31 de mar. de 2012

Oscar 2012 - Melhor Atriz Coadjuvante


A categoria Melhor Atriz Coadjuvante reúne aquelas mulheres que, de alguma forma, ajudam a elevar a qualidade de determinado filme, mesmo que o enredo deste não seja, diretamente, inspirado em suas personagens. Muitas vezes, as atuações destas atrizes são tão marcantes que suplantam as atrizes e atores principais, fazendo com que o telespectador espere apenas para vê-las atuando. Dentre as vencedoras desta categoria, já passaram pelo palco do Oscar ícones como Meryl Streep e Judi Dench. Acerca dessa categoria, pode-se apontar dados curiosos, como o fato de haver uma atriz argentina naturalizada francesa e, talvez mais interessante, o fato de que se trata da quarta edição consecutiva na qual duas atrizes são indicadas por suas interpretações em um mesmo filme. Muitos atribuem a vitória de Octavia Spencer à força social de sua personagem e vale comentar que ela é apenas a 5ª atriz afro-americana ser premiada com o Oscar. Numa lista na qual de quatro indicadas pela primeira vez, Janet McTeer é a única a já ter sido indicada e Melissa McCarthy é, evidentemente, o azarão do grupo.

Bérénice Bejo, por “O Artista”
Bérénice é um nome meio dúbio nessa categoria, principalmente porque muitos a consideram atriz principal enquanto outros a enxergam como atriz coadjuvante. Independentemente da categoria, é inegável que ela faz por merecer a sua indicação, já que compôs uma das personagens mais graciosas de 2011 e que, sem nenhuma fala, consegue sorrir e, apenas com isso, expressar toda a sua alegria. Sob a direção do marido, Hazanavicius, Bejo realmente encanta – seja pelo sorriso ou pela tristeza, já que ambos advêm de uma sinceridade interpretativa muito grande. Ao terminar de ver o filme, não pude negar que sua participação foi fundamental para a grandiosidade e carisma da película. (por Luís)

Janet McTeer, por “Albert Nobbs”
Janet McTeer era a veterana na categoria, tendo sido indicada anteriormente na categoria principal por 'Livre para Amar' (1999). Em Albert Nobbs, Janet vive uma mulher que se transveste de homem, que vive perfeitamente bem desse modo e chega a encontrar o amor nessa situação. Janet está muito bem no papel, principalmente quando analisamos suas expressões faciais e a entonação da sua fala, porém, a premiação era pouco provável tendo em vista candidatas com atuações superiores a sua. (por Renan)

 
Jessica Chanstain, por “Histórias Cruzadas”
Se Melissa McCarthy não estivesse no páreo, eu diria que a atuação de Chanstain é a mais frágil dentre as cinco indicadas, mas credito isso à sua personagem, pois quem viu The Tree of Live sabe do que falo. Sua personagem é meiga e toda desastrada de uma maneira simpática, e é exatamente esse maniqueísmo que deixa sua atuação meio fraca. Falta a ela cenas densas que demonstrem todo seu potencial artístico. (por Renan)

Melissa McCarthy, por “Missão Madrinha de Casamento”
Comédias como Bridesmaids dificilmente não títulos efetivamente elegíveis para uma indicação, mas esse filme é uma exceção: foi lembrado por seu texto e pela interpretação de Melissa McCarthy, que recentemente venceu um Emmy pela sua interpretação no seriado “Mike & Molly”. Inegável que o elenco desse filme é muito bom e todas as atrizes, mesmo as mais medianas, se mostram eficientes e merecedoras de um elogio. Como a cunhada da noiva, a gordinha Megan é uma figura que podemos chamar, pelo menos, de inusitada: ela é chamativa, desengonçada, faladora e, sobretudo, impulsiva e inconveniente – trata-se de uma personagem curiosa e, para defender a atriz, de uma interpretação satisfatória. Mas não vai além disso, e notadamente há outras atrizes que mereciam mais destaque do que McCarthy, que provavelmente tem chamado mais atenção pela sua atuação como Molly, no seriado já citado, do que pela sua interpretação aqui.  (por Luís)

Octavia Spencer, por “Histórias Cruzadas”
Num filme de caráter fabular, Octavia Spencer interpreta a personagem humorística Minnie, que é uma das empregadas que vive em Jackson, Mississipi, numa época anterior à luta pelos direitos civis. A personagem de Spencer é estranha, bem como sua interpretação é cômoda: bastou que ela repousasse na aspereza e no desbocamento da personagem para que a conduzisse do começo ao fim. Não se trata de uma má interpretação, mas de um comodismo que não justifica uma posição nessa lista tampouco a vitória. Não é a pior das indicadas, posto que McTeer está na lista, mas com certeza é uma das várias vezes em que personagem e interpretação são confundidas. (por Luís)

Renan
Concordo com a Academia: sim.
Quem deveria ter vencido: Octavia Spencer, por “Histórias Cruzadas”.
Esta talvez seja a categoria mais polêmica. Dentre as cinco indicadas, Berénice Bejo e Octavia Spencer se destacam entre as melhores. Apesar de ter me apaixonado por Berénice , realmente acho que a academia fez o correto premiando Ocatvia. Em seu papel que muitos consideram (e com certa razão) maniqueista, Octavia se desdobra pra retirar o máximo de uma personagem limitada. Por isso, e pelo resultado final do filme, considero esta a merecedora da estatueta.

Luís
Concorda com a Academia: não.
Quem deveria ter vencido: Bérénice Bejo. A vitória de Octavia Spencer, a meu ver, advém de uma ferrenha intensão de a Academia “corrigir” a omissão de prêmios a atores negros. Em 1940, Hattie McDaniel sagrou-se melhor atriz em papel secundário; 51 anos depois, em 1991, Whoopi Goldberg conseguiu a mesma coisa – aí, curiosamente, em 2007, 2010 e 2012, num prazo de cinco anos, três atrizes afro-americanas são eleitas as melhores em seus respectivos anos e isso me cheira mal. A atuação cheia de cacoetes de Spencer jamais seria superior à simplicidade cativante de Bérénice Bejo, que realmente trouxe a melhor interpretação, principalmente no que diz respeito à sua espontaneidade em cena: houve momentos em que eu me esquecia de que ela era uma atriz, aabei por vê-la exclusivamente como Peppy Miller, sua personagem, tamanha sua naturalidade. Infelizmente, Octavia Spencer, por políticas dúbias, levou a estatueta.

28 de mar. de 2012

Oscar 2012 - Melhor Ator Coadjuvante


 
Tão logo saiu a lista dos indicados, a primeira coisa que chamou a atenção nessa categoria foi a faixa etária dos nominados: os atores veteranos eram veteranos em tempo de trabalho e em idade. Talvez o que mais tenha chamado a atenção foi o fato de que a possível vitória de Plummer ou Sydow implicaria na consagração do ator mais velho que já venceu a estatueta – e foi justamente isso que aconteceu quando o nome de Plummer foi anunciado, cabendo a ele, aliás, a única indicação pela qual o filme concorreu. Diferentemente da lista das atrizes coadjuvantes, na qual apenas uma já havia concorrido, aqui se verifica o oposto: apenas um concorre pela primeira vez e é justamente o mais novo, Jonah Hill. Como os personagens verídicos são recorrentes nas indicações feitas pela Academia, cabe a Kenneth Branagh a função de representar Laurence Olivier, um ator que inclusive já foi indicado e ganhou o Oscar.


