16 de nov. de 2011

Reféns

Trespass. EUA, 2011, 91 minutos, thriller. Diretor: Joel Schumacher.
Um verdadeiro filme-bomba com história duvidosa, desenvolvimento confuso, um ator em atuação sofrível, uma atriz que não se sabe por que está ali e mais uma série de elementos que apenas irritam o espectador em vez de entretê-lo.

Sou fã de Nicole Kidman e não nego isso. Mesmo que ache que a produção pode ser estranha, como é o caso de A Feiticeira, eu ínsito em vê-la mesmo assim, talvez eu acabe surpreso e, pensando nisso, acabo me deparando com filmes-bombas, como é o caso desse. Não fui ao cinema inocentemente - afinal, embora estivesse interessado em Nicole Kidman, também estava consciente de quem era o lead actor e de quem era o diretor - e, honestamente, não sou muito fã do trabalho de nenhum deles.

Ao ler a sinopse, já pude imaginar as coisas que surgiriam ao longo do tempo em que Kyle e Sarah fossem mantidos presos como reféns de um assalto à casa deles: decerto haveria momentos de extremamente fragilidade nos quais os personagens relevariam segredos que perturbaria ainda mais a situação na qual se encontravam; também previ grandes palavras de amor, ditas de um personagem a outro; sendo isso pouco, assumi que haveria alguma identificação amorosa ou afetiva de um assaltante para com um personagem, como acontece em The Panic Room. E, tão previsível que esse filme é, há exatamente tudo isso que eu citei e, infelizmente, esses elementos não servem para muita coisa nessa trama, que pouquíssimo informa e que apenas mostra atitudes estranhas e incoerentes por parte de todos os personagens.

 Nicole Kidman na verdadeira relação-problema que dá mote a esse filme ruim.

Aliás, os personagens. Esses merecem um foco especial, porque eles são figuras realmente misteriosas nesse filme, tão misteriosos e obscuros que suas atitudes beiram a estupidez de qual modo que transcende ela própria - a estupidez. Não há como entendê-los e, conseqüentemente, não há como simpatizar com algo tão prepotente como Kyle (mas isso também se deve à má atuação de Nicolas Cage), assim como é impossível simpatizar com Avery, a filha do casal, ou com Sarah. O mais interessante é perceber uma das cenas iniciais, assim que começa o assalto: Kyle é agredido e imediatamente grita para Sarah correr. Subentende-se: “não venha pra cá, corra pra fora da casa”; ela, evidentemente, não faz isso e acaba correndo em direção aos bandidos, que a pegam. Tudo bem, pensamos, um erro de principiante; ela, afinal, não imaginaria que lhe houvessem invadido a casa e capturado seu marido. Depois, quando a filha chega inesperadamente de uma festa, os bandidos a seguram também como refém, e isso aumenta os instintos de proteção de Kyle e Sarah, que parecem dispostos a inverter a situação. Sarah, oportunamente - embora numa cena que não se entende o porquê da existência -, rouba uma seringa contendo uma anestesia extremamente poderosa, em quantidade suficiente para matar. Aí, ela consegue fazer de um dos bandidos seu refém somente para liberá-lo dois minutos depois enquanto nós nos perguntamos por que diabos ela fez aquilo. A resistência de Kyle em abrir o cofre, no qual não há nada, é outro mistério - por que não mostrá-lo logo e dar a desculpa já no começo, evitando toda a agressão pela qual passariam?

O roteiro de Karl Gajdusek realmente não se preocupa em tornar nada coerente. É um dos filmes mais incoerentes a que já assisti. Difícil entender o gosto dos personagens por correr na floresta que cerca a casa, difícil entender a mulher que auxilia os bandidos, já que ela se comporta escrotamente ao longo de todo o filme, não entendi o uso da seringa que deveria matar e não mata, as várias vezes em que os bandidos se agridem sem motivo, as tentativas de romance que surgem aqui e lá, principalmente envolvendo Sarah e um dos bandidos, qualquer que seja. Tenho certeza de que esse roteirista escreveu tudo isso só de brincadeira, porque, desde o princípio, percebeu o tom de brincadeira desse filme de Schumacher (aliás, conhecendo o diretor, já se pode facilmente supor que será bem em tom de brincadeira o filme). O único problema é que o espectador é o último a perceber que essa obra não deve ser levada a sério.

 Uma das muitas cenas repetidas do filme.

O problema de Nicole Kidman não é sua má atuação, até porque ela está bastante coerente dentro do possível (com exceção das cenas em que finge ser lutadora ou em que corre pelo mato). O problema é unicamente a sua presença nesse filme - ela não deveria estar ali, evidentemente, principalmente num momento de sua carreira na qual assumimos que ela, por fim, deu a volta por cima, ainda mais com a recente indicação ao Oscar pelo magnífico Rabbit Hole. Liana Liberato e Cam Gigandet apenas estão ali, em atuações no automático, fazendo o mínimo que se espera deles, sem, no entanto, apresentar deficiências notáveis no seu trabalho. Nicolas Cage é o verdadeiro trunfo ao inverso de Trespass - é ridícula sua atuação, uma das coisas mais medíocres e infelizes que vi ultimamente, tudo nele está errado, infinitamente errado: vejam a cena em que ele perde os óculos, vejam quando ele leva um tiro na perda, quando é arrastado para fora da casa no final do filme, abomino tudo o que vi!

Joel Shumacher (risos desde já) realmente nos ofereceu um verdadeiro presente de grego, que consegue ser ainda mais notável do que o desastre Batman and Robin, o qual ainda pode ser considerado um filme divertidinho. A sua direção poderia facilmente ser apontada como uma das piores de 2011, porque ele conseguiu reunir sofrivelmente inúmeros problemas. Aqueles flashbacks são tenebrosos, assim como a edição que sobrepõe o rosto de um personagem a uma cena qualquer, como se isso acrescentasse drama ou ritmo a tudo de ridículo que estamos assistindo. Fiquei impressionado com esse filme, tanto que ele me motivou a conhecer mais títulos dirigidos por esse diretor que, honestamente, tanto me incomoda, já que ele próprio, como acontece aqui, não consegue oferecer aquilo que propõe.

4 opiniões:

Alan Raspante disse...

Pelo visto é a bomba do ano. Não verei pela Nicole, nem por nada... Se eu ver, será, unicamente pelos bandidos.

Hehehehehe

Luís disse...

Eu toparia bem fácil uma pegação descompromissada com a Nicole e com o cara ali da foto! Acho que nem pensaria duas vezes.

Alan Raspante disse...

Com o bandido ali? Não pensaria nem uma vez.

Anônimo disse...

Fiquei muito decepcionado com tudo que vi. As tramas estranhas e mal resolvidas foi o que me fez detestar ainda mais. Era estranhos os bandidos não serem tão maus e o final, odiei. Fiquei decepcionado ainda mais com a presença da Nicole que mais pareceu estar La para receber cachê, pois não vi o talento que vi no filme os outros. Talvez seja porque eu ainda era muito jovem e depois não tive a oportunidade de ver novamente, mas o Quarto do Pânico mexeu muito com a minha adrenalina, coisa que nem de longe aconteceu com este filme.