24 de jun. de 2010

Paradise Now

Paradise Now. França, Alemanha, Israel e Holanda; 2005, 90 minutos. Drama.
Foi considerado o 18º filme não-estadunidense mais importante da década.
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Paradise Now é um filme realmente interessante, cuja temática foge àquilo a que estamos acostumados a assistir. Já vimos homossexuais, negros, mulheres submissas, adolescentes grávidas, estupros muito realistas, efeitos especiais incríveis. Mas tivemos algum contanto com o mundo onde os homens andam com quilos de bomba em torno do corpo prestes a se explodir e matar inúmeras pessoas, inocentes ou não, ao seu redor?

Não sei quanto a todos vocês, mas eu nunca tinha visto um filme direcionado a esse tema tão delicado, que, dependendo de como for abordado, torna-se algo voltado para o fanatismo, com o intuito de alienar quem assiste. Por outro lado, se a abordagem for fraca, o enredo se assemelha às histórias cujo objetivo é indecifrável e, consequentemente, não conseguimos ter uma boa imagem da produção. Paradise Now, felizmente, não se enquadra em nenhum desses gêneros, firmando-se como uma obra extremanete inteligente, que dá enfoque, principalmente, às relações humanas e às ideologias nas quais os personagens acreditam. Considero que seja um grande desafio para alguém que escreve sobre o filme - como eu estou fazendo - conseguir separar os dois tópicos que citei acima, porque definitivamente o relacionamento entre os personagens está diretamente ligado à maneira como são capazes de encontrar força em suas vontades a ponto de realmente querer seguir em frente, mesmo sabendo que suas atitudes resultarão na perda da vida.

As crenças, muitas vezes, são tidas como imutáveis e impenetráveis, mas nessa produção as interferências externas conseguem reconstruir a todos os momentos as perspectivas dos personagens. Concluí que muito do filme se deve à escolha dos atores, principalmente da coadjuvante Lubna Azabal, intérprete de Suha. Cabe a ela intervir pelos dois amigos que, desde pequenos muito unidos, decidem morrer juntos em nome daqueles tantos que sofreram pela ocupação de Israel no território palestino. Percebemos o quão coadjuvante a personagem é pela sua pequena participação; no entanto, quando está em cena, consegue reestruturar os pensamentos dos outros conforme seu desejo. Eu não digo isso somente porque acredito mais na racionalidade dela do que na deles. Afirmo isso com convição por Paradise Now não é um filme que tenta te fazer escolher entre o lado menos radical e o mais radical; ele se empenha em apresentar ambos os lados da situação de uma maneira muito apartidária e isso faz com que o espectador conheça tudo sem se ocupar em julgar, em torcer o nariz. Não enxergamos insensatez nas atitudes de Khaled e Said, porque conseguimos enxergar a imensa convicção que eles têm em sua maneira de conseguir justiça e que a única maneira de ganhar a causa é se explodindo.

Em uma hora e meia, pode-se perceber a grandiosidade do filme por meio das várias abordagens que consegue nos apresentar: não somente o radicalismo dos jovens, mas também à crítica a estrutura social e econômica da região, na qual - como em todos os lugares - os ricos ficam à margem de toda a marginalidade e crueldade que há. A justiça não acontece de forma igual e numa rápida passagem, isso fica bem definido numa discussão entre Said e Suha, que é filha do homem mais poderoso da região e que, por tal condição, não tem muito conhecimento acerca da complexidade em que vivem os jovens Kalhed e Said, cujas famílias foram vítimas dos mal tratos consequentes da ocupação israelense e cujos pais fizeram o mesmo que eles estavam prestes a fazer.

Eu definitivamente recomendo Paradise Now! Achei curioso o fato de não terem traduzido o título, deixando-o como no original. Eu, particularmente, prefiro a sonoridade do título em inglês do que como soaria se tivesse sido traduzido literalmente. Fiquei bastante contente também que não tenham acrescentado um subtítulo medíocre, cuja finalidade seja explicado o termo que o antecede e, ao mesmo tempo, explicar um pouco do filme. Acredito, porém, que alguns espectadores, muito nacionalistas, talvez, não se interessem pelo nome dessa produção, porque admito que ela revela pouco, mas tem total coerência com o filme todo. Principalmente na cena final, percebemos o quão fundamental é o advérbio de tempo - tempo imediato, aliás - que foi usado: porque o paraíso é agora.

Luís

1 opiniões:

Hugo disse...

Assisti há pouco tempo e também gostei muito. Mexe num tema extremamente polêmico com sensibilidade e realismo.

Como você citou, outro ponto fundamental é não tomar partido de algum lado e sim mostrar que o absurdo está dos dois lados.

Abraço