Christopher Plummer, por “Toda Forma de Amor”
A história central é a de um jovem que tem que conviver com a recente  dor da perda do pai e com a alegria – e também dor – de um novo amor. Esse jovem é interpretado por Ewan McGregor, porém, quem rouba a cena fazendo com que o longa realmente fique interessante é Christopher Plummer, que interpreta seu pai. Seu personagem já é forte – afinal, não é sempre que vemos um senhor assumir a homossexualidade, invertendo os papéis que atualmente são retratados no cinema, i.e, de jovens interpretando gays, e a atuação de Plummer só o torna melhor. Apesar da idade, Plummer concebe um personagem enérgico e sociável, que busca a felicidade constante na sua época mais frágil. (por Renan)

Jonah Hill, por “O Homem que Mudou o Jogo”
Jonah Hill, saído de filmes como Superbad e Knocked Up, ambos de 2007, faz um trabalho notável ao lado de Brad Pitt em Moneyball. Sua atuação reforça o caráter do personagem, que é tímido e que por vezes se sente deslocado em um ambiente que, claramente, não é o seu. Cenas como a que Peter tem que demitir um dos jogadores mostra o potencial do ator. Concorrendo com quatro veteranos, a premiação pra Hill era pouco provável, mas do modo que o ator se apresenta, poderemos esperar outras indicações. (por Renan)

Kenneth Branagh, por “Sete Dias com Marilyn”
O ator faz o papel do diretor Laurence Olivier. Com uma atuação segura e pontuada, Branagh traz à tela a dificuldade do seu personagem em dirigir uma estrela tomada pelo brilho e pelas incertezas.  No total, a atuação de Branagh é bem satisfatória, uma vez que realmente deixa transpassar uma pessoa séria que sofre de nervosismo, tem que lidar com o ciúme da esposa e ainda vê seu trabalho ser interrompido indeterminadas vezes. Apesar da boa atuação, considero que as outras (excluindo a de Jonah Hill) foram superiores a dele, uma vez que quem chama a nossa atenção e nos faz querer ver mais e mais é Michelle Williams como Marilyn. (por Renan)

Max Von Sydow, por “Tão Forte e Tão Perto”
Que Extremely Loud and Incredibly Close é um filme de atores coadjuvantes, ninguém duvida! E o sueco Max Von Sydow é decerto o ator secundário mais interessante e mais bem aproveitado na narrativa sobre um garoto que sai à procura de um objeto que o poria mais próximo do pai já falecido. Stephen Daldry fez com que Sydow, apesar de não pronunciar uma única fala no filme, fosse o ator mais comunicativo: suas expressões de tolerância bem como seus anseios e suas alegrias são brilhantemente mostradas nos poucos minutos nos quais participa da trama, chegando inclusive a tornar nossos olhos exclusivamente para si (o que, a tempo, não é grande mérito, dado o protagonista chatíssimo da história). Sydow faz por merecer sua indicação, na tardia idade de 82 anos. (por Luís)

Nick Nolte, por “Guerreiro”
Apesar de Warrior não ser uma obra que eu chamaria de atraente, trata-se de um filme muito interessante que consegue nos cativar pelo seu enredo e, principalmente, por aquilo que fica sem ser dito, esperando por ser depreendido pelas expressões dos atores. E Nick Nolte, que já realizou bons personagens, nos traz aqui aquela que talvez seja uma de suas interpretações mais inspiradas, como um treinador ex-alcoólatra que não consegue lidar com os filhos, que parecem odiá-lo, mas que o tempo todo busca reconciliação. Se Tom Hardy e Joel Elgerton nos mostram uma força sólida, Nolte é a personagem quebradiça, de força questionável, de emoção arraigada. Do começo ao fim, mesmo que aparecendo pouco e tendo poucas linhas de fala, o ator realmente nos convence de que fez jus a uma das cinco posições na lista dos indicados na categoria dos coadjuvantes. (por Luís)

CONCLUSÕES:

Renan
Concordo com a Academia: Não.
Quem deveria ter vencido: Nick Nolte, por "Guerreiro". A atuação de Plummer é boa? Sim. Mas Nick Nolte, na minha opinião, está extremamente melhor. Sua atuação molda o filme ditando qual ritmo todos os personagens devem seguir tornando visível o seu lado patriarcal. Com seu personagem, que já é bem construído, Nolte nos repassa uma atuação firme e correta de um veterano que deveria ter levado a estatueta.

Luís
Concorda com a Academia: Não.
Quem deveria ter vencido: Nick Nolte. A interpretação de Nolte em Warrior é simplesmente assombrosa. O ator consegue em pouquíssimo tempo em cena impactar o espectador com a sua atuação, extremamente madura e sóbria, fazendo com que seu personagem jamais fuja ao nosso olhar – como Paddy Conlon, um ex-alcoólatra que batia na mulher e nos filhos, criando, assim, afastamento entre os membros da família, Nick Nolte traz à tona emoções que transcendem a tela: basta vê-lo em cena para se emocionar. Quando um ator consegue expressar tudo com o olhar, é uma clara demonstração de seu talento. Talvez Christopher Plummer tenha ganhado por ser a única coisa positiva em Beginners, mas acredito que a categoria era mesmo de Nick Nolte e foi uma pena vê-lo saindo sem o prêmio.

26 de mar. de 2012

Oscar 2012 - Maratona de Opiniões

Os 20 filmes indicados nas categorias: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Roteiro Original.

Os Academy Awards foram entregues há exatamente um mês e já é um pouco tarde para fazer análises acerca da cerimônia que consagrou um filme mudo e em preto e branco como Melhor Filme e que finalmente deu a terceira estatueta à Meryl Streep, mas creio que algumas polêmicas ainda respiram livres, sem o estrangulamento de um evento que tem pouco a dizer ou que, se disse muito, já o disse há muito tempo.

Há apenas um mês, Woody Allen foi eleito o melhor roteirista, Octavia Spencer a melhor atriz coadjuvante, Christopher Plummer sagrou-se o melhor ator coadjuvante, Meryl Streep – em sua décima sétima indicação – saiu vitoriosa como melhor atriz, Jean Dujardin tornou-se o primeiro francês a conquistar o prêmio de Melhor Ator e, fazendo dobradinha com ele, Michel Hazanavicius foi o melhor diretor. E, por fim, o melhor filme foi The Artist, produção franco-belga, marcou-se como a obra máxima do ano de 2012.

Muitos questionam essas escolhas – eu particularmente questiono bastante os prêmios entregues a Woody Allen e a Octavia Spencer – e a função da série de posts que acontecerão a partir de amanhã é justamente apontar os prós e os contras de cada indicado e também apresentar a minha opinião e a do Renan, que já dividiu o blog comigo por dois anos, e que agora vem como convidado para também discorrer sobre o grande evento cinematográfico desse ano – o Oscar!

24 de mar. de 2012

Atração Fatal

Fatal Attraction. EUA, 1987, 124 minutos, thriller. Diretor: Adrian Lyne.
Glenn Close compõe uma personagem de tal modo que nem depois que o filme termina nós somos capazes de nos esquecer dela!



Esse aclamado filme de Adrian Lyne rendeu ao diretor e aos atores excelentes elogios, foi indicado a vários prêmios e – me lembro bem – passava às vezes nas sessões de filmes tarde da noite. E eu sempre fiquei curioso em relação a essa obra; somente há pouco tempo, porém, pude conferi-la e chegar à minha conclusão acerca dela. Posso adiantar que Fatal Attraction me fez constatar três coisas – comentarei sobre elas abaixo.

