1 de dez. de 2010

Os Sonhadores

The Dreamers. França, 2003, 115 minutos. Drama.
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Muitos consideram os Sonhadores um hino dos cinéfilos. Chamam-no de obra-prima, cultuam-no, tratam-no como se fosse um filme indispensável aos adoradores da sétima arte. E talvez o filme seja mesmo tudo isso. Não somente representa bem a arte do cinema como também defende a arte do sexo sem culpa e sem preceitos limitadores. De um modo bastante original, o filme capta o prazer de ver filmes, de gostar de sexo e, sobretudo, de como uni-los num só.

O primeiro acerto do filme é o momento em que une os personagens principais. Matthew depara-se com dois jovens irmãos da mesma idade que são extremamente espontâneos e cativantes. Não demora para que eles estejam em sintonia. O mesmo acontece com o espectador, que entra no mesmo ritmo que Matthew, Isabelle e Theo - que demonstram ardente desejo pelo cinema e pelo sexo. Já situando os três ao tema do filme, fica muito mais fácil fazer com que o espectador vivencie as experiências junto com eles. Theo e Isabelle não são apenas irmãos - eles estão dentro um do outro, captam com facilidade o que sentem e assim, praticamente, tornam-se um só. Matthew é um aprendiz sexual dos dois irmãos, mas é tão experiente quanto eles no quesito cinema. Eu acredito que a razão pela qual esse filme atrai tantas pessoas é a excelente junção de temas. Os cinéfilos se impressionam quando vêem tantas alusões a outros filmes e se impressionam quando vêem o sexo mostrado de maneira aberta.

Enquanto eu via o filme, não pude me conter em relação a realmente participar junto com os personagens. Vê-los debatendo sobre qual é melhor - se Keaton ou Chaplin - foi um deleite para mim. Isso para não falar das cenas em que Isabelle imita Greta Garbo ou quando entra no quarto dançando com um espanador. Ver tantas referências ao cinema é, para um cinéfilo, uma sessão de orgasmos. O relacionamento dos personagens também é envolvente. Assustador, no começo, mas, assim como Matthew, logo nos adaptamos ao estilo de vida liberal dos irmãos Theo e Isabelle. Até mesmo a cena em que Theo se masturba na frente dos outros dois não soa pedante - ainda que surpreenda a princípio, soa natural depois. Destaque especial para a excelente cena em que os Matthew e Theo estão conversando na banheira cheia de espuma e, mais tarde, Isabelle fica ali com eles: falam sobre amor de uma maneira interessantíssima.

A minha única ressalva em relação ao filme vai para a construção dos personagens. Eles começam em perfeita sintonia, mas depois parecem se desajustar àquilo que eles mesmos programaram. Theo começa a ficar com ciúmes de Matthew e Isabelle e dessa maneira eles não podem realmente se aprofundar em seus desejos. Os três dizem que se amam, mas não chegam a consumar todo o desejo que sentem. A somar, há uma cena que soa incoerente com o resto: Matthew e Theo estão num diálogo mais acalorado, muito próximos, quase se beijando e, de repente, Isabelle os interrompe com o que parece ser uma crítica ao comportamento deles. Isso soa incoerente, porque eles mesmos - os dois irmãos - propuseram uma vida sexual mais aberta a Matthew. Acredito que faltou realmente uma cena de sexo entre os três personagens e, ainda, uma cena que mostrasse algo entre os dois rapazes, a fim de deixar claro que não há limitações ou preconceitos. Eu fiquei meio desconcertado com aquela cena e com a atitude de Theo, afinal, no lugar de qualquer um eu estaria me divertindo totalmente e não arrumando problemas que impossibilitassem o prazer total. Vale ressaltar que, como depois eu soube, há cenas de menáge à trois

Eu realmente devo dizer duas coisas. Primeiro tenho que recomenda esse filme a todos os amantes de cinema. Não sei se se trata de uma obra-prima, mas é fato que esse filme de Bertolucci é realmente inspirador - em qualquer aspecto a respeito do qual falarmos. Agora, devo agradecer ao Marcelo, que me recomendou o filme e usou argumentos muito bons para me fazer crer que valia a pena vê-lo. Enfim, essa é uma obra que merece ser vista, apreciada e compreendida com uma visão bastante ampla - depois, cabe a nós admirá-la.

3 opiniões:

Marcelo A. disse...

Eu não sei se concordo com tudo o que você escreveu, mas acho mesmo Os Sonhadores um filme apaixonante. Tive a oportunidade de assistí-lo, antes do lançamento nacional, no Festival do Rio, há alguns anos. Foi apenas a primeira vez. Perdi as contas de quantas outras conferi.

Sobre o que você falou, a respeito dos personagens se desajustarem àquilo que eles mesmos programaram, devo dizer que acho coerente. Embora nunca tenha vivenciado algo semelhante, creio que é o tipo de coisa que pode acontecer numa relação como aquela. Mas, segundo reza a lenda, há cenas de menáge mesmo - e como eu daria tudo pra vê-las!

*-*

E muitíssimo obrigado pela menção ao meu nome. Sabia que gostaria do filme, afinal, como você falou, prum cinéfilo, ele é um grande orgasmo.

Abraços, man!

.lucas guedes disse...

espero que não seja um comentário superficial, mas este é um filmaço! : )

Matheus Pannebecker disse...

Devo ser a única pessoa na face da terra que não vê graça nenhuma nesse filme...