14 de set. de 2010

Assunto de Meninas

Lost and Delirious. Canadá, 2001, 98 minutos. Drama.

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Há algum tempo, li num TOP 25 de um Blog, uma lista de filmes com temática homossexual e esse estava entre eles. Ainda que de imediato tenha querido conferi-lo, demorei uns dois meses até poder finalmente vê-lo. Eu imaginava que assistiria a um debate sobre a relação entre iguais, mas, no final, concluí que este é um filme amplamente conectado às relações humanas de uma maneira geral e aos medos e preconceitos que as tornam limitadas. É um excelente drama que merece ser visto; até mesmos os homofóbicos cinéfilos admitirão tratar-se de um ótimo filme!

Mary "Mouse" é enviada para um colégio interno devido às dificuldades de comunicar-se com o seu pai e amadrasta, já que a mãe morrerra há três anos de câncer e a garota ainda sofre a perda dela, principalmente por não conseguir, às vezes, lembrar-se do seu rosto. No colégio, passa a dividir o quarto com Tori e Paulie, duas garotas que a princípio parecem apenas amigas, mas na verdade amam-se muito além disso. Pouco a pouco, as três começam a dividir segredos e também percebem a interferência de fatores externos pertubando a relação entr elas. Basicamente, é essa a história, mas eu tenho elogios bem grandes ao roteiro, pois certamente soube aproveitar o melhor de cada personagem através de perspectivas boas e ruins, monstrando que, por melhor que seja o sentimento que se tenha, nem sempre ele é suficiente para embasar todas as ações, confugirando, assim, uma vida perfeita e conforme desejada anteriormente.

Um dos maiores acertos do filme é mostrar três tipos diferentes: Victoria é aberta quanto à sua vida, mas nutre um profundo medo em relação ao que as pessoas pensam e à relação familiar; Pauline é ainda mais aberta, chegando a um ponto de não se importa com o que pensam acerca dela, desde que possa ser livre para amar e ser amada; Mary "Mouse" - que recebe o apelido de Mary B. (de Brava, no sentido de corajosa) - é extremamente tímida, se resignando mais a ouvir do que a falar, mas que tem conceito extremamente precisos sobre o que deseja para si e o que acha dos relacionamentos com os quais convive. Quando digo que esse é um acerto, é porque num determinado momento do roteiro, todas essas personagens podem trocar de situação, ver-se na pele da outra, imaginar o porquê daquela dor e como dominá-la a fim de seguir em frente. Há uma correlação interessantíssima no filme, envolvendo o relacionamento entre Tori e Paulie e um falcão machucado na floresta; talvez, se eu explicar aqui a metáfora que enxerguei, eu acabe impossibilitando que vocês enxerguem por si só o mesmo que eu vi. Considerando isso, sugiro que prestem atenção no significado das cenas aparentemente repetitivas, mas que tem fundamento. São nesses momentos mais simples que se percebe o processo de libertação pelo qual as três personagens - inclusive o falcão - estão passando. A suavidade com que o roteiro aborda o tema nos faz gostar das garotas e torcer para que fiquem juntas, não importa sob quais circunstâncias. Outra grande acerto é a narrativa em primeira pessoa: vemos tudo pela visão de Mary B., que nos revela suas opiniões acerca do que sente na presença das amigas, ou quando está sozinha, etc.

Agora, acredito que devo dedicar um parágrafo a alogiar as atrizes principais e também à diretora. Mischa Barton - que eu pensava ser uma modelo, não uma atriz - está excelente na pele de Mary B. Sua instropecção é capaz de fazer com que o espectador a acompanhe numa jornada dentro de sua própria mente e a todo momento tentamos invadir os pensamentos dela para conhecê-los, decifrá-los. Certamente, as cenas finais, na qual ela recita a mando de Paulie trechos de Lady Macbeth, são aquelas em que quem assiste o filme realmente chega à conclusão de que outra atriz talvez atrapalharia mais do que ajudaria o resto do elenco. Jéssica Paré, intérprete de Tori, também está magnifíca, num misto de amor e preconceito, dos quais simplesmente não consegue lidar, mas que precisa, definitivamente, escolher entre um ou outro. Piper Pirabo, mais conhecida por causa de sua personagem em Show Bar, que é um filme agradável, mas também presente em bombas, como O Terceiro Olho, se revelou muito convincente nesse filme, numa atuação bem difícil, não somente pelas cenas, mas também pelo sentimento de amor profundo que deveria demonstrar. Logo, às três atrizes, dedico muitos elogios. Téa Pool, a diretora, realizou um trabalho fantástico em Assunto de Meninas, conduzindo as atrizes de uma maneira extremamente sensível e usando ótimos cenários para compor o visual inquisitivo e ao mesmo tempo belo do filme.

Ao final do filme, concluí que é um dos que eu assisti recentemente de que mais gostei. Assim, recomendo-o a todos que gostem de um drama cuja densidade é extremamente expressiva, num claro convite à reflexão. Quanto ao título nacional, que eu não poderia esquivar-me de comentar, achei-o válido, melhor, inclusive, que o original, que faz referência a uma cena específica, logo no começo do filme. O título nacional, porém, faz alusão a uma cena ainda mais densa, cujo significado é muito específico e praticamente rege todo o roteiro, do começo ao fim. Admito que os tradutores-inventores acertam às vezes. Embora eu o tenha visto sozinho, acho que uma companhia - qualquer que seja o gênero dela - caia bem, pois é necessário que haja alguém ao seu lado para quem você diga: "Uau, o filme é bom mesmo!". Eu fiz esse comentário para o meu gato, mas, muito sonolento, ele não prestou atenção em mim...

Luís

1 opiniões:

chuck large disse...

Assisti faz pouco tempo, achei muito bacana o jeito que foi retratado o homossexualismo, de forma direta, natural e verdadeira. Muito bem feito!