Dan Gallangher é o advogado de uma editora. Durante o lançamento de um livro, no qual está com a mulher e com um casal de amigos, ele conhece Alex Forest, uma editora transferida recentemente. Algum tempo depois, num final de semana em que a esposa e a filha Ellen viajam para a casa dos pais dela, Dan e Alex têm um encontro casual e passam o final de semana juntos – o que mostra ser uma experiência sexual interessante para ambos. O problema é que Alex não compreende que foi um encontro rápido, sem intenções de se tornarem amantes. Ela então se mostra insistentemente inconveniente quando decide que fará parte da vida de Dan custe o que custar.

A primeira constatação a que cheguei foi: sexo casual pode ser perigoso. E eu não me refiro às doenças! A personagem Alex é provavelmente uma das personagens mais perturbadas do cinema. Ela simplesmente não aceita um não, ela não consegue compreender a realidade que a cerca e os limites que devem ser respeitados. Ela assusta mais ainda por ser absurdamente real. Tenho certeza de que todos conhecem alguém que já se envolveu com uma “Alex”. O que mais me agradou no roteiro foi a preocupação em trabalhar essa personagem, principalmente no quesito psicológico. Vamos analisá-la: primeiro, ela se mostra completamente centrada e madura, tanto é que usa esse argumento para convencer Dan de ir pra cama com ela. “Somos adultos”, ela diz. Depois, ela cobra dele algo que ele não havia lhe prometido, como por exemplo, passar o final de semana todo com ela. Ainda assim, ela consegue convencê-lo de modo muito espontâneo e sensual, o personagem e o espectador são envolvidos pelo charme dela. Destaque especial para a cena em que eles brincam de bola com o cão no parque, uma cena fabulosa! Mais tarde, a personagem surta entre um humor muito variável, que oscila entre a individualidade e o pensamento de incluir Dan em sua vida. Quando ela diz que está grávida, ele afirma que talvez seja a sua última chance de ter uma criança e que a decisão de ir adiante com a gravidez não tem nada a ver com Dan; mais tarde, contraditoriamente, ela fala com convicção que deseja que ele assuma as suas responsabilidades como pai do seu filho e que faça parte da sua vida. Alex é uma criatura perigosa exatamente por ser cuidadosamente invisível: destrói o carro dele sem ser vista, conversa com a mulher dele sem despertar suspeitas. Ela é um perigo sutil que o ronda e que coloca em estado de alerta toda a sua família.

Se o roteiro é muito generoso com Alex, ele falha em outros aspectos. O primeiro de todos refere-se exatamente a Alex: o roteiro a engrandece, mas lhe limita o espaço no filme, tornando-a quase coadjuvante dentro de uma história na qual ela é uma das personagens centrais. O affair entre Dan e Alex é tratado de modo muito insuspeito; Alex está em todos os lugares onde Dan está e os dois têm conversas estranhas na estação de trem, no escritório dele, na rua, no edifício onde ela mora. Na vida real, decerto a esposa dele ficaria sabendo rapidamente de que o marido provavelmente está tendo um caso devido aos boatos que ouviria. Achei o roteiro frágil nesse aspecto. Curiosa a cena em que Alex leva a filha de Dan e Anne para o parque. Fiquei me perguntando: que tipo de escola libera uma criança para alguém que não seja um dos pais ou para alguém que não esteja devidamente autorizado a pegá-la? Outra falha, bem grotesca, do roteiro, que somente teve a intenção de acentuar ainda mais a interpretação dramática da atriz que interpretaria a mãe de Ellen e a esposa de Dan.

A segunda conclusão a qual cheguei é: Michael Douglas pode ser um bom ator. Vi alguns filmes com ele que não me convenceram exatamente de que ele era bom em atuar, mas, ao ver Atração Fatal, concluí que ele é capaz de proporcionar uma interpretação consistente e admirável. Como Dan, ele me fez ficar tenso também, me convenceu de que sentia cada momento de incômodo e angústia. Por isso, eu o elogio. Glenn Close me surpreendeu também, mas eu nunca desconfiei que ela fosse uma atriz pela metade. No entanto, credito à sua personagem o mérito pelo meu apreço. Esse é um daqueles casos em que a personagem é bem maior que a atuação da atriz. Se não fosse Glenn, talvez a atuação fosse um pouco menor – provavelmente diferente -, mas creio que qualquer outra atriz do seu nível que a substituísse estaria bem em cena. Anne Archer não me surpreendeu muito, para mim a sua atuação é aceitável e correta, com pequenas escorregadas, principalmente no que diz respeito ao seu modo tranqüilo de falar mesmo em situações que requeriam um tom de voz mais determinado e agressivo. Não entendi bem o porquê de sua indicação, considerando que vi no seu trabalho apenas o tom correto, nada que a eleve a um patamar que lhe valha uma indicação.

A direção de Adrian Lyne ostenta as nuances de que o filme precisava para se estabelecer como obra cinematográfica recomendável. O diretor soube captar os melhores momentos e melhores ângulos, tanto dos personagens quanto das cenas, independentemente de quais sejam. Nas cenas de sexo, o diretor soube bem como filmar o encontro agressivo, o desejo instantâneo e o êxtase dos personagens; nas cenas de perseguição, como quando Alex vigia a reação de Dan no estacionamento e depois o segue na rua; na cena final, muito bem dirigida e ensaiada, pecando apenas pelo clichê da surpresinha da quase-morte de Alex.

A terceira conclusão a que cheguei é: um telefone com ruído estridente que toca insistentemente ao longo de duas horas de filme consegue irritar qualquer espectador, mesmo o mais calmo deles. Acho que esse é outro problema do filme. No começo, o telefone que toca causa pressão no personagem e no espectador; ficamos pensando que pode ser Alex ligando para atormentar Dan ainda mais. No final, enquanto Dan está agoniado e tenso com o telefone, eu estava simplesmente com vontade de assistir o resto do filme com o mute ligado, de modo a não ter que ouvir aquela porra tocando. Ficou evidente para mim que aquele foi o recurso utilizado para esconder a falta de criatividade do roteirista, que não conseguiu pensar em nada mais assustador do que um telefone que toca. Falo sério, devo ter ouvido aquele irritante “trrrriiiimmm” oitocentas vezes!

Creio que Atração Fatal seja um filme interessante, que rende um entretenimento bom a quem o vê. Não é nenhuma obra-prima, eu mesmo esperava bem mais dele, acreditava que veria um thriller muito maior. Atende às expectativas, mas não chega a ser incrível. Destaque para a boa fotografia e trilha sonora, que acrescentam intensidade maior às grandes cenas do filme. Sabem, depois de ver o filme, o que me ficou na cabeça foi: “com quem será que posso repetir a cena do elevador?”.

