13 de ago. de 2010

Distrito 9

District 9, de Neil Blomkamp. EUA / Nova Zelândia, 2009, 112 minutos. Ficção Científica. 
Indicado ao Academy Award na categoria Melhor Filme.
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Produzida por Peter Jackson, essa obra de Neil Bloomkamp foi bastante comentada na época do seu lançamento, principalmente pela sua amostra selvagem de como seria a imposição da convivência entre seres extraterrestres e seres humanos. Eu me lembro de que ouvi muitos comentários a respeito, ouvi adjetivos como “nojento”, “exagerado” e até mesmo expressões como “sem pé nem cabeça”. Tantos comentários me fizeram ficar curioso a respeito do filme.

A abordagem parte do princípio que uma nave especial, num determinado momento, ao visitar o Planeta Terra, estacionou sobre uma região na África e não conseguiu mais sair de lá, provavelmente por problemas técnicos. Os humanos, curiosos a respeito daquilo, invadiram a nave e descobriram a existências de alienígenas, os quais foram transferidos para uma região onde seriam alojados. A partir dessa introdução, somos apresentados a Wikus Van De Merwe, que é genro de um poderoso industriário e que é encarregado de, conforme a lei, avisar os seres extraterrestres de que eles serão despejados em 24 horas e reabrigados em outro lugar. Sua missão primeira é conseguir a assinatura das criaturas, mas isso se torna uma tarefa epopéica.

Creio que o maior concentrador de elementos interessantes no filme seja o roteiro. Honestamente, é o que mais me chamou a atenção. Embora eu tenha gostado da direção de Neil Bloomkamp e acredite que o diretor soube como elaborar bem os seus planos de ação com boas tomadas que envolvem cenas interessantes de ação – e aqui estão inclusas as perseguições e explosões – e algumas cenas de caráter emocional – como as ligações que Wikus faz para a esposa na tentativa de que ela o aceite depois que ele foi contaminado. Quanto às atuações, devo dizer que eu não as achei fantásticas; nem sequer sei se as achei corretas, porque elas ficam sobpostas ao plano do roteiro, já que a história parece se impor aos outros elementos do filme.

Talvez o que mais incomode as pessoas em relação ao filme seja a banalização da situação vivida: os seres humanos a princípio reagem contra a estadia dos alienígenas, mas depois eles se acostumam de tal modo que chegam a residir em torno da favela que o Distrito 9 se tornou. A situação é tão real que humanos e aliens falam a mesma língua, todos se entendem e interagem, numa constante transação – mercadorias são vendidas, assim como as armas; estas criam uma elevação do índice de marginalidade, já que o tráfico se intensifica e cria problemas para os dois lados, dentro e fora do distrito onde estão os alienígenas cercados. Os acontecimentos são de tão intensos que há uma humanização daqueles seres do outro planeta: eles têm nomes comuns aos nossos (Christopher, por exemplo), eles passam por processos burocráticos, podem ser autuados, são molestados pela milícia – enfim, apenas provêm de outro lugar, mas se tornaram tão humanos quanto os próprios humanos. Em minha opinião, esse é o grande acerto do filme. Em vez de mostrar os anos iniciais, aqueles que vieram imediatamente depois da “invasão”, a opção foi mostrar a situação já estabilizada, depois de muitos anos que a neva havia chegado. Desse modo, é totalmente crível que a situação esteja daquele jeito, principalmente no que diz respeito à estadia e à marginalização daqueles indivíduos.

A estruturação da obra é bem construída. Primeiro temos a impressão de que se trata de um filme documentado e mais tarde essa aparência de documentário é substituída por uma estrutura narrativa comum a filmes cuja intenção não é exatamente retratar uma realidade objetiva. No primeiro momento, vemos a alternância da história e de relatos, que vão construindo a nossa visão da situação que é vivida em Johanesburgo, na África. Depois, vemos apenas a situação de Wikus, que, depois de contaminado e tornar-se o primeiro ser humano a portar ambos os genes (tanto humano quanto alienígena), se transforma em alvo de poderosos industriários cuja intenção é aproveitar suas recentes habilidades, como a de controlar as armas extraterrestres, para dominar o comércio armamentício e lucrar com isso.

Distrito 9 soube abordar vários temas muito recorrentes na nossa sociedade de um modo compacto e, ainda assim, intenso. A junção de vários elementos no roteiro criou uma obra interessante, cuja proposição de questionamento é crítica e muito objetiva. Gostei de como a obra foi composta. A indicação ao Oscar na categoria Melhor Filme foi um pouco exagerada, mas, mesmo assim, não desmereço o filme, porque vejo nele qualidades em maior quantidade do que defeitos. Recomendo que vejam.

3 opiniões:

Roberto Simões disse...

O melhor:
- O argumento sobre temática extraterrestre:
bem construído e com a originalidade q.b., capaz de revigorar o género.
- A ousadia e competência da realização de Neill Blomkamp.
- A qualidade inegável dos efeitos especiais e das sequências de acção.
- A sensacional performance de Sharlto Copley.

O pior:
- Talvez a ausência de personagens secundárias marcantes.
- De resto, nada a destacar.

4*

Cumps.
Roberto Simões
CINEROAD – A Estrada do Cinema

Matheus Pannebecker disse...

Eu não consigo gostar muito de "Distrito 9". É um filme que sustenta muito bem a ação e a originalidade até a metade... Depois, começa a ficar repetitivo e enrolado, terminando pior do que começou...

Renan disse...

Distrito 9 é um filme que cumpre bem o papel de entreter quem assiste, ms ainda acho que a indicação ao Oscar se deve a quantidade de indicados do que a qualidade em si.

Acho que o melhor ponto do filme, além da ação, é a criação de laços fraternos entre o personagem principal e o extraterrestre que dão ao filme um leve toque dramático.