10 de jun. de 2010

Procura-se Amy

Chasing Amy. EUA, 1997, 113 minutos. Comédia / Drama / Romance.
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Estava passeando pela internet quando me deparei com uma lista interessante falando sobre como é explorada o sofrimentos dos homossexuais nos filmes. Num dos itens listados constava Procura-se Amy e a breve descrição do autor do artigo fez com que eu me interessasse pelo filme - mesmo que Ben Affleck estivesse à frente do elenco. Eu não esperava que o filme fosse grandioso, tampouco esperava que fosse medíocre. E minhas expectatitvas estavam certas: trata-se de um filme divertido, que vale a pena ser visto.

Holden e Banky são amigos há mais de vinte anos. Os dois trabalham juntos na criação de um comic book, dividem o mesmo apartamento e tratam-se definitivamente como melhores amigos, porque de fato o são. Um dia, Holden conhece Alysson, uma roteirista bastante divertida e espontânea que faz com que ele rapidamente se interesse por ela. A situação se complica quando Holden descobre que Alysson é lésbica, mas - como acontece em todas as comédias românticas - o amor e entrosamento fala mais alto, de forma que Holden e Alysson se aproximem e, como consequência, surjam conflitos entre ele e seu melhor amigo.

Muitos podem até achar que esse filme seja pura babaquice ou que seja construído usando como base lugares-comuns. Na minha opinião, trata-se de uma obra interessante, que consegue ampliar a mente dos espectadores mais fechados em relação às relações homossexuais. Boa parte dos diálogos, obviamente aquela que cerca dos personagens Holden e Banky, são focadas nos pensamentos estereotipados mais abundantes, que incluem o conceito de "comer" - concepção muito bem explicada num diálogo acirrado entre Alysson e Banky -, "virgindade" e relacionamentos sexuais "padrões". Acredito que antes de mais nada, esse seja um filme para explicar aos héteros que uma relação sexual pode se consumar sem a participação de um membro do outro sexo e que a intensidade do prazer não tem a ver com o tamanho do pinto, mas sim com a vontade de estar junto com a outra pessoa - seja ela homem ou mulher ou os dois.

Além dos bons diálogos esclarecedores, há também um desenvolvimento legal do personagem Banky, que é bastante coadjuvante e que certamente merecia mais atenção. É difícil saber o que ele sente pelo seu melhor amigo. O personagem parece ser um turbilhão de pensamentos - amigos há tantos anos, desde quando ele passou a ver Holden com outro olhar? E é difícil para o espectador saber com que perspectiva ele enxerga: sua preocupação implica no medo de que Alysson se torne o único foco de atenção do amigo ou sua preocupação jaz no receio de que estejam enterradas as possibilidades de um envolvimento amoroso entre ele e o amigo. A somar, há ainda a proposta reflexiva de que por conviverem juntos há muito tempos, surge certo entrosamento a mais, algo que não se limita à amizade fraternal. Achei realmente uma pena que o filme não trabalhe muito bem esse ângulo e deixe esse pensamento flutuar rapidamente, sem retomá-lo e sem se aprofundar um pouco mais. Os temas pelo quais o filme transita poderiam render análises mais interessantes, sem fazer com que o filme perca o seu tom humorado. [SPOILER] Depois de tudo pelo que os personagens passam, o ápice do filme acontece quando Holden, personagem de Ben Affleck, explica a Alysson e a Banky o que sente pelos dois, beija o amigo e confessa sentir-se um pouco atraído por ele e, de quebra, propõe uma relação a três, a fim de que ele tenha pelo menos um pouco da experiência de Alysson e assim possa entendê-la melhor. O ato não se consuma e tais eventos causam um rompimento aparentemente definitivo entre todos. Na minha opinião - que sou um cultuador admirado da amizade utópica dos filmes -, o momento mais triste é a separação de Holden e Banky: bissexuais ou não, apenas amigos ou algo mais, o sacríficio da amizade supera qualquer envolvimento amoroso incompleto. [FIM DO SPOILER].

Procura-se Amy não é um grande filme e só saberão quem é a Amy do título quando o virem. Ele é apenas mediano, com um roteiro simpático, uma boa trilha sonora, um desenvolvimento satisfatoriamente linear dos personagens. Nem mesmo a pífia e costumeira atuação de Ben Affleck me irritou - consegui inclusive achá-lo charmoso e melhor do que o habitual. Jason Lee, como coadjuvante, supera o ator principal nas cenas em que aparece e isso deve ser considerado ao avaliar o elenco. A atriz faz com que nos desesperemos um pouquinho nas cenas de grande carga emocional, já que ela grita como uma gralha louca e fere os nossos ouvidos. De um modo geral, os elementos cinematográficos compõem um filme legal para se ver sozinho ou acompanhado, numa tarde ou noite qualquer. Trata-se de uma obra não muito marcante, mas que se mostra simpática e que por isso merece ser vista - mesmo que você venha a esquecê-la algum tempo depois.

Luís
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1 opiniões:

Hugo disse...

Este junto com "O Balconista" são os dois melhores filmes de Kevin Smith. Ele mistura bem diálogos sobre sexo, drogas e cultura pop, porém na sequência da carreira ele não soube mudar o foco, se reciclar e seus últimos trabalhos são mais fracos e alguns com cara de repetição.

Abraço