22 de mar. de 2012

Curtas-metragens: Homossexualidade (2)

Como fiz anteriormente nesse post, resolvi reunir de novo em uma pequena lista alguns filmes curtas-metragens que abordem a homossexualidade, mesmo que o enfoque do filme não seja diretamente o caráter homossexual. Tal como na lista anterior, os filmes aqui listados receberão mais tarde uma resenha individual, na qual poderei analisá-los mais criticamente, com mais argumentos. Vale ressaltar: a lista é composta exclusivamente por produções nacionais. Sem me prolongar mais, vamos ao que interessa:

Beija-me Se For Capaz – 2006, 21 minutos. Qualidade: ruim.
Eu realmente achei muito desnecessário esse filme. Não somente o roteiro é ruim, como também são ruins as interpretações. Algumas das situações propostas são simplesmente absurdas, como a cena em que um rapaz segue o outro na rua com algum propósito misterioso (e o espectador nem entende o que significa aquilo, um flerte?, uma tentativa de assalto?, loucura?) ou outra cena na qual um rapaz beija enlouquecidamente o espelho, no qual ele enxerga o “príncipe encantado”. Curiosamente, todo o elenco aparece pelado. No final, há uma seleção de beijos recriados: uma homenagem aos beijos mais famosos do cinema, recriados com base numa versão gay – assim, Deborah Kerr e Burt Lancaster viram dois homens que se beijam enquanto a água invade a areia.

Expresso – 2010, 18 minutos. Qualidade: média.
A história de adolescentes descobrindo a sexualidade e passando por uma fase difícil não é nem um pouco original. Então cabia ao diretor saber como dirigi-la de modo a torná-la interessante. E isso não acontece. Não quero dizer que a obra seja totalmente ruim, não é isso – ela até entretém, mas isso se deve à pequena duração. Jamais funcionaria como uma produção de longa-metragem. Há um efeito ruim que torna a voz do protagonista indiscernível e, do começo ao fim ouvimos textos que foram banalizados na Internet; porém, o diretor, por alguma razão, achou interessante inserir isso na obra. Não é marcante nem elogiável – até porque os atores são ruins –, mas é assistível.

O Móbile: Admiração – 2009, 25 minutos. Qualidade: média.
Conhecemos a história de duas mulheres: Nina, uma atriz, e Bárbara, uma artista plástica. Ambas se admiram, mas nunca se viram pessoalmente. Quando por fim se conhecem, vivem uma paixão tórrida. Se não fosse pelo elenco, composto por quatro atores (amadores?), o curta-metragem teria conquistado a minha simpatia. O enredo é interessante porque faz uso da expressão “a vida imitando a arte” e a inverte; o bom gosto estético é impressionante, a fotografia é linda, os enquadramentos de Lílian Werneck são elogiáveis e a edição – bem como a trilha sonora – são outros elementos positivos. Há, no entanto, o elenco – nenhum ator convence, todos são exagerados, fora do tom. Infelizmente.

Professor Godoy – 2009, 16 minutos. Qualidade: muito boa.
De todos os filmes listados aqui, esse é provavelmente o melhor deles. A história de Godoy, professor severo de matemática, é contada a partir do primeiro bimestre do ano letivo, quando um aluno sutilmente começa a se insinuar para ele. Conforme o ano passa, o jogo de sedução fica mais visível e difícil de lidar. Talvez o que mais me tenha atraído nesse curta-metragem tenha sido o modo como a problemática nos é apresentada: Godoy deve respeitar a ética profissional ou deve ceder ao seu próprio desejo? E é esse questionamento desautomatizador que mantém o espectador atento a cada segundo do que é apresentado. Talvez eu também tenha gostado tanto porque Professor Godoy me remeteu ao excelente filme Notes on a Scandal, sendo o professor desse curta-metragem a versão sensata de Sheba, personagem de Cate Blanchett no longa-metragem.

Sargento Garcia – 2000, 16 minutos. Qualidade: boa.
Essa é uma adaptação da obra literária homônima – um conto publicado por Caio Fernando Abreu, que se encontra no livro Morangos Mofados. Devo dizer que, ao ler o conto, não imaginei nem por um momento que ele pudesse ser convertido numa obra cinematográfica sem perder o seu charme literário. Mas Tutti Gragianin captou bem a essência do conto e soube como transpô-lo para a tela. O resultado é esse curta-metragem que conta a história do garoto Hermes e do homem que dá título ao conto e ao filme – os dois se conhecem quando Hermes vai se alistar para o serviço militar e acabam se envolvendo. As figuras masculinas predominam o filme – Hermes representa a masculinidade tranqüila, Garcia é a masculinidade viril e Isadora, dona da casa para onde Garcia leva Hermes, representa a quebra da masculinidade. O único defeito se encontra na qualidade da imagem, que me fez pensar que essa era uma produção da década de oitenta, quando na verdade é de 2000.

20 de mar. de 2012

Disque M para Matar

Dial M for Murder. EUA, 1954, 105 minutos, suspense. Diretor: Alfred Hitchcock.
Um filme que é capaz de deixar o espectador estarrecido com as situações vistas. Todo o conjunto - diretor, elenco, trilha sonora, fotografia - compõem um dos melhores filmes do século passado. Uma verdadeira preciosidade do cinema.

Eu já havia conferido anteriormente o filme Um Crime Perfeito, de 1998 e também baseado na obra teatral de Frederick Knott, e eu realmente tinha gostado da trama. Somente há pouco tempo conferi o obra dirigida por Alfred Hitchcock e facilmente constatei que o seu longa-metragem é, em todos os aspectos, superior à versão lançada 44 anos depois e dirigida por Andrew Davis.

Inquestionavelmente, Dial M for Murder possui um charme eterno. Passaram-se cinqüenta e sete anos desde o seu lançamento e o filme ainda respira juventude e exala o poder cativante de uma obra que jamais envelhecerá. E afirmo sem receios: poucos filmes conseguem sobreviver à ação do tempo e às constantes mudanças pelas quais o cinema passa. Essa obra de Hitchcock não somente manteve a sua aura de magnificência como também serve de referência para outros filmes que estão por vir. Conferi-lo, afinal, é uma lição cinematográfica.

 Grace Kelly, a verdadeira essência do filme.

Todo o suspense dessa produção se baseia numa única intenção: matar a esposa. É exatamente isso que planeja Tony Wendice, personagem de Ray Milland. A morte de seu cônjuge resultaria num quantia considerável de dinheiro, o qual garantiria a ele uma vida bastante tranqüila. Então, ele maquinalmente arquiteta o assassinato de Margot, brilhantemente interpretada por Grace Kelly. Tony chantageia um homem de cuja vida corrupta ele tem conhecimento, convence-o a cometer o crime por dinheiro. Eles, então, decidem dar início ao que consideram ser o crime perfeito.

E devo dizer que o plano de Tony realmente parece ser perfeito. É como se ele realmente conseguisse dominar a prática e enfiá-la na teoria, para depois exteriorizá-la novamente. Eu me senti convencido de que tudo o que ele havia planejado funcionaria, porque parece ser um plano sem falhas. Mas o personagem de Robert Cummings tem razão quando diz que “poderia escrever uma história de assassinato perfeito, mas aí não seria vida real”. Afirma, porém, que acredita no crime perfeito. E todos nós somos convencidos de que também acreditamos no crime brilhante, possível de ser executado sem qualquer margem de erro. O roteiro do filme consegue costurar magnificamente os seus dois atos: o primeiro, no qual conhecemos os personagens e suas vidas – conhecemos o relacionamento adúltero de Margot e as intenções de Tony – e o segundo, após o plano de Tony não ter sido consumado exatamente como ele queria. A história se retroalimenta e esse é o seu mérito maior: parece que sempre estamos diante de um evento novo que torna o evento anterior maior; é como um tornado, sempre girando, sempre maior, muito devastador.

 Momentos antes do crime quase perfeito.

