é um filme singular e incomparável - assim como O Exorcista também o é.

Somente depois de dois anos é que eu venho escrever sobre essa obra aqui no blog. Curioso que eu me lembrava de modo nebuloso desse filme até revê-lo recentemente (em boa companhia, devo acrescentar). Assistir a uma obra como essa - tão densa, embora tão implícita - é realmente um prazer, daquele que te deixa contente por duas semanas. No embalo, gostaria de ter revisto também o remake de A Profecia, lançado em 2006 - isto farei mais adiante, para então expor aqui, como fiz com Sexta-Feira 13, os prós e os contras a respeito de cada aspecto dos dois filmes. Eu até acho que seja desnecessário citar a sinopse do filme, uma vez que todos, mesmo aqueles que ainda não viram qualquer uma das 5 obras (o filme original, duas sequências, um filme pra TV e um remake) conhecem a famosa figura de Damien. Ainda assim, vale a pena esclarecer: Robert Thorn toma conhecimento do parto da mulher, que teve um filho natimorto. No hospital, um padre lhe diz que uma criança ficou órfã logo ao nascer e que Robert poderia substituir o seu filho verdadeiro pela outra criança, dando-lhe um lar e, ao mesmo tempo, não decepcionando a sua esposa. Robert segue a sugestão do padre, mas com o passar dos anos tanto ele quanto a esposa percebem que há algo bem estranho com Damien.

Eu diria que não há defeitos em A Profecia. E não temo dizê-lo, porque eu realmente acredito nisso. Quando nós o vemos hoje, temos a impressão de que uma ou outra passagem soam um pouquinho superficiais, mas isso se deve à inexistência de computação gráfica que compusesse uma cena totalmente realista. Se há um defeito no filme, ele se deve a fatores externos, como a época em que foi produzida a obra. Por outro lado, a década de 70 foi bastante favorável a essa produção; se tivesse sido criada hoje decerto seria um filme enfeitado com efeitos especiais terríveis que mal acrescentariam qualidade ou informações ao conjunto formado pelo enredo. Dada a explicação, insisto no pensamento de que não haja defeitos notáveis.

O que faz com que A Profecia seja uma obra tão singular é o seu enfoque sugestivo: pouco é visto de fato, poucas informações ficam explicitamente claras. Cabe ao espectador depreender os seus significados, tudo no filme - desde as citações bíblicas até as cenas mais dramáticas - são implícitas. O grande acerto de Donner, iniciante à época da composição do filme, é se preocupar com as atuações: todos os atores demonstram sentir medo real, como se eles estivessem de fato envolvidos por uma atsmosfera maligna. Numa cena, o medo que Lee Remick demonstra é mesmo real, já que os macacos realmente atacaram o carro! Há momentos colossais no filme: os olhos dos atores. Todos têm seus olhos focados pela câmera; enxergamos na profundeza de seus olhares vários sentimentos: medo, raiva, obsessão. Talvez sejam esses close-ups os momentos mais tensos do filme, somados obviamente às cenas de tensão psicológica, como a busca de Robert pela verdade a respeito de Damien. Billie Whitelaw, intérprete de Mrs. Baylock, a babá protetora de Damien, está simplesmente fantástica e a cada momento em cena é como se o filme fosse apenas dela. Poucas vezes vi expressão tão realistas quanto as de Lee Remick! As duas atrizes são mesmo muito talentosas, mesmo que apareçam relativamente pouco, principalmente se comparadas ao protagonista Gregory Peck e até mesmo ao coadjuvante David Warner. O elenco de A Profecia está realmente em sintonia.

A história do filme é basicamente simples e exatamente por isso o diretor teve como cuidar bem dela, tornando-a verossímil tanto quanto possível. Apenas uma coisa me deixou curioso: [spoiler] como Mrs. Baylock simplesmente saiu do hospital depois de ter jogado Katherine Thorn pela janela? Duvido que tenha sido tão fácil assim [fim do spoiler]. Os enquadramentos das cenas são muito bem realizados e a fotografia acizentada em alguns momentos provocam um temor maior no espectador. Basta ver a cena em que Robert e Jennings, o fotógrafo, procuram pelos corpos do filho biológico de Robert e pela mulher que deu à luz Damien. Outro fator muito positivo é a inclusão do cão - aquele rotweiller consegue impor medo pelo olhar, o que é maravilhoso para um filme de terror. Outro aspecto importante é a trilha sonora: sempre em ritmo crescente, acrescenta um clima mais tenso ao filme, ampliando o sentimento presentes nas cenas. Ave Satani, que dá início ao filme, é memorável e sempre seremos remetidos a esse filme toda vez que ouvirmos a música.

