6 de jun. de 2010

A Profecia (1976)

The Omen. Estados Unidos, 1976, 110 minutos. Terror. Dirigido por Richard Donner.
Vencedor do Oscar de Melhor Trilha Sonora e indicado a Melhor Canção Original (Ave Satani).
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A Profecia é um daqueles filme que merecem destaque especial. Lançado há 34 anos, o filme já é adulto, está quase entrando na meia-idade - mas curiosamente permanece recente e intenso, como se tivesse sido lançado ontem. Essa obra, segundo muitos cinéfilos, compete com O Exorcista na categoria "filme mais assustador da década de 70". Eu não ouso compará-los; são obras bastante diferentes, de caracteres distintos e embasadas em estruturas que, embora semelhantes quanto ao gênero, se diferem quanto à maneira como são exibidas. Desse modo, A Profecia é um filme singular e incomparável - assim como O Exorcista também o é.

Somente depois de dois anos é que eu venho escrever sobre essa obra aqui no blog. Curioso que eu me lembrava de modo nebuloso desse filme até revê-lo recentemente (em boa companhia, devo acrescentar). Assistir a uma obra como essa - tão densa, embora tão implícita - é realmente um prazer, daquele que te deixa contente por duas semanas. No embalo, gostaria de ter revisto também o remake de A Profecia, lançado em 2006 - isto farei mais adiante, para então expor aqui, como fiz com Sexta-Feira 13, os prós e os contras a respeito de cada aspecto dos dois filmes. Eu até acho que seja desnecessário citar a sinopse do filme, uma vez que todos, mesmo aqueles que ainda não viram qualquer uma das 5 obras (o filme original, duas sequências, um filme pra TV e um remake) conhecem a famosa figura de Damien. Ainda assim, vale a pena esclarecer: Robert Thorn toma conhecimento do parto da mulher, que teve um filho natimorto. No hospital, um padre lhe diz que uma criança ficou órfã logo ao nascer e que Robert poderia substituir o seu filho verdadeiro pela outra criança, dando-lhe um lar e, ao mesmo tempo, não decepcionando a sua esposa. Robert segue a sugestão do padre, mas com o passar dos anos tanto ele quanto a esposa percebem que há algo bem estranho com Damien.

Eu diria que não há defeitos em A Profecia. E não temo dizê-lo, porque eu realmente acredito nisso. Quando nós o vemos hoje, temos a impressão de que uma ou outra passagem soam um pouquinho superficiais, mas isso se deve à inexistência de computação gráfica que compusesse uma cena totalmente realista. Se há um defeito no filme, ele se deve a fatores externos, como a época em que foi produzida a obra. Por outro lado, a década de 70 foi bastante favorável a essa produção; se tivesse sido criada hoje decerto seria um filme enfeitado com efeitos especiais terríveis que mal acrescentariam qualidade ou informações ao conjunto formado pelo enredo. Dada a explicação, insisto no pensamento de que não haja defeitos notáveis.

O que faz com que A Profecia seja uma obra tão singular é o seu enfoque sugestivo: pouco é visto de fato, poucas informações ficam explicitamente claras. Cabe ao espectador depreender os seus significados, tudo no filme - desde as citações bíblicas até as cenas mais dramáticas - são implícitas. O grande acerto de Donner, iniciante à época da composição do filme, é se preocupar com as atuações: todos os atores demonstram sentir medo real, como se eles estivessem de fato envolvidos por uma atsmosfera maligna. Numa cena, o medo que Lee Remick demonstra é mesmo real, já que os macacos realmente atacaram o carro! Há momentos colossais no filme: os olhos dos atores. Todos têm seus olhos focados pela câmera; enxergamos na profundeza de seus olhares vários sentimentos: medo, raiva, obsessão. Talvez sejam esses close-ups os momentos mais tensos do filme, somados obviamente às cenas de tensão psicológica, como a busca de Robert pela verdade a respeito de Damien. Billie Whitelaw, intérprete de Mrs. Baylock, a babá protetora de Damien, está simplesmente fantástica e a cada momento em cena é como se o filme fosse apenas dela. Poucas vezes vi expressão tão realistas quanto as de Lee Remick! As duas atrizes são mesmo muito talentosas, mesmo que apareçam relativamente pouco, principalmente se comparadas ao protagonista Gregory Peck e até mesmo ao coadjuvante David Warner. O elenco de A Profecia está realmente em sintonia.

A história do filme é basicamente simples e exatamente por isso o diretor teve como cuidar bem dela, tornando-a verossímil tanto quanto possível. Apenas uma coisa me deixou curioso: [spoiler] como Mrs. Baylock simplesmente saiu do hospital depois de ter jogado Katherine Thorn pela janela? Duvido que tenha sido tão fácil assim [fim do spoiler]. Os enquadramentos das cenas são muito bem realizados e a fotografia acizentada em alguns momentos provocam um temor maior no espectador. Basta ver a cena em que Robert e Jennings, o fotógrafo, procuram pelos corpos do filho biológico de Robert e pela mulher que deu à luz Damien. Outro fator muito positivo é a inclusão do cão - aquele rotweiller consegue impor medo pelo olhar, o que é maravilhoso para um filme de terror. Outro aspecto importante é a trilha sonora: sempre em ritmo crescente, acrescenta um clima mais tenso ao filme, ampliando o sentimento presentes nas cenas. Ave Satani, que dá início ao filme, é memorável e sempre seremos remetidos a esse filme toda vez que ouvirmos a música.

Depois de tudo isso que leram, minha opinião ficou clara: A Profecia é um filme que merece ser visto, porque poucas obras assim são feitas ultimamente. Justamente pelo seu primor psicológico, o filme consegue captar a atenção até mesmo do espectador mais exigente - que pode não considerá-lo uma obra-prima, mas com certeza vai admitir que suas características positivas são mesmo notáveis. Minha sugestão é: chame alguém legal para ver o filme com você, apague todas as luzes, coloque-se debaixo de um cobertor e preste atenção no filme, do começo ao fim dele; absorva o máximo que puder e se entretenha com uma história bem interessante!

Luís

2 opiniões:

Cristiano Contreiras disse...

Um ótimo filme, precisamente forte e que embala a atmosfera do horror psicológico e também grotesco.

Ótimo filme!

Já apimentei ele, tem um tempo.

Marcelo A. disse...

Li o livro, lá pelos 11 anos, antes de ver o filme. Meus pais eram sócios do Círculo do Livro e nós tínhamos - temos ainda - uma edição dele cá em casa. Anos mais tarde, pude conferir a versão cinematográfica. Gregory Peck é um dos meus atores preferidos e ele encarnou o Robert Thorn tal qual eu o tinha na memória. Lee Remick está perfeita! E a trilha sonora, então... Arrepia cabelo de careca!

Preciso revê-lo. E com uma boa companhia também.