Não cabe unicamente ao roteiro a façanha de ter tornado essa obra inesquecível. Não posso me esquecer de comentar sobre todos os outros aspectos – trilha sonora, fotografia, elenco e direção. Tudo isso forma um conjunto fantástico, que contribui para que o filme seja essa verdadeira conquista para o cinema. Alfred Hitchcock realiza uma performance maravilhosa por trás das câmeras. Ele capta os melhores ângulos do cenário e do elenco, ele arranca dos atores o melhor que eles podem oferecer. Basta olhar a atuação de Grace Kelly para perceber a influência do homem que a dirigia! Hitchcock ainda busca criar no espectador a sensação que têm os personagens e ele realmente consegue fazer isso. Observemos, por exemplo, a cena na qual Margot é atacada – ainda que a vejamos de frente para nós, e, portanto, vemos o seu potencial assassino de frente para nós, é como se estivéssemos na mesma situação que ela, mas conscientes de que corremos perigo. A sua ausência de reação após a tentativa de assassinato nos acomete – sentimo-nos também enrijecidos e sem resposta àquilo que aconteceu, no entanto, nossos corações batem acelerados – tal como acontece com Margot.

Esse efeito também é conquistado pelo jogo de luz que Hitchcock obtém: o contraste entre o claro e o escuro é fundamental para criar o clima de suspense que é necessário para que o filme se encaixe dentro desse gênero. E o diretor sabe bem com captar isso, aproveitando também o espaço em cena. Logo após cravar a tesoura nas costas de seu assassino (vou chamá-lo assim, ainda que o termo não seja adequado para a situação), Margot permanece parado ao lado do corpo inerte do homem. A câmera não se move, permanece focando os dois – a luz iluminando a mulher, o homem deitado na escuridão; ele representando o perigo, ela, a inocência. Não è à toa que a claridade incide nela e que a dualidade bem versus mal esteja representada em antagonismo evidente. Momentos depois, a câmera brevemente acompanha os movimentos de Margot e ela se afasta do homem morto – em nenhum momento, porém, um dos personagens saem de cena: ela, já bastante longe dele, continua iluminada pela luz enquanto ele permanece na escuridão. São exatamente nesses momentos, nos quais Hitchcock capta o cenário de modo teatral, abrangendo a sua amplitude máxima, que percebemos com maior ênfase o quanto a fotografia do filme é muito bonita e poderosa. Me surpreende que não tenham concedido a esse filme pelo menos indicações nas categorias de direção de arte, melhor montagem ou mesmo melhor fotografia – não posso, porém, me esquecer de que no mesmo ano em que Disque M para Matar poderia concorrer, outro filme de Hitchcock chamou a atenção das premiações: Janela Indiscreta.

 Momentos próximos do embate final.

Depois de assistir a esse filme, para sempre me lembrarei dos fantásticos olhos azuis de Grace Kelly. A sua postura em cena me diz que ele foi muito bem dirigida, mas o modo como o seu olhar penetra e revela suas emoções me garante que ela é uma ótima atriz. Não há como tirar os olhos dela e quando está acompanhada, acabamos não notando os outros atores em cena – nossa atenção está voltada exclusivamente para ela. Ray Milland também não deixa a desejar, sua personificação é bastante convincente e até assustadora – exatamente porque ele consegue demonstrar medo e autocontrole ao mesmo tempo. Os atores coadjuvantes Robert Cummings e Patrick Allen também dão o suporte de que o roteiro precisa para se firmar. Ambos os atores concebem boas interpretações, no tom certo, sem exagerar nem diminuir a entonação necessária para que sejam críveis em cena. Assim, sem muita hesitação, alego que o elenco é muito bom.

Hitchcock cria uma obra maravilhosa, na qual os defeitos – se existem – são imperceptíveis. O suspense criado ao longo do filme é realmente elogiável e a cada momento é apresentado algo novo, de modo que nossa atenção fica o tempo todo focada no conjunto de maravilhas que esse filme possui. Se quiserem ver uma obra realmente boa, vejam Disque M para Matar, decerto não se arrependerão, porque, como disse lá em cima, essa produção é uma lição de cinema.

16 de mar. de 2012

Poder sem Limites

Chronicle. EUA / RU, 2012, 84 minutos, sci-fi. Diretor: Josh Trank.
Uma obra que, apesar de madura e sóbria, não é verdadeiramente interessante.

O subgênero found footage apareceu no cinema com bastante freqüência desde “A Bruxa de Blair” (1999), no qual um tape registra as imagens de uma aventura de três jovens numa floresta na qual supostamente vivia uma assombração – o fato de os jovens terem desaparecido e o vídeo ter sido encontrado faz com que pressuponhamos suas mortes e talvez isso comprove a existência do perigo sobrenatural na floresta. Mas os ambientes desse subgênero do cinema não aparecer apenas em filmes de terror tampouco requerem a presença de ambientes escuros. “Poder sem Limites”, ou Chronicle, conforme o original, nos mostra justamente isso: os três protagonistas dessa trama são jovens do ensino médio que vivem rotinas bastante ordinárias e que subitamente se vêem ante uma nova experiência de vida.

 Os três jovens prestes a passar pela mutação que lhes concederá poderes.

Apesar de um tom bastante sobrenatural que às vezes presenciamos e da história que, por si só, já apresenta aspectos inerentes à ficção científica, o filme facilmente transita entre o terror e o drama, apresentando um gênero híbrido e, pelo menos nesse aspecto, bastante funcional. Basta vermos como gradualmente o ritmo do filme muda, bem como a sua atmosfera, que fica cada vez mais sombria conforme a narrativa avança. Porém, os elementos dramáticos não se perdem, co-existindo pacificamente e intensificando cada cena. Logo no começo do filme, vemos a proposta dos personagens de viverem e registrarem em fita as suas rotinas e, também no começo da película, vemos a fonte dos novos poderes que Andrew, Matt e Steve adquirirão – quando descem a uma caverna, descobrem uma parede cristalina colorida e fluorescente que parece emitir ruídos peculiares. A partir de então, observam as novas características conquistadas: capacidade de mover objetos com a mente.

Os garotos são adolescentes e, sem a maturidade apropriada, compreendem a princípio o poder como uma brincadeira. E fazem uso dos novos poderes para atitudes jocosas – construir castelos de lego, mover copos sobre a mesa, fazer móveis tremerem e, já mais hábeis, moverem os carros nas vagas do estacionamento. Mas, à medida que seus poderes aumentam e eles tomam consciência de que podem ficar descontroláveis, decidem que precisarão obedecer uma série de regras para o bom uso de suas habilidades. Parece meio clichê, pois sabemos que personagens com capacidades sobre-humanas são naturalmente falhos e decerto as usarão em momentos inadequados – e isso acontece nessa película, como pressupúnhamos. Percebemos, porém, bastante maturidade no roteiro para lidar com essa situação de forma gradual em vez de torná-la abusiva: Andrew vai pouco a pouco cedendo à pressão social, seja por parte do seu pai, que é um alcoólatra agressivo, ou seus amigos, que mesmo querendo ajudá-lo conseguem inibi-lo ainda mais.

 Andrew, já totalmente descontrolado e perigoso.