Depois de tudo isso que leram, minha opinião ficou clara: A Profecia é um filme que merece ser visto, porque poucas obras assim são feitas ultimamente. Justamente pelo seu primor psicológico, o filme consegue captar a atenção até mesmo do espectador mais exigente - que pode não considerá-lo uma obra-prima, mas com certeza vai admitir que suas características positivas são mesmo notáveis. Minha sugestão é: chame alguém legal para ver o filme com você, apague todas as luzes, coloque-se debaixo de um cobertor e preste atenção no filme, do começo ao fim dele; absorva o máximo que puder e se entretenha com uma história bem interessante!

Luís

4 de jun. de 2010

O Clube do Filme

The Film Club, 230 páginas (Editora Intrínseca), 2009. Autor: David Gilmour.
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A primeira coisa que quero que reparem é na beleza da capa, pois foi ela quem me chamou a atenção para o livro. Olhei-o atento, senti o revelo do título e, por fim, li as orelhas: diante das dificuldades com as notas e o crônico desinteresse pela escola, Jesse Gilmour ouve uma proposta bastante tentadora do pai, na qual ele poderia deixar de ir à escola, desde que os dois assistissem juntos a três filmes por semana. Estabelecido tal acordo, o garoto, aos 15 anos, não precisaria pagar aluguel e poderia fazer o que mais quisesse, desde que respeitasse algumas poucas regras.

À primeira vista, pode parecer apenas um relato comum sobre um pai e um filho e a relação existente entre eles, mas o livro muito bem além disso. Não somente é uma amostra cinematográfica como narra com extrema eficiência os problemas pelos quais passam um adulto que não consegue emprego e um adolescente com problemas sentimentais. Logo no primeiro capítulo do livro somos apresentados à objetiva proposta do pai, que rapidamente é aceita por Jesse; nas primeiras páginas já é exibido o primeiro filme, aquele que daria início à jornada de três anos sentados em frente à TV, acomodados em poltronas e no sofá, assistindo aos melhores e, eventualmente, piores filmes já realizados. Para os que tem um bom conhecimento cinematográfico e que tem um pouco de noção sobre o contexto de cada filme, sabendo o que representam (considerando a época em que foram concebidos), já se surpreendem com o segundo filme ao qual David e Jesse assistem: Instinto Selvagem. E o livro todo é assim, uma agradável surpresa.

Em meio às sessões de filmes, há também o problema financeiro de David, devido à crise de desemprego, que não é sanada por boa parte do livro; Jesse, extremamente propenso aos relacionamentos aos quais se entrega densamente, sofre com as diversas experiências românticas, como o namoro com uma garota que consegue seduzir a qualquer um e que ainda o provoca perigosamente. Como se isso tudo não fosse suficiente, há ainda relatos de conversas profundas entre pai e filho, com descrições de certos assuntos e também narrativas a respeito dos problemas que às vezes Jesse criava. Como são narrados três anos, então são muitas as situações narradas nesse livro, como o envolvimento de Jesse com drogas, novas namoradas, a sua inclusão no mundo musical, etc. Mas acredito que haja predomínio dos filmes. São tão bem retratadas algumas cenas de alguns filmes, que se percebe a excelência da arte de assistir a um filme; as descrições feita são às vezes tão detalhadas que pode influenciar aqueles que (ainda) não assistiram às obras citadas, tamanha a precisão que David usa para defini-las. Acho que, sobretudo, esse é um livro dedicado à crítica de filmes, e, se classificado assim, resulta numa obra quase irrepreensível.

É claro que esse está longe de ser um livro perfeito; ainda que eu goste de relatos de casos reais como esse (porém não como Marley e Eu), ainda mais se somados a outro tópico que também gosto (cinema), não os vejo com a mesma intensidade com a qual vejo os romances. E, em alguns momentos do livro, há passagens meio chatas, que parecem perdidas ali e que poderiam ter sido omitidas; isso, no entanto, não transforma esse livro em algo mediano; tais “erros” não interferem tanto, então o livro, na minha opinião, é muito satisfatório e deve ser lido. Insisto que os melhores momentos são os extremamente descritivos, nos quais David analisa com ênfase as cenas mais impactantes de alguns filmes, acrescentando inclusive diálogos do filme ao livro, como o que vemos logo no início, entre Catherine Trammel (Sharon Stone) e o detetive de Basic Instinct. Não é surpresa imaginar que partes boas como essas haveriam por todo o livro, ainda mais se considerarmos que David exercia a profissão de crítico de cinema para um jornal de grande circulação. O Clube do Filme é agradavelmente surpreendente porque é um misto de documentário sobre cinema, com a inclusão de notas a respeito de algumas obras e suas traduções e uma filmografia no final, com relatos da vida dos personagens reais David, Jesse, Tina, Maggie, etc. Certamente vale a pena lê-lo.

