8 de mar. de 2011

Gente como a Gente

Ordinary People. EUA, 1980, 124 minutos, drama. Diretor: Robert Redford.
Uma obra interessante que aborda a tensão familiar de modo pungente - só não se torna marcante porque o seu roteiro não consegue focar naquilo que é realmente desautomatizador.

Ordinary People foi a grande surpresa da cerimônia do Oscar no ano de 1981: venceu na categoria principal e ainda concedeu a Redford o prêmio de Melhor Diretor. Quando todos pensavam que o cultuado Touro Indomável, de Scorsese, fosse o grande filme da noite, esse filme sobre um drama familiar se torna o alvo dos holofotes.

Gente como a Gente tem uma história bastante simples. Uma família – pai, mãe e filho – tentam se recuperar da morte de um parente, o filho mais velho. A morte dele gera um conflito muito grande entre os três, fazendo-os se questionar sobre o relacionamento que têm e sobre a parcela de culpa de cada um. Embora estejam vivendo de modo tumultuado, tentam demonstrar que tudo está bem para os vizinhos e amigos da família.

Talvez o que tenha levado a Academia a se render e conceder-lhe o prêmio máximo – somado ao problema político que envolvia Touro Indomável – foi o modo incisivo como o roteiro aborda o drama pessoal de um jovem que se culpa pela morte do irmão mais velho. A intensidade da narrativa nesse ponto é tão grande que o espectador acaba inserido na história, como se fosse um personagem avulso, que observa de dentro e não de fora das telas. Não quero, com isso, dizer que acho que o roteiro desse filme seja o melhor drama familiar existente, nem de longe creio que ele seja realmente grandioso. Se por um lado a perspectiva e os problemas pelos quais Conrad passa, por outro lado o resto da família é praticamente ignorado. Tomemos como exemplo Beth, a mãe: sua personagem é extremamente interessante, parece amar demais a um filho a ponto de conceder a ele todo o amor que sente, sem restar nada para o marido e para o outro filho. Justamente com a morte daquele que ela ama, ela se torna inatingível – não chora, não ri, se distancia, parece estar constantemente enraivecida, embora consiga diminuir a aparência de sua expressão. Tudo o que poderia ser explorado ao seu respeito foi reduzido a poucos momentos, sendo que apenas um é grandioso o suficiente e, nessa passagem, ela nem sequer fala.

A direção de Robert Redford se intensifica quando o diretor consegue captar das cenas os seus melhores ângulos, e dos atores os seus melhores desempenhos. Assim, todos em cena estão bem corretos. Gosto do modo como Redford soube intercalar os protagonistas – a cada momento, um deles tem destaque, mesmo que Beth e Calvin, personagens de Mary Tyler Moore e Donald Sutherland, sejam pouco aproveitados pelo roteiro. A interpretação dos atores ajuda a nos fazer crer que aquilo seja mesmo real, até porque todos parecem realmente viver a tortura da perda. Timothy Hutton personifica Conrad com um cuidado muito intenso e isso resulta numa atuação realmente boa, tanto é que a Academia lhe premiou com a estatueta – o único problema foi tê-lo indicado na categoria errada, já que o personagem é visivelmente protagonista. Sutherland compôs um pai compreensivo, que tenta enxergar o lado de todos. Embora seja o menos brilhoso dos atores com funções protagonistas, Sutherland não se equivoca ao conceber Calvin. Mary Tyler Moore também tem uma realização interessante e até mesmo foi indicada pela Academia ao prêmio de Melhor Atriz, mas acho que uma análise mais atenciosa nos mostra que sua personagem é grandiosa, muito mais do que a atuação interpretação. Realmente acho que o modo como somos atraídos para a sua atuação se deve à intensidade – mal aproveitada, devo dizer – de sua personagem, Beth. Não lhe tiro o crédito, porém, pela sua indicação. Como disse, sua interpretação é correta e convence o espectador, tal como os outros personagens. Judd Hirsch, intérprete de Dr. Berger, o psiquiatra que cuida de Conrad, aparece em pouco tempo e realiza um bom desempenho, mas ele definitivamente some ao lado de qualquer ator do elenco. Nas cenas em que ele está com Timothy Hutton, é impossível notá-lo, nem o observava direito – meus olhos focaram-se no magnetismo de Hutton, que me surpreendeu. A indicação que Hirsch recebeu foi pra preencher a lista dos cinco indicados, só pode.

Dramas familiares como esse me soam interessante porque narram eventos cotidianos, que podem acontecer conosco. Vale comentar sobre o título original e também a escolha nacional – ambos remetem aos personagens centrais: eles são pessoas comuns, como nós. Não acho, porém, que Ordinary People seja o melhor do gênero. Decerto é uma boa obra, mas não alcança o conceito de “bom”. É uma obra satisfatória, que me envolveu, mas não me emocionou totalmente. Mas vale a pena conferir, pelas boas interpretações e pela eficiente direção de Redford.

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