Honestamente, penso que o filme tenha verdadeiramente os seus bons momentos, com direito a personagens verossímeis e situações que são cabíveis na narrativa. No entanto, há algo que não me chamou a atenção, embora eu não saiba precisar esse elemento com facilidade. Simplesmente a história não me agradou na totalidade e muitas vezes eu me vi querendo que o filme acabasse logo. Não me sentia muito interessado no drama dos personagens e isso não se deve a momentos que parecem “falhos” no roteiro, como, por exemplo, a ausência de explicação para o objeto extraterrestre ou com capacidade físico-químicas não desobertas – percebemos que o foco do filme – inclusive sua própria estrutura – não permite que esse assunto seja abordado com naturalidade. Alguns podem se incomodar com essa não-explicação, mas eu a considerei excelente na história, tirando dela a responsabilidade por eu não ter apreciado tanto o filme.

De um modo geral, não creio que seja uma obra desagradável de ser vista, até mesmo porque o filme é bastante curto, os atores são eficientes, os efeitos visuais, ainda que não os ache excelentes, não perturbam as cenas, a direção é, senão maravilhosa, pelo menos objetiva e clara no encadeamento dos elementos narrativos. Acredito que possa ser um bom entretenimento, dependendo do humor com o qual assistirem a esse filme, que, a meu ver, é mais satisfatório do que insatisfatório, mas, ainda assim, nada que verdadeiramente entretenha.

14 de mar. de 2012

Geração Maldita

The Doom Generation. EUA, 1995, 85 minutos, drama. Diretor: Gregg Araki.
Uma feroz crítica ao comportamento juvenil num filme cheio de simbolismo e entrelinhas - e Rose McGowan, fantástica!

Doom foi um dos muitos filmes a que eu assisti sem saber exatamente o porquê de tê-lo assistido. Baixei-o aleatoriamente, sabendo somente a sinopse, sem qualquer outra informação. Até fiquei surpreso ao saber que se tratava de uma obra do Gregg Araki, cujo filme Mistérios da Carne eu já havia assistido e aprovado. O mesmo aconteceu com esse: aprovado por mim. Creio que considerá-lo um filme adolescente é subjugá-lo. Definitivamente, essa é uma obra cheia de simbolismo e críticas, que retrata adolescentes, mas que não foi primeiramente voltada para esse público. A começar pelo título: um filme feito para jovens sendo que esse o ataca diretamente? Não me parece totalmente contraditório, mas definitivamente não penso que tenha sido essa a intenção de Araki. Sua obra começa com o casal Jordan e Amy, que namoram há três meses e que se consideram “desalojados no mundo”. Sentem-se como se não houvesse lugar adequado pra eles. Uma noite, por coincidência, encontram Xavier, um jovem rebelde e agressivo, que vive desocupadamente, normalmente envolvido em confusão. Ao comprar numa loja e esquecerem o dinheiro no carro, envolvem-se num problema quando o dono do estabelecimento pensa que eles vão roubá-lo e ameaça atirar, culminando em atitudes incertas que levam à morte do homem e a constante fuga dos três jovens.

 Rose McGowan como Amy - ou Sunshine, ou Bambi, ou Mandy.

Se num momento eles se achavam “sem lugar no mundo”, agora eles têm quase certeza de que definitivamente não há mais lugar para eles. É difícil dizer exatamente o que faz com que esses jovens pertençam à geração maldita do título. Eles vivem intensamente, vivem o hoje, sobretudo. Isso fica evidentemente porque suas atitudes são extremistas, desconsiderando momentos muito adiantes no futuro – eles vivem o presente. Talvez o vivam mal, porque o vivem violentamente. Basta notarmos que em todos os lugares que eles entram, parece haver alguém com quem discutir, alguém com quem brigar. Mesmo entre eles não há paz. Os três discutem, envolvem-se emocionalmente para então se machucarem, chocam-se o tempo todo. Há neles o liberalismo que não havia antes e ao longo do filme percebemos que os dois rapazes – Jordan e Xavier, mais este do que aquele – flertam o tempo todo, conversando com os rostos muito próximos, sentindo a tensão de um quase-beijo que nunca se concretiza num plano real. Ou talvez a crítica seja exatamente essa: eles vivem tanto a situação que não estão conscientes do que ela significa, embora pareça bastante claro a nós que eles sabem que é aquilo mesmo. Uma crítica maior vai à atitude deles – ou melhor, à falta dela: eles querem o beijo, mas não assumem explicitamente, se aproximam, mas nunca o suficiente; o que parece bem incoerente para quem faz tudo sempre sem muitos questionamentos morais.

 Xavier: a figura que transita entre o casal, servindo como impulsor de tensão sexual.

Esses mesmos jovens estão relacionados à arma branca, ao crime, ao desapego e a massificação. Não são apenas três jovens fugindo de atitudes erradas. Eles carregam consigo a identidade de vários outros jovens, todos semelhantes a eles, todos fazendo parte de uma mesma geração, uma geração que deturpa e transgride, fere e foge. Uma geração que se marca, que carrega consigo cicatrizes das experiências anteriores e mesmo assim parece não aprender. Destaque para o modo como Amy é sempre confundida com outras garotas – um atendente de drive-thru confunde-lhe com Sunshine e jura matá-la. Então nos questionamos: o que terá feito Sunshine àquele homem para que ele lhe quisesse tanto mal? Depois, num bar de estrada, Amy é confundida com Mandy e a mulher que a confunde com essa pessoa jura matá-la. Na terceira vez, chamam-na de Bambi e, mais uma vez, o juramento de morte. Curiosamente, nas três vezes, as cenas terminam num ato de extrema violência, que exclui desmembramento, esfaqueamento, estupro. E acho curioso ressaltar que não se afirma com segurança que uma pessoa aleatória é a pessoa x só por causa da aparência. O que nos traz a certeza é o conjunto de voz, aparência, estilo, atitude. Por três vezes, Amy foi confundida com outras garotas, nos permitindo encontrar similaridade entre elas, o que nos permite também concluir que Amy representa todas as meninas de sua geração.

Destaque para as armas que aparecem ao longo do filme: um rifle, um facão e depois uma tesoura de jardinagem – para cada uma das vezes que Amy é confundida. Mas eles também são constantes alvos de revólveres: primeiro o japonês neurótico que quase os matou e depois símbolos espalhados, que remetem aos personagens. Ao comprar o que comer, Jordan paga o valor respectivamente à caixa e, logo atrás dela, há um imenso pôster no qual há uma arma apontando para ele. Não podemos ignorar também a importância das compras. Sempre que esses três jovens fazem alguma compra, independentemente do lugar ou do que compram, o valor é sempre relativo ao número 666, o que talvez reafirme a posição do filme ao criticar esses personagens. Eles são bestializados, eles são para os outros jovens o que a Besta é para o mundo terreno, eles influenciam, eles distorcem e recriam ao seu modo.

 Xavier e Jordan, sempre num beijo iminente.

Não posso me esquecer que a obra também se firma bem como seqüência fílmica. Tenho até então discorrido sobre sua eficiência no seu discurso elaborado e não comentei sobre o filme em si. Essa é a segunda parte da “trilogia adolescente apocalíptica” de Araki – o primeiro filme foi “Totally Fucked Up”, de 1993, e foi concluída com “Nowhere”, de 1997. O filme se firma como uma obra interessante quando junta três personagens bem diferentes – o desocupado rude Xavier, a pseudocomportada Amy e o indiferente Jordan. Mesmo que os personagens não sejam necessariamente típicos, eles encontram sua força no modo como agem tipicamente – e isso cria um paradoxo, pois eles são atrativos exatamente pelo modo como são. Destaque para a atuação de Rose McGowan – gatíssima, talentosa e num momento muito interessante de sua carreira (reparem: um ano depois, estaria no elenco do corajoso “Scream”). Assim, o filme vale bastante a pena, tanto como obra cinematográfica quanto como crítica social.

