18 de jun. de 2010

A Fraternidade é Vermelha

Rouge. França, 1994, 94 minutos. Drama.
Foi indicado a três Academy Awards, nas categorias Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Fotografia.
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Este é o último filme da Trilogia das Cores, embora tenha sido o primeiro a que assisti. Já havia lido críticas boas e outras ruins sobre esse filme; uns alegavam haver poesia na obra, outros alegavam haver monotonia. Eu acho que há os dois, mas na medida certa, de forma que o espectador compreenda toda a situação e possa se aprofundar nas situações que o filme mostra. Acima de tudo, o enredo aborda o lado psicológico da relação entre os dois personagens principais.

Valentine é uma moça ocupada, cuja vida é dividida entre os trabalhos que faz como modelo e as aulas de ballet. Pretende mudar-se para Londres, o namorado está. Numa noite, ao atropelar uma cachorra, ela decide levá-lo ao seu dono (o endereço está escrito na coleira) e acaba conhecendo um juiz excêntrico que ouve as conversas telefônicas de seus vizinhos através de um equipamento que tem em sua casa.

Certamente, a Fraternidade É Vermelha é um daqueles filmes que você tem que rever, para que você possa ter a certeza de que o compreendeu completamente. As histórias se conectam de tal maneira que o espectador fica em dúvida acerca do que é passado, do que é presente e do que é uma história paralela, aparentemente sem conexões com o que vemos entre Valentine e o Juiz. Não pensem, porém, que essa incerteza se dá pelo fato de que o filme tenha um roteiro mal estruturado, que por si não consegue manter a clareza do que está sendo mostrado. Pelo contrário: tudo que vemos é exibido com bastante determinação, ficando muito bem posicionado na obra. Ainda assim, quando concluímos de conferi-lo, temos aquela sensação de que não compreendemos algo e que vamos esperar uma ou duas semanas para revê-lo, a fim de pôr fim às dúvidas. Não há dúvidas de que esse é um marketing interessante, mas eu não acho que as intenções do diretor seja a de transformar sua obra num planfeto, mas sim de poetizá-la o suficiente a ponto de o espectador aspirar a muito mais do que conseguiu na primeira vez que viu o filme.

É importante notar a importância da cor durante a projeção do filme. O vermelho, em suas mais variadas nuances - mas preferencialmente o vermelho vivo e exagerado - está presente o tempo todo, desde pequenos objetos ao fundo, que complementam o cenário, quanto sendo exibido de maneira extremamente chamativa e atraente. É possível também relacionar a cor aos sentimentos dos personagens: em alguns momentos em que Valentine se sente com problemas em relação ao namorado, que está em Londres, o vermelho se mostra esmagador ao redor dela, impondo sua tonalidade viva às emoções fragilizadas da personagem que, pouco a pouco, começa a simpatizar pelo Juiz. O espectador mais atento vai perceber que pouquíssimas vezes a cor aparece quando a personagem está com o Juiz, pois ele não é tão emotivo quanto ela. É como se as características de um anulasse a do outro e, para representar isso, as cores se tornam mais amenas e os personagens - que representam a superficiliade, enquanto a cor representa a profundidade - se tornam o destaque da cena e nossos olhos voltam-se para eles. Me aprofundando um pouco mais, pude perceber que as cores relacionam-se não somente com as emoções de cada personagem, mas também com a ênfase que cada um recebe. Se a fragilidade de Valentine é oprimida pelo vermelho berrante, a frieza do Juiz é demonstrado pelos tons escuros de sua casa, já que na maioria dos cenas os atores estão na penumbra e são parcialmente vistos. Quando o Juiz finalmente decide expor um pouco de si, um acontecimento ocorre e, por fim, há claridade, numa óbvia alusão à exposição de sentimentos que ele está prestes a fazer.

Eu recomendo totalmente esse filme, pois ele consegue mostrar de maneira muito metafórica - o que é um ponto extremamente positivo a seu favor - a relação de duas personagens completamente diferentes, mas que são capazes de nutrir certo apreço uma pela outra. Quando o filme termina, ficamos em choque por três motivos: primeiro quando percebemos a verdadeira relação entre as histórias; segundo quando vemos a linda fotografia a que a cena faz alusão e, terceiro e último, quando nos vem aquela ânsia por saber o que acontecerá a partir daquele momento e como os personagens se reencontrarão.

Esse é um filme francês muito denso, com ótimas interpretações, um roteiro significativamente inteligente, fotografia expecional, dando enfoque à coloração avermelhada e à polissemia de seu significado na obra. Sem contar que o diretor - cujo nome não sei escrever - conduz maravilhosamente toda a drama, semd eixar pontas soltas, sem exagerar naquilo que quer mostrar e sem estragar momentos do filme com um ritmo muito rápido ou muito devagar. Certamente, é um dos melhores filmes a que assisti em setembro.

Luís
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3 opiniões:

Flávio Gonçalves disse...

Odeio o título brasileiro do filme, parece que tenta impor a "fraternidade" como tema principal deste. Vermelho, pura e simplesmente, é um titulo tão subtil e poderoso, com imensos significados.
Mas adiante. É uma obra-prima, sim. O melhor de toda a trilogia das cores e um dos meus filmes preferidos.

Cristiano Contreiras disse...

Bom teu texto, determinou todo o simbolismo visual e existente no filme!

depois da Liberdade é azul - este é o que mais gosto!

abraço

Matheus Pannebecker disse...

Gosto bastante da trilogia das cores e esse é o meu favorito!