Luís

2 de jun. de 2010

Verônica

Brasil, 2009, 92 minutos. Drama.
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Eu realmente não sei se o fato é uma ascenção do cinema nacional ou se a minha perspectiva em relação a ele mudou, pois tenho descoberto obras interessantes criadas aqui no Brasil. Creio que seja um misto dos dois fatores acima, mas o fato é que eu realmente gostei do filme Verônica, que soube muito bem como retratar algumas situações vividas numa região onde o tráfico impera imponente. O filme nunca tinha me chamado atenção; um dia, no cursinho, exibiram-no para servir como coletânea para redação e - felizmente - acabei descobrindo uma obra interessante, que vale a pena ser vista.

Verônica é uma professora do primeiro ciclo do ensino fundamental completamente desiludida com sua profissão. Um dia, após a aula terminar, os pais de um aluno não vem buscá-lo e Verônica decide levá-lo até a casa dele. Quando chega lá, descobre que os pais do garoto foram assassinados pelos traficantes do local e, sem saber o que fazer, acaba levando o garoto até sua casa. Logo, descobre que o menino também é alvo dos assassinos, porque carrega consigo uma prova muito importante, que incrimina mais pessoas do que apenas os traficantes da favela.

A princípio, pensei que Verônica seria uma obra como Cazuza: muito novelística, dividida como se fosse em capítulos, se interrompendo no auge da cena. Então, constatei que bem diferente da dramaturgia, Verônica é realmente construído sob os moldes cinematográficos. O ritmo do filme ajuda muito a gostarmos dele, porque se fosse mais lento certamente teríamos dificuldades em assimilar o que é mostrado com o dinamismo do tráfico que, como sabemos, age muito rápido e, por isso mesmo, espalha o medo nas regiões. O roteiro do filme é grande porque soube aproveitar bem os diversos aspectos presentes no cotidiano para fazer uma bela crítica ao governo: os professores da rede pública se sentem desencorajados a dar aula por causa do péssimo salário que recebem, o tráfico domina de tal forma as favelas que são os traficantes os donos da razão, a polícia é tão corruptível - também por causa de seu salário - que acaba entrando nos acordos e se afiliando ao comércio de drogas. Muito bem abordados esses quesitos, o filme me conquistou exatamente por mostrar tudo isso sem ser pedante, como outros filmes brasileiros cujo intuito é "mostrar a realidade", mas que acabam virando um show de horrores com bordões infames e desnecessários. Se eu fosse analisar a fundo tudo o que o filme mostra, eu escreveria aqui não uma resenha, mas criaria uma tese questionando as circunstâncias político-sociais desfavoráveis que envolvem o Brasil. Como não é isso que quero, melhor não me aprofundar mais.

Andréa Beltrão, conhecida como a Marilda, de A Grande Família, está realmente muito boa nesse filme. Em nenhum momento desconfiamos da veracidade das situações pelas quais sua personagem passa e, ao aparecer como professora, a atriz conseguiu mostra com muita perfeição aquilo que certos professores são em sala de aula: meros enfeites que não atraem os alunos, que, por sua vez, atém-se às brincadeiras e perturbam o andamento da matéria. Desta vez, uma crítica ao ensino! Marco Ricca já tem uma expressão meio dúbia e colocá-lo no papel do marido de Verônica foi mais um ponto certo, contribuindo ainda mais para o tom de "baseado na realidade". O fato de ela se ver diante de um homem que é seu ex-marido - o que nos faz pressupor que ela o conheça bem - e não conseguir afirmar se ele é o bandido ou o vilão nos apresenta mais uma crítica: as pessoas nunca se conhecem bem o suficiente. A junção dos dois atores resulta em bons momentos de ação e de compaixão. Matheus de Sá, o ator-mirim intérprete de Leandro, consegue nos convencer em alguns momentos e também não nos convence em muitos outros, mas o talento dos atores com quem ele contracena acaba nos distraindo desse pequeno empecilho.

Existe um único problema no filme: o final. Acho que em filmes como esse, cuja intenção é mostrar o desenvolvimento de um grande problema - que no caso do tráfico não somente é grande, como praticamente irremediável -, não pode se abster de não nos apresentar um final. Queremos saber como a história termina e que fim levaram os personagens. Não vou me prolongar contando nada, porque vocês devem ver o filme pra conferir, mas, de certa forma, Verônica se assemelha ao filme Terra Estrangeira, dirigido por Walter Salles e Daniela Tomás, com Alexandre Borges e Fernanda Torres. O meu argumento principal é que um filme que lida com a objetividade não pode simplesmente apresentar uma conclusão subjetiva, dando a entender que. Tem que mostrar, tem que explicar e, nesse quesito, Verônica falha.

Por fim, eu afirmo que gostei bastante do filme e eu o recomendo a quem gosta de cinema nacional e também àqueles que não gostam, porque é uma obra muito interessante, numa clara amostra de que o cinema brasileiro está evoluindo - o que já vem acontecendo a algum tempo e o que eu espero que continue a acontecer. Embora tenha o problema que apresentei no parágrafo anterior, sua qualidade é inquestionavelmente boa e conta com ótimo roteiro, ótimo elenco e seu resultado final é muito positivo.

Luís