12 de mar. de 2012

A Hora da Estrela

Brasil, 1985, 91minutos, drama. Diretora: Suzana Amaral.
Ainda que não seja uma adaptação efetiva de tudo que está presente no romance de Clarice Lispector, trata-se de uma das obras mais interessantes do cinema nacional.

Sempre que se comenta a respeito dos filmes que são produzidos no cinema nacional, à mente de quase todos vêm as produções mais recentes, que usualmente retratam a marginalização de um grupo social, principalmente voltadas à questão de crimes, violência, morte. De certo modo, há atualmente uma identidade muito forte do Brasil com temas policiais, os quais se podem verificar em títulos como Cidade de Deus e Tropa de Elite – o primeiro, em minha opinião, bastante interessante; o segundo de gosto duvidoso. No entanto, é válido buscar na memória e na história nacional de produções cinematográficas que abordavam uma temática diferente dessa que eu comentei acima e que trouxeram obras fílmicas importantes para o Brasil. Exemplifico com os títulos Central do Brasil, de 1998, e A Hora da Estrela, adaptado em 1985 da obra literária de Clarice Lispector, que publicou o romance em 1977.

Se comparadas as obras fílmica e literária, perceberemos que no filme falta muito da riqueza presente no livro. Se ignorarmos, porém, que o filme provém do livro, decerto nos perceberemos diante de uma obra bastante rica e intensa. Vale, antes de estabelecer grandes comparações – as quais eu não farei –, lembrar que cinema e literatura são artes cujos planos de expressão são diferentes; exatamente por isso não se pode esperar que tudo seja mostrado em um conforme é mostrado no outro. Assim, afirmo desde já que A Hora da Estrela é uma obra interessante, que nos traz uma excelente condução de história e que nos apresenta personagens bastante coerentes dentro da estrutura social da narrativa. A história de Macabéa, jovem nordestina de 19 anos, nos é contada a partir do momento em que ela consegue um emprego e arruma onde morar. Acompanhamos a partir de então a trajetória de uma moça que fala pouco, exatamente porque não sabe o que falar; age estranhamente porque não foi habituada ao convívio social e ao pensamento capaz de discernir o que lhe é bom e o que não é. Ao longo de uma hora e meia, vemos como essa moça lida com Glória, sua colega de trabalho, Olímpico, o seu namorado, e, ainda, com a sua própria vida.

 Quando sozinha, Macabea se entrega aos seus devaneios.

Talvez o grande acerto de Suzana Amaral tenha sido confinar Macabéa à sua própria pobreza. A personagem, bastante rica quando analisada, é tão pobre que causa no espectador uma sensação angustiante – sua pobreza não exclusivamente financeira: falta-lhe carinho, falta-lhe discernimento, também carinho e compreensão. Decerto modo, pode-se dizer que lhe falta pensamento crítico. Sua alienação é tão absurdamente grande – e tão magnificamente interpretada por Marcelia Cartaxo – que ela parece fadada a todas aquelas situações infelizes que lhe cercam. Dou destaque especial para a cena na qual Macabéa, sem qualquer distinção entre o que é higiênico e o que não é, faz xixi numa bacia enquanto come um frango; depois, sem acesso à água, não lava as mãos, limpa-as engorduradas na camisola, e ouve música. Nota-se também uma profunda crítica social em todas as cenas mostradas pela diretora e pode-se afirmar que o seu filme é não apenas artístico, mas também tem uma finalidade social marcante, assim como o romance clariceano. Para mim, o mais marcante qual à proposição de questionamento social é a apresentação da marginalização dentro da marginalização: percebe-se no quarto que Macabéa divide que todas as mulheres lá estão à margem da sociedade; ainda assim, Macabéa é vista por elas como alguém inferior, consciente ou inconscientemente, vêem-na como alguém mais distante socialmente do que elas.

Quanto aos aspectos artísticos da obra, penso que não posso desassociá-lo dos inúmeros caracteres simbolistas que existem nessa obra. É evidente ao espectador que olha que atenção as cenas que há uma simbologia bastante notável nelas. Destaco aqui duas delas: dois momentos nos quais Macabéa se olha em superfícies refletoras e quando ela se depara com a dicotomia alto-baixo. Nos momentos em que a personagem se olha, nunca a vemos – bem como ela mesma não se vê – regular e estável; a superfície que a reflete sempre a mostra distorcida, embaçada, nebulosa: uma evidente amostra de que a personagem é o seu reflexo, posto que o reflexo é a imagem em projeção daquilo que é posto diante de um espelho, por exemplo. A respeito da dicotomia que comentei, notamo-la muito explícita em duas cenas – quando Macabéa é levantada por Olímpico, que a gira, e quando a cartomante lhe diz que a vida é uma montanha-russa. No primeiro exemplo, Olímpico a coloca no alto e a gira, causando nela uma alegria bastante espontânea; Suzana Amaral inclusive nos concebe um momento muito interessante no qual ignora a objetiva e faz com que a câmera se torna subjetiva: vemos a cena por intermédio da visão de Macabéa, tal como ela, nós giramos no ar. Depois, próximo ao final do filme, a vidente lhe diz que ela subirá na vida ao conhecer um estrangeiro, o que de fato acontece: Macabéa, ao sair dali, é atropelada por um gringo – o choque do carro com o seu corpo a arremessa para o alto, lançando-a fortemente ao chão depois. Nesses dois momentos, percebemos a associação do “alto” com o “baixo” é não apenas literalmente, mas, sobretudo, metafórica. Na cena com Olímpico, ele a levanta (ela está, fisicamente no alto), demonstrando um gesto de carinho, para logo depois terminar o namoro com ela (colocando-a, em oposição metafórica à cena anterior, para baixo). A cartomante, por sua vez, refere-se exclusivamente às situações capazes de nos fazer felizes e tristes e Macabéa literalmente efetiva as palavras da vidente ao, num momento de espontânea felicidade – tal como na outra cena comentada –, ser levantada literalmente e derrubada. Percebe-se a simbologia da oposição entre alto-baixo, literal-metafórico, felicidade-tristeza.

É claro que o filme não sucede apenas pela delicadeza de Suzana Amaral ao filmar essa obra. O filme também é um conjunto de acertos por partes do atores, roteirista, produtores etc. Nunca, enquanto lia o romance, pude imaginar alguma atriz que tão perfeitamente adentrasse nas características de Macabéa e a trouxesse tão pungente para as telas; Glória, interpretada por Tâmara Taxman, foi excelentemente personificada, os seus gestos, a sua postura, é exatamente assim que se concebe a imagem da personagem enquanto lemos. Olímpico também é parecido com o que o ator José Dumont ofereceu: rude mesmo quando tenta ser dócil, ignorante supremo e ainda assim, em contraste à Macabéa, absurdamente orgulhoso para admitir que não sabe certas coisas. Não me restam dúvidas de que essa é uma obra nacional que merece destaque e que foi esquecida, como se não tivesse resistido à ação dos anos – o que se mostra muito incorreto, já que o filme continua extremamente vivo e, não fosse pelos problemas na remasterização, seria sinceramente atemporal. Para mim, merece indubitavelmente ser visto.

10 de mar. de 2012

O Inverso do Cinema: Anjo do Desejo

Dono do blog "Satélite Assassino", Alan Raspante mais uma vez vem ao Literatura e Cinema como convidado e nos presenteia com seu texto bastante crítico sobre um filme do qual devemos fugir. Aproveito e agradeço-o de novo por ter aceitado participar.
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por Alan Raspante 

Megan Fox era notícia após ser demitida da franquia "Transformers". Seu gênio forte acabou criando o mito em volta da bela atriz que, aparentemente, se viu vangloriada com o sucesso. Definitivamente, Megan Fox era um sucesso. Porém, a atriz esqueceu que não tinha talento para sustentar isso. Não só talento como também não tinha bom senso. Passion Play (2010) comprova isso. Megan Fox estava à procura do projeto de sua vida. Aquele que ajudaria a alavancar a sua carreira e assim fazer dela uma grande atriz. O tiro, claro, saiu pela culatra. Não restou nada de Megan Fox após Passion Play. Tanto que a atriz até mudou a sua postura: resolveu ficar quietinha e esperar pelos próximos projetos. Sabiamente, Megan Fox vem optando por comédias. Nicho no qual ela encontrará sossego. Agora, paralelamente, não é difícil falar de Passion Play. Muito pelo contrário.

 Megan Fox e Rhys Ifans

Situação proposta
Não sei ao certo, mas creio que Mitch Glazer tentou fazer mais uma versão açucarada do filme "Asas do Desejo" (1987). O plot é praticamente o mesmo, só que aqui acontece o inverso. Nate (Mickey Rourke) já foi famoso, mas atualmente é apenas mais um bêbado que luta pelo pão de cada dia. O mocinho transa com a esposa de um importante mafioso, Happy (Bill Murray) e com isso acaba sendo caçado de morte. Ele é levado para um deserto artificial, mas é salvo por alguns índios vestidos de ninja que aparecem do nada no local (???). Próximo dali, Nate acaba encontrando um circo e descobrimos que ele, na verdade, foi parar no México. Mas, opa, todo mundo fala inglês... Sabiamente, o roteiro afirma que o inglês de todo mundo é bom por conta de um jovem londrino. Significa que o tal jovem de Londres ensinou todo mexicano que está no meio do deserto a falar inglês? Eles conseguem até conjugar bem os verbos, viu? Enfim, Nate está apenas procurando um telefone, mas se depara com um anjo, Lily (Megan Fox), e ambos fogem para os Estados Unidos. Nate meio que vendo a garota, mas os dois acabam se apaixonando. É isso.

Personagens
Acredite: Nate é um dos personagens mais chatos da estória do cinema. Não só ele, como também Happy e a mulher pombo da Lily. O trio é basicamente uma pedância sem tamanho. O roteiro não desenvolve nenhum com dignidade e ainda temos que aguentar frases de efeito que surgem a toda hora no filme. Lily só quer tirar as asas de pombo (que não prestam para nada!), porém, Nate tenta fazê-la acreditar que sim, ter asas é bacana e ser diferente é ser normal. Em uma das cenas, Lily reclama que as asas são pesadas e fica difícil conviver com elas. Claro, Nate não leva isso em consideração. Creio que ele já pensa que no final, elas serão úteis. Antes que eu me esqueça, Lily chora bastante também. Não me pergunte aonde Megan Fox arranjou tanta lágrima para o mesmo filme. Enfim, nesta categoria o filme é totalmente inútil. Como avaliar os personagens se eles são apenas caricaturas de vilões e mocinhas de um gibi qualquer? Assim fica difícil!


Direção
Consta no filmow que Mitch Glazer trabalhou como ator em "Os fantasmas contra-atacam" (1988) com Bill Murray (isso deve explicar o motivo da participação vergonhosa do ator neste filme). Sim, ele apenas tem este trabalho (Acabei de ver que o diretor possui alguns outros roteiros, mas ainda sim, este é o seu primeiro trabalho solo já que os outros foram em "parcerias"). Mitch deve ter acordado em um dia ensolarado e assim, ter decidido que seria diretor (e roteirista, antes que eu me esqueça...). Assim surgiu Passion Play. Por incrível que pareça, esse filme não possui direção. Seus enquadramentos são horríveis e em certos momentos é perceptível ver as limitações do estúdio no qual o filme foi gravado (principalmente na última cena). Glazer tenta ousar em algumas cenas, mas não obtém sucesso nenhum. O diretor, claro, também não possui direção forte com atores. Todas as atuações são desastrosas. Percebe-se que Megan Fox até tenta se empenhar, mas em algum momento ela joga a toalha. Se Mitch Glazer tivesse um pouco de dignidade, ele teria conseguido realizar até uma boa aventura da "Sessão da Tarde". O problema é que ele se levou a sério demais. Tentou ser um drama no nível de "Asas do Desejo". Ele apenas tentou, mas não conseguiu nem chegar perto.

Roteiro
Sim, Mitch Glazer também assina o roteiro. E, sim, o roteiro consegue ser o pior de tudo neste filme. O plot principal já é constrangedor, porém, do meio para o final o filme acaba se tornando uma verdadeira novela mexicana. Acompanhem: mocinho e mocinha felizes. Vilão toma mocinha pra si, mas o mocinho (arrependido) a quer de volta. Mocinha, que agora está desiludida com a raça humana (com os homens mesmo!) não quer mais saber do cara pálida. Até chegar ao ato final (e que você já sabe o que vai acontecer), você já dormiu umas trinta vezes. O roteiro fica neste vai e volta e se perde em sua lição de moral sobre aceitação. O drama se torna mais risível quando, pasmem, vemos Mickey Rourke e Megan Fox transando. Você não está vendo um filme de John Waters (o mesmo de "Pink Flamingos"). Acredite! O roteiro nem possui tantos clichês. Sabe por quê? Consegue ser pior que isso. Não vou nem questionar as circunstâncias que Mitch Glazer escreveu este roteiro. Sem contar que ele escreveu o roteiro sozinho. Ou seja? Se ao menos ele tivesse chamado um cúmplice...

 
Conclusão geral
Roteiro, direção e atuação não são, definitivamente, o forte do filme. Se há algo que salva nele? Infelizmente, não. A direção de arte e fotografia são as piores possíveis. Como eu já citei, é perceptível ver em várias cenas que o filme foi gravado em um estúdio. Em uma das cena iniciais, no deserto, Nate está quase morrendo, mas nós espectadores vemos que a areia é meio duvidosa e as pedras acabam entregando tudo. Sério que colocaram aquelas rochas falsas dignas do seriado do "Chapolin"? Sério mesmo? Recuso-me a acreditar que tiveram esta cara de pau. Os efeitos especiais são desastrosos. As asas usadas pela Megan Fox no filme variam de tamanho. Como as asas podem ser pequenas em uma cena e na seguinte ser enorme? O filme não consegue ter coerência nem com as asas da personagem principal. A trilha sonora também é algo inadmissível. Quer dizer, até consegue ser um ponto positivo, mas com tanta coisa ruim, fica até difícil perceber que o filme possui uma trilha sonora. O que há de bom? Pelo menos os cartazes de divulgação foram bem feitos. Mas, óbviamente, Passion play era um filme que nunca deveria ter saído do papel. Nunca. A única coisa válida do filme é que já temos um clássico trash dos anos 2000. Só isso mesmo.